O preço do barril de petróleo derreteu no mercado internacional nos últimos meses, mas não será traduzido em energia mais barata aos consumidores. As Termelétricas movidas a gás, óleo combustível e diesel, que formam hoje cerca de 15% do parque gerador do Brasil, devem ter redução de custos de até um terço com a commodity que está com metade do valor observado desde julho do ano passado - sem contar a oscilação cambial no período. Duas especificidades do setor elétrico brasileiro, entretanto, vão impedir esse repasse aos preços e deverão deixar o ganho com o insumo mais barato nos caixas das usinas térmicas.

A primeira especificidade é o teto máximo do Preço de Liquidação de Diferença (PLD) de R$ 388 o megawatt-hora, instaurado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e que entrou em vigor no primeiro dia do ano. O PLD é o parâmetro para as negociações no mercado de curto prazo. Como as Termelétricas são mais caras, a maioria dessas geradoras está produzindo energia bem acima do preço máximo. O efeito do petróleo mais barato, se houver, será o de um repasse menor de encargos na conta do consumidor, caso o novo patamar na faixa de US$ 50 a US$ 60 se estenda ao longo de 2015. O incremento nos encargos setoriais foi a forma encontrada pelo setor para sanar a diferença entre o PLD e o custo de geração.

A segundo especificidade, e principal, é o nível dos reservatórios das Hidrelétricas. O sistema Sudeste/Centro-Oeste, o maior do país, estava ontem com os reservatórios em 19,5% da capacidade total. O nível baixo levou o Operador Nacional do Sistema (ONS) a trabalhar com a perspectiva de acionamento máximo das Termelétricas por todo este ano. Como o sistema estabelece preços médios para a energia para equalizar os custos discrepantes de geração por insumos, o comportamento da energia oriunda de fontes hídricas determina a tendência dos preços. "O petróleo pode cair a US$ 20 que não vai abaixar os preços gerais da energia. No longo prazo, o impacto maior é o de chuvas e nível de reservatórios", afirma José Maurício Carvalho, diretor da comercializadora Ecom Energia.

O último informe do ONS com os preços desta semana mostra que a perspectiva para janeiro despencou. O cenário mais otimista dos meteorologistas para o sistema Sudeste/Centro-Oeste prevê chuvas em 67% da média histórica para o mês. O mais pessimista, 46%. Com isso, o operador diminuiu a afluência dos reservatórios - menos água descendo as barragens leva a menos energia disponível para ser despachada, o que aumenta o custo total - e fixou em R$ 925 o custo de operação necessário para a geração de um megawatt-hora adicional no sistema energético. O Custo Marginal de Operação subiu 84% na última semana.

O presidente da consultoria de energia Thymos, João Carlos Mello, lembra que apesar de o fornecimento de gás e derivados de petróleo ser feito pela Petrobras, que determina os preços no mercado interno de acordo com orientações do governo, os contratos do setor são atrelados à flutuação das cotações internacionais. Para as Termelétricas, principalmente aquelas movidas a gás natural, o insumo é responsável por cerca de dois terços do custo de geração. O gás é responsável hoje por cerca de 12% da matriz energética brasileira. Diesel e óleo combustível somam outros 3%.

Esses eventuais benefícios às térmicas, no entanto, complementa Mello, só serão apropriados pelas empresas e transformados em preço menor aos seus consumidores caso a cotação do barril de petróleo se estabilize no patamar atual, metade do observado em julho de 2014. No curto e médio prazos, a folga no balanço com o insumo mais barato deve ir para aumentar a geração de caixa, ou para a recomposição de margens.

O petróleo mais barato pode trazer benefícios ao sistema energético apenas no longo prazo, com a viabilização de mais usinas movidas a gás. "No curto prazo, isso não vai para o sistema. Além de a precificação ser pela média total de várias fontes, também tem o problema da oferta do gás. Não temos esse insumo em abundância no curto prazo. Leva um tempo até disponibilizar essas explorações para atender uma demanda acima da atual que o preço possibilitaria", afirma Xisto Vieira, presidente da Associação Brasileira de GeradorasTermelétricas (Abraget).

Vieira diz acreditar que o recuo do petróleo tem mais a ver com fatores conjunturais do que com estruturais. Movimentos conjunturais são mais voláteis, o que torna mais incerta a permanência do petróleo mais barato. Estruturais refletem mais a situação de demanda e oferta, o que traz maior perspectiva de permanência no novo patamar de preços. Ele também calcula que a desvalorização cambial ocorrida no segundo semestre, concomitante ao recuo da commodity, amortece uma parte do ganho obtido com a queda dos preços do setor.

Na teoria, o gás mais barato, principalmente pelo seu peso na matriz, resultaria em alguma redução na conta de energia. José Maurício de Carvalho coloca como responsáveis o céu e o baixo nível dos reservatórios os responsáveis pela teoria não virar realidade. "Não fossem asHidrelétricas tão pressionadas e a estiagem prolongada iríamos sentir a queda do petróleo", diz para depois dar uma perspectiva ruim paras as próximas semanas.

Como está chovendo bem abaixo da média em um dos meses mais chuvosos do ano e não há perspectiva de melhora nos próximos dias, a Ecom trata janeiro como "um mês perdido". "Agora devemos entrar em fevereiro com o nível dos reservatórios na metade do que deveria estar em uma situação normal", afirma em referência aos níveis observados até dois anos atrás.

 

Consumo no sistema elétrico do país aumenta 3,7% em 2014, aponta ONS

 

O consumo de energia no sistema brasileiro alcançou 65.602 megawatts (MW) médios em dezembro do ano passado, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O montante é 2,1% superior ao apurado em igual período de 2013. Em relação a novembro, porém, o consumo de energia caiu 1,3%.

No resultado consolidado de 2014, o consumo de energia no sistema brasileiro foi 3,7% maior que o apurado em 2013. A taxa de crescimento é igual à obtida em 2013, ante o ano anterior. “A carga [consumo mais perdas elétricas] do SIN [Sistema Interligado Nacional] tem sido influenciada pelo modesto desempenho da carga industrial do subsistema Sudeste. Além disso, vários ramos industriais concederam férias coletivas no fim de ano para reequilibrar os estoques, elevados em vários setores, ainda que mais perceptíveis na cadeia automobilística”, afirmou o ONS, em relatório divulgado ontem. O Sudeste é responsável pelo consumo de 60% da carga industrial do SIN. O operador citou que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria recuou 1,4 ponto percentual, entre novembro e dezembro, passando de 82,7% para 81,3%, atingindo o menor patamar desde agosto de 2009, quando o nível de utilização foi de 81,2%. Assim, as fábricas estavam mais ociosas no período. O ONS também destacou que o Índice de Confiança da Indústria (ICI), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 1,5% entre novembro e dezembro de 2014, passando de 85,6 pontos para 84,3 pontos.

Com relação ao subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o consumo total de energia em dezembro ficou em 38.653 MW médios, com alta de 2% frente igual período do ano passado. Na comparação com o mês exatamente anterior, porém, o consumo recuou 1,2%. No consolidado de 2014, o consumo nas duas regiões cresceu 2,5%. “O desempenho da carga desse subsistema [Sudeste/Centro-Oeste] vem sendo influenciado pelo comportamento da indústria, que apresenta nível de produção reduzido em relação ao mesmo período do ano anterior”, afirma o relatório do operador, referindo-se aos dados de dezembro.

No Sul, o consumo de energia alcançou 11.478 MW médios em dezembro, com alta de 2,5% frente o último mês de 2013. Na comparação com novembro de 2014, o consumo apresentou queda de 1,6%. No consolidado de 2014, o consumo cresceu 5%. O crescimento do consumo de energia em 2014 na região Nordeste foi de 3,4% em comparação com o ano anterior. Apenas em dezembro, o consumo alcançou 10.385 MW médios, com alta de 4,5% ante dezembro de 2013. Na comparação com o mês exatamente anterior, o consumo recuou 1%. Na região Norte, o consumo de energia em dezembro totalizou 5.086 MW médios, com queda de 3,1% em relação a igual período do ano passado. Na comparação com novembro de 2014, o consumo também apresentou queda, de 2%. No consolidado de 2014, porém, o consumo de energia no norte avançou 11,3% em comparação com o ano anterior.