Três dias após deflagrada a nona fase da Operação Lava-Jato, o empresário e engenheiro naval Mário Frederico Mendonça Goes, suspeito de ser mais um dos operadores do esquema de corrupção que sangrava a Petrobras, entregou-se ontem na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Goes estava foragido desde quinta-feira, quando a PF cumpriu 62 mandados judiciais: um de prisão preventiva, três de prisão temporária, 18 de condução coercitiva e 40 de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina. Batizada de My Way, a nova etapa de investigação também apreendeu R$ 3,18 milhões em espécie em casas, empresas e escritórios das pessoas investigadas. 

Mário Goes aparece nos depoimentos do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco - que fez um acordo de delação premiada com a Justiça - e nas informações prestadas espontaneamente por Cintia Provesi Francisco, ex-funcionária da Arxo Industrial. Os sócios da empresa foram presos na quinta-feira, acusados de pagar propina à BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Dos R$ 3,18 milhões apreendidos pela PF na semana passada, grande parte estava escondida na Arxo Industrial, em Santa Catarina. A companhia fechou contrato de R$ 85 milhões com a BR Distribuidora para fornecer 80 caminhões de abastecimento de aviões. 

Delegados e procuradores suspeitam de que a empresa pagou propina em troca de informações privilegiadas para fechar contratos com a estatal. Para o Ministério Público Federal, Mário Goes usava os mesmos mecanismos do doleiro Alberto Youssef, preso desde março pela Lava-Jato, e do empresário Fernando Baiano, que pagavam propina de empresas privadas para agentes públicos da Petrobras a fim de obter informações privilegiadas. Pelo depoimento de Barusco, Goes fazia reuniões chamadas de "encontro de contas" para a conferência, contrato a contrato, dos pagamentos de propina que já haviam sido feitos, e os que estavam pendentes. 

No acordo de colaboração, Barusco contou manter uma amizade de pelo menos 15 anos com o engenheiro naval. Além das citações de Barusco, o nome de Mário Goes havia sido mencionado nas declarações do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, acusado de transportar dinheiro para Youssef. O policial disse: "Levei dinheiro do Youssef para uma pessoa chamada Mário, que trabalha com navios off-shore. Entreguei para ele no escritório, próximo à UTC, e na casa dele, em São Conrado. Passando pela Rocinha, antes de sair de São Conrado, pega à direita na padaria. É um condomínio que fica à esquerda, na Casa 2. Fui lá umas duas vezes". 

Último foragido da nona fase da operação, Goes é um dos 11 operadores mencionados na planilha de Barusco e fazia parte da organização criminosa que desviava de 1% a 2% de propina da área de Gás e Energia da Petrobras. Além de 17 conduções coercitivas, a PF conseguiu prender o presidente da empresa Arxo, Gilson João Pereira, e um dos diretores da companhia, Sérgio Ambrósio Maçaneiro. João Gualberto Pereira Neto, sócio da Arxo, estava nos EUA, retornou ao Brasil e se apresentou no Paraná. 

Habeas corpus 

Amanhã, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julga o habeas corpus do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Na semana passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendou, em parecer enviado ao STF, que Duque volte à cadeia. Preso em 14 de novembro, Duque conseguiu ser liberado menos de um mês depois, em 6 de dezembro, devido a um habeas corpus liminar do ministro relator, Teori Zavascki. Apesar de nenhum outro detido ter conseguido a mesma liberação, o julgamento é esperado por advogados dos envolvidos na Lava-Jato. Caso Duque permaneça em liberdade, defensores dos empreiteiros vão preparar nova rodada de habeas corpus - até agora, todos os pedidos foram negados. 

Na quinta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, retorna de Washington, nos Estados Unidos, onde acompanha representantes da força-tarefa da investigação. As autoridades norte-americanas também apuram as denúncias de corrupção na estatal brasileira. Janot participará de reuniões na Agência Federal de Investigação (FBI) e na Organização dos Estados Americanos (OEA). Com o procurador longe do Brasil, dificilmente as denúncias contra políticos devem ser apresentadas ao STF nesta semana. 

"Levei dinheiro do Youssef para uma pessoa chamada Mário, que trabalha com navios off-shore. Entreguei para ele no escritório, próximo à UTC, e na casa dele, em São Conrado" 
Trecho do depoimento do policial federal Jayme Filho