Título: O fator Eduardo Campos
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 10/07/2011, Política, p. 5

No último mês, o PT passou a observar mais atentamente todos os movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Embora faltem três anos para a largada da eleição de 2014, ele é visto pela cúpula petista como o único nome da base aliada capaz de ajudar a fazer água numa possível candidatura do partido que não seja a de Lula.

A desconfiança do comando petista em relação a Campos começou com uma entrevista em que ele pregava um novo modelo de política e estendia a mão aos tucanos, no início do ano. Há 11 dias, durante as homenageans aos 80 anos de idade do ex-presidente FHC, a desconfiança cresceu. O neto de Miguel Arraes compareceu como presidente do PSB e governador, acompanhado da mãe, a líder do PSB na Câmara, Ana Arraes (PE). Foi chamado à mesa principal.

O PT olhou de soslaio quando descobriu que deputados do PSDB, especialmente de Minas Gerais e São Paulo, se preparam para decarregar votos em Ana para ministra do Tribunal de Contas da União. Hoje haveria mais votos em favor dela no PSDB do que nos partidos da base.

O raciocínio do PT correu léguas ao saber desse apoio. Na avaliação dos petistas, o PMDB está hoje amarrado à candidatura de Dilma Rousseff porque tem a Vice-Presidência. Legendas menores não têm nomes para tentar carreira solo daqui a três anos, e as médias não parecem ter interesse nisso. Restaria apenas o PSB, que dispõe de nomes como Campos, o ex-deputado federal Ciro Gomes e o governador do Ceará, Cid Gomes. Além disso, não há a "amarração" com a vaga de vice.

Cientes de que nem Campos e nem Ciro têm base forte no Sudeste, os petistas fazem de tudo para evitar que eles consigam construir essa base. Um exemplo foi o estímulo às saídas do deputado Gabriel Chalita e do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, do PSB para o PMDB. "Eles tentam nos sufocar de qualquer jeito", comenta um integrante do PSB.

Divisão socialista Além desse movimento, os socialistas identificaram na formação do governo Dilma a tentativa de colocar em campos opostos Ciro e Campos. À época, o ex-deputado estava fora do Brasil e os ministros do partido, praticamente definidos. O Ministério da Integração Nacional ficaria para Pernambuco e o dos Portos seria indicado pelos parlamentares. De repente, Dilma chama o ex-deputado federal para a pasta e seu irmão Cid para a conversa que fecharia o Ministério. O nome da bancada estava entre os deputados Márcio França (SP) e Beto Albuquerque (RS), mas foi substituído por indicação dos irmãos Gomes. Os dois parlamentares terminaram secretários nos governos de seus respectivos estados.

Os socialistas ainda se aproximam dos tucanos onde é possível: além de São Paulo, estão juntos em Minas Gerais e no Paraná. A prova de fidelidade que o PT deseja dos socialistas virá nas eleições municipais. Se sentirem um certo chega pra lá em suas candidaturas, os petistas vão redobrar a vigilância sobre o neto de Miguel Arraes. Da parte dos socialistas, acontece o mesmo: se o PSB sentir um certo desdém do PT às suas prefeituras ¿ como Belo Horizonte e Curitiba ¿, os problemas hoje latentes virão a público. Campos tem sido incansável em repetir que não concorrerá à Presidência contra Lula ou Dilma. Mas, diante das incertezas sobre o futuro, o PSB não nega trabalhar para fortalecer Campos nacionalmente ou colocá-lo bem na fotografia. E é justamente isso que o PT não quer.