Assediado em diversas frentes e sob risco de divisão interna, a direção do PMDB decidiu fazer uma declaração formal de apoio a seus candidatos às presidências da Câmara e do Senado, em reunião da Executiva Nacional do partido marcada para hoje, em Brasília. A cúpula pemedebista julgou necessário fazer a declaração - o que não é usual - por entender que existe um movimento deliberado do Palácio do Planalto e do PT com o objetivo de "explodir" o PMDB.
 
Nos últimos dias, dirigentes pemedebistas receberam relatos sobre ação de ministros e governadores aliados do Planalto em favor da criação do PL e do MB (Muda Brasil), partidos articulados, respectivamente, pelo ministro Gilberto Kassab (Cidades) e pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR). Os dois buscam, sobretudo, adesões do PMDB e da oposição. A articulação do Planalto pela candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) a presidente da Câmara também é vista como afronta ao PMDB, cujo líder, Eduardo Cunha (RJ), é favorito à disputa.
 
Em outra frente, o PMDB sofre assédio da oposição no Senado, onde PSDB e DEM, aproveitando-se de divisões internas da bancada pemedebista, tentam articular uma candidatura dissidente contra o atual presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
 
A reunião de hoje foi articulada pelo vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer. Ele relatou as apreensões do partido aos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações) na noite de segunda-feira. Ontem, reuniu-se com líderes do PMDB para acertar detalhes do encontro de hoje.
 
A Executiva Nacional deve declarar apoio aos candidatos "escolhidos" pelas bancadas. No caso da Câmara, a decisão já foi tomada, com o lançamento de Cunha. No Senado, embora Renan não seja consenso nem mesmo no PMDB, ele é o que agrega mais votos entre os senadores (18), especialmente pela habilidade de acomodar interesses.
 
Especula-se nos bastidores, no entanto, que a candidatura à reeleição pode ser ameaçada por envolvimento do seu nome no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Polícia Federal na operação "Lava-Jato". A aliados, diz ter preocupação "zero", mas estica a corda ao máximo e pretende se lançar apenas na véspera da eleição. Esse vácuo possibilita especulações e estimula postulações. O próprio grupo de Renan cogita opções, caso ele fique inviabilizado.
 
Além do ataque especulativo de Kassab e Valdemar, a cúpula do PMDB, especialmente Temer, está sob pressão das bancadas, sobretudo as mais insatisfeitas com a reforma ministerial. Os pemedebistas temem que o imobilismo da direção partidária os leve a perder não só uma das Casas do Congresso, como espaço no segundo escalão do governo, quando esses cargos forem preenchidos.
"Estamos correndo atrás do prejuízo", disse o deputado Danilo Forte (CE), partidário da candidatura Eduardo Cunha, na Câmara e crítico da falta de reação da cúpula do PMDB às ações do Planalto e de governadores em favor da candidatura de Chinaglia. "Queremos manter a unidade do partido e eleger um deputado, Eduardo Cunha, e um senador, Renan Calheiros, para a Câmara e o Senado", disse o ex-ministro da Aviação Civil Moreira Franco.
 
Diante da ofensiva do PT, o PMDB também tenta se articular com setores do partido de Dilma que perderam espaço na reforma ministerial, caso da corrente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alijada do Planalto.
 
Contrária à reeleição de Renan, mas disposta a respeitar a regra da proporcionalidade - segundo a qual cabe ao PMDB presidir o Senado-, a oposição estimula pemedebistas mais independentes a se lançar para a presidência. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) conversou ontem, no Rio de Janeiro, com Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que coordenou sua campanha à Presidência da República no Espírito Santo. Ferraço agradeceu a manifestação de Aécio, colocando seu nome em condições de presidir a Casa, e disse que vai conversar com toda a bancada, a começar com o líder, Eunício Oliveira (CE).
 
Além de Ferraço, Luiz Henrique (PMDB-SC), Waldemir Moka (PMDB-MS), Romero Jucá (PMDB-RR) e o próprio Eunício foram procurados por lideranças da oposição e até do PT com a sugestão de disputarem. Em jogo, não está apenas a presidência da Casa. Há cerca de 11 posições no Senado às quais o PMDB tem direito de ocupar, pelo tamanho da bancada. Certo de que senadores querem é se fortalecer para ocupar funções importantes, o grupo de Renan dedica-se a negociar as vagas.
 
A eleição no Senado será discutida pelos líderes do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), e do DEM, José Agripino (RN), nesta semana, em Paris. Defendem um nome mais independente do Planalto, mas avaliam que apenas alguém de partido aliado do governo poderia garantir a vitória. Cabe ao maior partido a indicação, mas o candidato precisa ser eleito no plenário. A oposição não tem votos. Setores do PT, por sua vez, gostariam de alguém mais confiável ao palácio no comando do Legislativo.