Apenas um dia após sua posse, o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, enfrentou a primeira má notícia: a produção industrial caiu 0,7% em novembro. O fraco desempenho superou as expectativas mais pessimistas e deve causar a revisão das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB). No acumulado do ano e também em 12 meses, a queda é de 3,2%. Tudo indica que a indústria fechará 2014 no mesmo patamar de quatro anos atrás.
Desde o início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, a indústria brasileira registra mais baixas do que altas, sem conseguir manter uma trajetória consistente, e perde espaço no PIB. Todos os estímulos lançados pelo governo, de desonerações tributárias até a redução dos juros e o aumento da oferta de crédito, não tiveram efeito visível. Em 2011, a produção cresceu 0,3% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); em 2012, mergulhou 2,5%, queda compensada apenas parcialmente no ano seguinte pelo crescimento de 1,2%. Em 2014, porém, voltou a cair, com problemas em mais de 60% dos produtos acompanhados.
O ano passado já começou com estoques elevados, que continuaram aumentando ao longo dos meses. O consumo não deslanchou, contido inicialmente pelos feriados da Copa do Mundo e, depois, pelo aumento do endividamento das pessoas, pela redução da oferta de crédito e pelo encarecimento do dinheiro em consequência da elevação dos juros. Também não ajudou a queda das exportações de manufaturados, prejudicadas pela retração da Argentina e outros principais mercados para esses produtos e pela baixa competitividade do produto brasileiro.
O cenário afetou principalmente as vendas de bens de consumo e de veículos. A produção de bens de consumo duráveis caiu 2,1% de outubro para novembro e acumulou nos 11 primeiros meses do ano queda de 9,1%; a de bens de capital caiu 8,8% de janeiro a novembro e a de bens intermediários recuou 2,9%; enquanto a de bens de consumo semiduráveis e não duráveis ficou praticamente estabilizada.
O desempenho ruim foi disseminado. A produção de automóveis despencou 15%. A de bens de capital para equipamentos de transporte recuou 16,5%; produtos de metal registraram queda de 11,1%; a metalurgia, de 7,1%; máquinas e equipamentos, de 5,6%; máquinas, aparelhos e materiais elétricos, de 7,5%; produtos de borracha e de material plástico, de 4,2%; e produtos alimentícios, de 0,9%. Entre as sete atividades que aumentaram a produção estão as indústrias extrativas (5,4%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,7%).
A elevação do IPI dos automóveis animou o movimento nas revendas de veículos antes da entrada em vigor da nova tributação. Mas o acúmulo de mercadorias estocadas deve evitar que o eventual aumento das vendas leve à melhoria significativa do desempenho das montadoras, que começaram o ano com demissões. O fim das desonerações, o aumento dos custos da energia e o encarecimento das linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social são outros fatores negativos para a indústria.
Mas a principal preocupação do setor é com o aperto fiscal, que deve afetar o nível de atividade. O novo ministro Armando Monteiro reconhece que o ajuste é necessário, mas não pode ter “efeito paralisante” sobre a economia, sob o risco de inibir o crescimento.
Monteiro, que comandou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 2002 a 2006, defendeu o financiamento para a renovação de máquinas e equipamentos das pequenas e médias empresas a juros favorecidos, e conta com o aumento das exportações, estimulado pela desvalorização cambial, para animar a indústria. Ele prometeu divulgar em breve um “arrojado” plano de exportação, com medidas para superar entraves no financiamento, garantias, desonerações e outros estímulos, como o Reintegra, programa que devolve ao exportador parte dos impostos pagos.
Nos bancos e consultorias, a perspectiva de que o ajuste fiscal leve a uma retomada da confiança, e o aumento da produção de petróleo e do refino justificam a previsão de crescimento ligeiramente superior a 1% da indústria neste ano. O ministro não parece tão seguro disso e deixou sua preocupação evidente, mesmo tendo evitado confronto direto com as novas diretrizes econômicas.