Se a provável saída da senadora Marta Suplicy (SP) do PT se concretizar, o partido estuda pedir o mandato da petista no Senado. As críticas públicas feitas pela senadora ao governo federal, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT foram vistas dentro da legenda como uma forma de Marta tentar evitar sua cassação, ao alegar divergência ideológica com o PT. A direção nacional petista se reunirá no início de fevereiro, em Belo Horizonte, para debater o problema. A senadora poderá usar em defesa de seu mandato um parecer da Procuradoria-Geral da República, de 2013, que defendeu a tese de que as regras da fidelidade partidária não podem ser aplicadas aos casos de senadores que mudaram de partido. A manifestação da procuradoria foi feita ao analisar a migração do PSD para o PMDB da senadora Katia Abreu (TO), atual ministra da Agricultura. Marta ainda está negociando a filiação a outro partido, mas petistas analisam que sua saída do PT será feita em breve. No mês passado, o presidente nacional do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, reuniu-se duas vezes com a petista para oferecer legenda para uma eventual candidatura à Prefeitura de São Paulo, em 2016. A candidatura teria apoio da Frente de Oposição, bloco composto na Câmara pelo Solidariedade, PSB, PPS e PV. Petistas veem poucas possibilidades de filiação para Marta, já que dificilmente a senadora iria para a um partido da base do governo federal, como o PR e PDT, depois dos ataques feitos à Dilma. As recentes críticas feitas por Marta contra petistas, intensificadas em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", foram muito atacadas dentro do PT, mas alguns dirigentes petistas defenderam a manutenção do contato com a ex-prefeita, para tentar costurar um acordo em um eventual segundo turno na disputa pela prefeitura paulistana. A provável candidatura de Marta em 2016 tem sido vista com receio por apoiadores do prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), que terá de disputar não só com a senadora, mas também com a eventual candidatura do deputado federal Celso Russomanno (PRB) o mesmo eleitorado, concentrado na periferia. Marta e Russomanno são muito populares nas regiões mais carentes. Petistas próximos ao ex-presidente Lula, no entanto, apontaram a alta rejeição de Marta, registrada nas disputas de 2004 e 2008, quando a ex-prefeita perdeu as eleições, e lembraram da força da máquina federal e municipal contra a eventual candidatura. "Quando Marta erra, ela erra no atacado. Vai ser uma disputa desastrosa para ela, como foi em 2004 e 2008", disse uma liderança do PT paulista. Com vistas à reeleição, Haddad reforçou as costuras políticas e dará início à reforma do secretariado, dando mais espaço ao PMDB e PSD para garantir o apoio dos dois partidos em 2016. Os acordos enterram supostas conversas de Marta com os dois partidos, que estavam até então entre as legendas cotadas para abrigar a ex-prefeita. Adversário de Haddad em 2012, Gabriel Chalita (PMDB) deve ser empossado secretário de Educação nesta semana. O convite foi feito pelo prefeito depois de articulações conduzidas pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ontem, Chalita se reuniu com a bancada do PMDB na Câmara Municipal de São Paulo antes de bater o martelo. O pemedebista substituirá Cesar Callegari com o desafio de acelerar a construção de creches e reduzir o déficit de vagas no município (a fila por vaga atingiu 180 mil no fim de 2014). O problema foi um dos temas que marcou a disputa eleitoral de 2012 e deve voltar à tona no ano que vem. Por isso, a prefeitura deve intensificar em ações para construir bandeiras na periferia. A reforma do secretariado deve ampliar a participação do PMDB no governo Haddad. Além da Educação, o partido deve assumir o comando da Controladoria-Geral do Município. Atual secretário de Segurança Urbana, o promotor Roberto Porto (PMDB), será o substituto de Mário Spinelli, que deixa o cargo para assumir a mesma função no governo de Minas Gerais. O PMDB continuará à frente da Segurança. Os vereadores Ricardo Nunes, líder da bancada na Câmara, e Rubens Calvo estão entre os cotados. Sob o comando de Luciana Temer e Marianne Pinotti, o partido ainda controla, respectivamente, as secretarias de Assistência Social e da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. De olho em 2016, o prefeito ainda convidou o vereador Marco Aurélio Cunha (PSD) para a Secretaria de Turismo. O parlamentar disse que vai tomar uma decisão sobre o assunto dentro de dez dias, quando retornar de viagem. Cunha, porém, ressaltou que a entrada no governo não significará um apoio do PSD à reeleição do petista. O cargo também interessa ao deputado federal Goulart (PSD).
Juca é cumprimentado por Mercadante: "Me senti agredido com a irresponsabilidade. Não tenho um deslize sequer" Alvo de críticas e denúncias de sua antecessora no cargo, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), o novo ministro da Cultura, Juca Ferreira (PT), afirmou ontem, ao tomar posse, que se sentiu "agredido" pela petista, mas que o alvo principal da correligionária não era ele, mas o PT e os grupos que apoiaram sua indicação ao cargo. "Não tenho um deslize sequer", disse. O mal estar foi criado por Marta que, em entrevista ao jornal "Estado de S. Paulo" um dia antes da posse, classificou como ruim a gestão de Ferreira no Ministério da Cultura e disse que tinha encaminhado à Controladoria Geral da União (CGU) relatório com os "desmandos" ocorridos durante a gestão anterior do ministro envolvendo entidade que prestava serviços à Cinemateca Brasileira. Em nota, a CGU confirmou ontem a abertura de um processo administrativo em abril de 2013, que ainda está em andamento, para apurar a parceria firmada em 2008 com a Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC). Ao cumprir recomendação da Controladoria, a então ministra Marta enviou em janeiro de 2013 uma análise que indicava "irregularidades que poderiam alcançar autoridades ou ex-dirigentes" do ministério. Petistas e a classe artística, que compareceu em peso à posse, saíram em defesa do ministro, que respondeu as críticas de Marta após discursar. "Me senti agredido com a irresponsabilidade como ela tratou uma pessoa honesta, que tem quase 50 anos de vida pública e não tem um deslize sequer", afirmou. "Não é comigo o conflito. A crítica é porque fui mais aplaudido do que ela num evento cultural. Paciência, não posso ser punido pela popularidade que vocês viram. São pessoas que reconhecem o trabalho que foi feito no governo do presidente Lula e que veem em mim a possibilidade de que essa política continue. Não posso pagar por isso", completou. Na opinião do novo ministro, os ataques não foram dirigidos a ele. "Sou um alvo eventual. Ela quis atirar em Deus e acabou acertando no padre de uma paróquia", completou. Na entrevista, Marta, que deseja disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016, fez duras críticas à presidente Dilma Rousseff, disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estimulava articulações para concorrer no lugar de Dilma no ano passado e cometeu algumas inconsistências históricas. Disse, por exemplo, que quando Lula escolheu Fernando Haddad (PT) para concorrer à Prefeitura de São Paulo, avisou ao ex-presidente que pediria demissão do ministério "porque discordava da política econômica e da condução do País". Na verdade, Marta foi indicada ministra apenas em setembro de 2012, em troca de apoiar Haddad na eleição municipal. Na gestão da Cultura, a posse do ministro foi vista por representantes do setor como uma volta das políticas executadas no governo Lula e desfeitas na gestão de Ana de Hollanda (2011-2012). Ferreira foi secretário-executivo de Gilberto Gil de 2003 a 2008 e assumiu a Pasta com a saída do cantor. "A marca da Ana de Holanda foi a criminalização do Cultura Viva e defesa do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Com a Marta já tinha amenizado, mas o Juca representa a esperança de reavivar os projetos que ficaram adormecidos", afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). "Não tem guinada nem ruptura, mas retomada da democratização da cultura", disse o deputado Nilmário Miranda (PT-MG). Ao discursar, Ferreira defendeu a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 150, de 2003, que amplia o orçamento da cultura do país ao estabelecer um percentual mínimo de gastos para União, Estados e municípios, mesmo com o maior rigor nas contas públicas. "Além do apoio da nossa presidente, tenho certeza de que a nova equipe econômica, apesar do ajuste fiscal que a desafia, será sensível a essa necessidade", disse. O ministro declarou que pretende aprimorar o sistema de financiamento do setor e que "a cultura brasileira não pode ficar dependente dos departamentos de marketing das grandes corporações". Prometeu trabalhar para aprovar o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura), que modifica a distribuição de recursos da Lei Rouanet. Ferreira se comprometeu a garantir os direitos autorais de artistas mesmo com as mudanças tecnológicas. "Retomaremos a agenda de democratização do direito autoral. O ambiente digital se desenvolve e se transforma rapidamente, e nossas leis devem acompanhar as novas práticas sociais que se transformam. O ambiente digital pode, sim, ser regulado de forma que os criadores tenham novas formas de remuneração do seu trabalho criativo", afirmou, ao defender, ainda, a expansão do vale-cultura, benefício dado por empresas a trabalhadores.