Uma semana após o chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante, ter anunciado no Congresso Nacional que o governo iniciará as negociações para os cargos do segundo escalão, nenhum acordo com os partidos foi iniciado. Pior: o movimento feito pela presidente Dilma Rousseff ao indicar Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para dirigir a Petrobras preocupa os aliados. Além da avaliação quanto ao equívoco da escolha, a petista tomou a decisão de maneira isolada, sem consultar ninguém. "Foi um desastre. É inacreditável o que aconteceu", assustou-se um petista. 

A situação complica-se ainda mais porque os cargos do segundo escalão são encarados, neste momento, como uma maneira de recompor a articulação política e tentar fechar as fissuras decorrentes das eleições das mesas da Câmara e do Senado. A preocupação encontra-se especialmente em relação aos deputados, que deram uma mostra explícita de insatisfação com o Planalto ao despejar uma enxurrada de votos em Eduardo Cunha (PMDB-RJ). 

Comandando as duas Casas e com a capacidade de infernizar a vida do governo sempre que lhe for conveniente, o PMDB é a principal preocupação neste momento. Após a tática desastrosa da semana passada, quando Dilma Rousseff liberou seus ministros para tentar eleger o petista Arlindo Chinaglia (PT) para a presidência da Câmara, é prudente, segundo aliados, não travar outra batalha com os peemedebistas. 

Com isso, poucos apostam em mudanças de cargos no setor elétrico. A Eletrobras e a Eletronorte estão sob o comando, respectivamente, de afilhados dos ex-senadores José Sarney (AP) e Jader Barbalho (PA). O primeiro votou em Aécio Neves (PSDB-MG) na disputa presidencial, fez um artigo virulento criticando a construção das refinarias da Petrobras no Maranhão e, internamente, tem vaticinado que há uma "crise institucional a caminho". 

Jader Barbalho, amigo pessoal do ex-presidente Lula, emplacou o filho, Helder, no Ministério da Pesca, pasta importante para o Pará. "Eu duvido de que, neste momento de fragilidade e instabilidade política, a presidente tenha a coragem de mexer nos cargos do PMDB. Seria um suicídio político", alertou um integrante da base de apoio no Congresso. 

O que incomoda os aliados é o completo deserto de informações sobre o que pensa a presidente Dilma Rousseff. Até a tarde de quinta-feira, as apostas que circulavam no Planalto eram de que, nesta semana, Dilma começaria as nomeações para os bancos públicos. Miriam Belchior, ex-ministra do Planejamento, deve mesmo ir para a Caixa Econômica Federal, em substituição a Jorge Hereda. 

Mas a escolha de Bendine para a Petrobras antecipou um movimento e deixou outro em aberto. Interlocutores da presidente davam como praticamente certa a ida dele para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BDNES), no lugar de Luciano Coutinho. Curiosamente, ambos foram cotados para a Petrobras. Com a nomeação de Bendine para o comando da petroleira, Coutinho deve ganhar uma sobrevida no BNDES. Na sexta-feira, foi sacramentada a indicação de Alexandre Abreu para a presidência do Banco do Brasil. 

Nas demais divisões de cargos, a briga é intensa. O PP, que fechou apoio formal à eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, mesmo sendo titular do Ministério da Integração Nacional (Gilberto Occhi), negocia agora com o Planalto como vai se comportar nas votações da Câmara. O partido pressiona para assumir os comandos da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). As duas empresas eram controladas pelo PSB, mas foram redistribuídas ao PT após Eduardo Campos, morto em agosto de 2014, romper com o Planalto para candidatar-se a presidente da República. 

"Se a definição do primeiro escalão foi caótica, tenho medo dos remendos que serão feitos no segundo escalão", queixou-se um senador petista. "Dilma parou tudo para resolver a situação da Petrobras. Esperamos que ela saiba o que fazer daqui para a frente", afirmou outro aliado. 


Quantidade de partidos que integram a base governista

» Quem indica
Confira o loteamento partidário 

Eletrobras 
» Presidente Dilma 
» PMDB ligado ao ex-presidente José Sarney 
» Ex-ministro Walfrido dos Mares Guia 
» PT 

Eletronorte 
» PMDB ligado ao senador Jader Barbalho 
» PT ligado à senadora Ana Júlia Carepa 
» PT ligado à direção nacional 

Eletrosul 
» Presidente Dilma 
» PT 
» PMDB 
Chesf 
» PT 

Itaipu 
» PT e PDT 

Correios 
» PT 

Valec 
» PT e PR 

DNIT 
» PR e PT 

Conab 
» PTB 
» PMDB 
» PT 

DNOCs 
» PT 

Sudene e Sudeco 
» PROS 

Fundos de Pensão 
» PT