A presidente da Petrobras, Graça Foster, entrevistou até no fim de semana os candidatos para a diretoria de Governança, Risco e Conformidade e o conselho de administração escolheu o engenheiro João Adalberto Elek Junior. O executivo soube ontem à tarde que seu nome tinha sido escolhido. "Sei pouco e estou muito honrado e motivado", disse em curta entrevista ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

Depois de trabalhar 20 anos no Citibank, João Elek, como é conhecido no mercado, foi o principal executivo Telmex no Brasil, de onde saiu para ser diretor financeiro da Net Serviços quando o bilionário Carlos Slim assumiu o controle da companhia. Depois foi diretor da Fibria Celulose e nos últimos dois anos se dedicou a uma empresa de consultoria criada por ele. Com a mudança para a área de óleo e gás, Elek considera normal "se reinventar" para o próximo setor.

"Entendo que a Petrobras é uma empresa gigantesca e complexa. Acho que será interessante enfrentar o passado e corrigir para que não se repitam", disse.

Elek tem 56 anos e se formou em engenharia eletrônica na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Tem ainda MBA em Planejamento de Marketing pela COPPE-AD da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós graduação feita na Columbia Business School Mergers and Acquisitions. O mandato do novo diretor tem validade de três anos e pode ser renovado. A nova diretoria, que é a sétima da estatal e vai substituir a de Internacional, é a única que exige mestrado. Pelo regimento interno da Petrobras o ocupante só pode ser afastado com o voto de pelo menos um dos conselheiros eleitos pelos acionistas minoritários.

A Korn Ferry, contratada pela Petrobras, selecionou inicialmente mais de 50 candidatos, reduzindo depois a lista para 30, dez, cinco e por fim três nomes apresentados ontem para os membros do conselho de administração da estatal.

Graça, que é a única integrante da diretoria executiva com assento no conselho, falou com os candidatos sobre as expectativas com relação ao novo cargo. Elek deverá ajudar a companhia a lidar com a Securities and Exchange Commission (SEC) e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos no assunto mais espinhoso da história da estatal. Será sua diretoria que vai garantir a aderência da companhia a leis, normas, padrões e regulamentos, internos e externos.

Silvio Sinedino, representante dos trabalhadores no conselho de administração, considerou a escolha de um diretor a partir de um processo seletivo como "um marco" para a Petrobras. E acha que prática deveria ser estendida para as demais indicações de gerentes executivos e diretores.

"Pela primeira vez houve um diretor selecionado, e não indicado politicamente. Deveríamos aproveitar esse gancho para defender que a Petrobras passe a adotar processos seletivos também para a escolha de gerentes executivos e novos diretores", disse o conselheiro, que participou ontem da posse da nova diretoria da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet).

O novo diretor vai trabalhar em uma empresa que vive um paradoxo, já que os números operacionais começam a crescer enquanto a situação financeira preocupa. José Antonio de Figueiredo, diretor de Engenharia da estatal, desabafou no mês passado que parecem existir duas realidades: a da Petrobras que está finalmente "entregando" mais produção e mais capacidade de refino, e a que está envolvida em um escândalo de corrupção sem precedentes na história do mercado de capitais mundial.

"Às vezes eu falo para a diretoria que são duas realidades. Essa que estamos conversando aqui, que é a Lava-Jato e a realidade dos estaleiros", disse Figueiredo no encontro da diretoria com jornalistas recentemente.

A estatal tem várias encomendas em estaleiros nacionais sob risco de não serem concluídas devido ao envolvimento das empresas com a Operação Lava-Jato. No fim do ano anunciou o bloqueio cautelar de 23 empresas que tem contratos importantes.

A Petrobras não tem balanço auditado desde o segundo trimestre de 2014 e está fora do mercado internacional de dívida, o que a impede de captar para se financiar e investir.

Como resultado de um esforço e organização da área de exploração e produção desde a chegada de Graça Foster e José Formigli, diretor da área, a Petrobras conseguiu aumentar em 5,3% a produção de petróleo no ano passado, e para este ano alguns analistas esperam entre 10% e 13% de aumento. Para enfrentar os danos à sua imagem, a estatal tem se apressado a divulgar boas notícias. Foi oportunista ao divulgar que já produz mais petróleo do que a ExxonMobil, maior produtora do mundo entre as de capital aberto. Deixou de incluir a produção de gás que, somada à de petróleo, mostra uma diferença, a favor da americana, de 1,2 milhão em barris equivalentes.

A Petrobras de fato aumentou a produção. Foram 2,65 milhões de BOE por dia na média de 2014, enquanto a Exxon produziu 3,8 milhões de BOE/dia nos primeiros nove meses de 2014 (o número final sai em fevereiro). Incluído o gás a americana produz 1,2 milhão de barris equivalentes mais que a Petrobras. A diferença supera toda a produção da colombiana Ecopetrol, que 754,8 mil BOE/dia na média até setembro de 2014.

Outro impulso foi a conclusão da primeira fase da Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco, em dezembro. A produção de etanol cresceu 17%, e as vendas de combustíveis da BR Distribuidora aumentaram 6,9%. Mas se a queda do preço do petróleo é um revés para as companhias do setor que derruba receitas de países como Venezuela, Colômbia, México e Rússia, chegou em um péssimo momento para a gigante brasileira. (Colaborou André Ramalho)