Com dificuldades nas contas, os novos governadores preparam as demandas a serem levadas à presidente Dilma Rousseff no início dos seus mandatos, mas a perspectiva de agravamento das dificuldades econômicas do país em 2015 gera disposição de entendimento e não de confronto com o governo federal. Até governadores de oposição avaliam que o momento exige diálogo e cooperação em torno de uma pauta comum, que ajude o país a crescer.

"Se depender de mim, estarei pronto a colaborar, desejando sucesso para a gestão [de Dilma] e resultados melhores para a população. Há uma apreensão enorme em todo o país por conta da desaceleração dos empregos, da economia de maneira geral. Isso traz consequências muito danosas para os Estados", afirma o governador Marconi Perillo (PSDB), reeleito em Goiás.

Paulo Hartung (PMDB), eleito no Espírito Santo em coligação que apoiou o tucano Aécio Neves à Presidência da República, defende uma articulação nacional e uma agenda comum aos 27 governadores e ao Palácio do Planalto que possibilite choque de austeridade fiscal no país, combate rígido à inflação e a retomada da modernização do país.

"Todos precisam que o país reencontre seu caminho. Se tiver bom diálogo, boa articulação política, e se trocar a arrogância e a visão de cima para baixo [do governo federal em relação aos Estados] por um olhar de articulação e parceria, é jogo de soma positiva. Agora, se não tiver articulação e cada um ficar cuidando de si, a resultante é soma negativa", diz Hartung.

Rodrigo Rollemberg (PSB), governador do Distrito Federal que vai herdar do atual governo (do PT) um rombo de R$ 3,8 bilhões, segundo cálculos de sua equipe, quer manter uma "relação colaborativa" com Dilma e defende que seu partido tenha posição de "independência" em relação ao Planalto e não de oposição. O PSB lançou candidato próprio a presidente - Eduardo Campos e, após sua morte, Marina Silva. No segundo turno, apoiou Aécio.

"Nós queremos uma parceria profunda e a melhor relação institucional possível com o governo federal. O momento político e econômico do Brasil, de dificuldades, exige que nós nos unamos em torno de objetivos comuns. A disputa política é legítima, mas existem assuntos que estão acima dela, de interesse do país e dos Estados. A responsabilidade manda que nos unamos para enfrentar e superar esses desafios."

Uma reivindicação comum à maioria dos chefes dos Executivos estaduais é a aprovação de novo pacto federativo, que resulte em menor concentração de receita pelo governo federal e uma distribuição mais equilibrada, para que Estados e municípios voltem a investir.

A pressão maior sobre Dilma deverá vir dos representantes dos Estados do Nordeste, mesmo aqueles aliados do governo. Defendem a unificação das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a convalidação dos incentivos fiscais concedidos pelos Estados sem autorização do Confaz.

O novo governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirma que a articulação dos representantes dos Estados do Nordeste está avançada. Além da "Carta do Nordeste", contendo suas demandas, estão previstas reuniões de cada governador com suas respectivas bancadas de deputados federais e senadores em fevereiro, para tratar das reivindicações da região.

"É da maior urgência aprovar essa convalidação e discutir o fundo de desenvolvimento das regiões periféricas do país, a exemplo da região Nordeste. É um ano de dificuldade. Aqui na Bahia e outros governadores da região já estão apertando os cintos, redefinindo e cortando o que pode ser cortado", afirma Costa.

Segundo Costa, o atual modelo de concentração de recursos na União, com posterior redistribuição aos entes da federação, é caro, leva ao desperdício de recursos e à burocracia no caminho do dinheiro até o destino final. E torna os Estados dependentes do Palácio do Planalto, especialmente os do Nordeste. "O governo da Bahia não tem recursos próprios para investimento em 2015. Não é força de expressão. É zero mesmo", diz.

Marconi Perillo afirma que os governadores de oposição não se aproveitarão da crise política causada pelo escândalo na Petrobras, que fragiliza Dilma, para fazerem valer suas reivindicações. "Jamais usaria a crise política como pressão. Vou atuar no campo administrativo."

O tucano defende "articulação conjunta" dos governadores com o governo federal para aprovação de novo pacto federativo e diz que vai procurar a presidente para que busquem soluções conjuntas para os problemas do país. Como a maioria dos colegas, o goiano quer acabar com a concentração de mais de 70% dos recursos do país pela União, "que deixa Estados e municípios sem condições de atender às demandas da população".

Além disso, Perillo cobra que a União assuma definitivamente a coordenação de uma "política nacional para a segurança pública". Considera importante a cobrança da Cide (contribuição sobre o preço dos combustíveis), para que os Estados tenham recursos para a conservação das estradas. Mas é contra a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), imposto extinto em 2007 pelo Senado, com apoio do PSDB.

Paulo Hartung, opositor na eleição, apoiou a nova equipe econômica anunciada por Dilma para o segundo mandato, que considera capaz de enfrentar a "desorganização fiscal" e avançar na "agenda modernizadora" do país, com ênfase na competitividade e produtividade do país. Hartung defende "relação sadia e transparente" com o governo federal em torno dessa pauta, que tem de incluir modernização da infraestrutura logística e da máquina pública.

Na opinião do capixaba, os 27 governadores devem colocar essa agenda comum acima das pautas locais. "Estamos indo para uma época de vacas magras nos três níveis de governo. Precisamos dialogar em cima desse quadro real. Para sair dessa situação, precisamos de juízo para fazer o que precisa ser feito", diz.

O governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mantém boa relação com Dilma. A expectativa dos aliados é que a crise torne "a relação mais cordial e convergente". No entanto, recentemente Alckmin defendeu o afastamento da diretoria da Petrobras, por causa do escândalo investigado pela Operação "Lava-Jato", da Polícia Federal. Para aliados, foi um "balizamento da relação": um dos presidenciáveis do PSDB, o tucano não quer confronto, mas não será omisso na crítica ao governo.