A diferença entre os preços externos e internos da gasolina e do diesel ficou favorável à Petrobras entre 30% e 40%, dependendo da fonte consultada, após mais um movimento brusco de recuo da cotação internacional do petróleo. A margem alta tem deixado mais atraente a importação de combustíveis por parte de empresas privadas do setor, na comparação com a compra do insumo da estatal, feita em território brasileiro.

Essa seria a explicação para o crescimento de 23,7% das importações de derivados de petróleo em dezembro na comparação com o mesmo mês de 2013. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Mantidos os atuais parâmetros de câmbio e preços dos derivados, analistas projetam que, até o fim de 2015, a Petrobras poderia recuperar o que perdeu nos últimos seis anos com a venda no mercado doméstico de gasolina e diesel mais baratos do que pagou para importar. Outra possibilidade aberta pelo barril do óleo cru no nível de US$ 50, no entanto, é usar a margem de lucro mais alta para eventual redução no preço dos derivados, o que poderia ajudar a inflação a permanecer no teto da meta em 2015.

A Petrobras, no entanto, não pensa em reduzir os preços dos combustíveis para se defender de suposto aumento de importações de concorrentes, disse uma fonte, que pediu para não ter o nome revelado. Segundo essa fonte, o mercado está estável e não foram detectadas importações de terceiros.

O preço do petróleo no mercado internacional caiu pela metade nos últimos meses (ver gráfico) e a diferença entre o preço interno e o externo da gasolina e do diesel passou de problema a salvação do caixa da Petrobras. A política de controle de preço dos combustíveis trouxe perdas ao caixa da estatal entre maio de 2008, quando foi instaurada, e novembro do ano passado, quando a diferença foi revertida. Nos últimos quatro anos, estima-se que a perda tenha alcançado US$ 59 bilhões.

Caso se observe neste ano um cenário com o barril de petróleo oscilando entre US$ 50 e US$ 60, e o câmbio entre R$ 2,60 e R$ 2,80, a estatal recupera as perdas contabilizadas desde maio de 2008, nos cálculos de Walter de Vitto, economista da Tendências Consultoria.

A diferença calculada pela consultoria com os preços de ontem, quando o barril do tipo Brent ficou em US$ 51,10 e o câmbio a R$ 2,70, apontou para o litro da gasolina no mercado externo a um preço 35,7% menor do que o praticado nas refinarias da Petrobras. e o litro do diesel 31,2% mais barato.

Com o crescimento dessa diferença nos últimos meses, a Raízen já teria começado a importar combustíveis em baixos volumes, informou uma fonte. Segundo essa fonte, a importação de combustíveis é interessante para aproveitar os preços mais favoráveis no mercado externo, mas ainda é difícil avaliar se os custos da estrutura da importação compensam ao longo do tempo. Procurada, a assessoria da Raízen não encontrou fonte disponível para tratar do assunto.

No curto prazo, Vitto não acredita que haverá grandes mudanças no preço do barril de petróleo, afetado pelo aumento de produção dos EUA, estabilidade da demanda mundial e a decisão dos países exportadores ligados à Opep de não reduzir a produção para forçar um aumento na cotação internacional. A defasagem deve se manter ente 20% e 30% até o fim do ano, já que é esperada nova desvalorização do real, com o dólar subindo a R$ 2,80.

Em outro cenário, com oscilações normais, a defasagem da gasolina fica positiva à estatal em 37% e em 28% para o diesel com o barril de petróleo a US$ 50 e o dólar a R$ 2,70, nas contas de Fernando Rocha, economista da JGP Gestão de Recursos. Ele acredita que a Petrobras irá usar o cenário agora favorável para se recapitalizar.

O momento político turbulento pelo qual passa a estatal também deixa menos espaço para uma piora nas fontes de receitas. A operação é uma das poucas áreas que estão com bons prognósticos. A produção do óleo cru deve crescer 11% neste ano, segundo estimativas de mercado. Hoje, está ao redor de 2,2 milhões de barris diários. "O que pode acontecer, mas não há previsão no curto prazo, é decisão de redução dos preços na bomba mais para o fim do ano, caso haja risco de a inflação ficar acima da meta em 2015", afirma Rocha.

O cenário externo começou a mudar em julho. Na conta da GO Associados, pela média mensal das variações diárias do câmbio, do barril de petróleo e do preço dos combustíveis no mercado interno e nas refinarias do Golfo do México, em julho a Petrobras vendeu o litro da gasolina a R$ 1,39, enquanto pagou R$ 1,60 para importar. No diesel, cobrou R$ 1,61 o litro que custou R$ 1,67 no exterior.

Em dezembro, o quadro já era outro. Com o barril do tipo WTI a uma média de US$ 60, e o dólar a R$ 2,64, o litro da gasolina no Golfo do México ficou em R$ 1, enquanto a mesma gasolina saiu das refinarias brasileiras por R$ 1,43. O diesel foi importado por R$ 1,22 o litro e vendido a R$ 1,72.

O diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, diz ser difícil prever o comportamento do petróleo e, por consequência, dos preços dos combustíveis. Uma vez que a redução pela metade dos preços externos não deve sofrer grandes alterações, ele chama atenção ao fato de que há um novo componente na orientação das políticas econômicas dos bancos centrais das principais economias.

O petróleo mais barato se junta ao derretimento da cotação do minério de ferro e da soja registrados ao longo de 2014. Como as três commodities são usadas como insumos, esses recuos serão traduzidos em pressão deflacionária. "O que é mais um fator que ajuda a manter a inflação do Brasil dentro da meta no ano", diz Silveira.

 

IPCA de janeiro pode ser o maior desde 2003

 

Além do aumento já contratado das contas de luz, os reajustes de transporte urbano serão outra pressão importante sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. Em São Paulo, as passagens subiram ontem, mas outras três capitais que compõem o IPCA já estavam pagando tarifas maiores: Rio, Belo Horizonte e Salvador. Segundo economistas ouvidos pelo Valor, juntas, as quatro correções devem adicionar cerca de 0,2 ponto percentual à inflação oficial do primeiro mês do ano.

Colocando na conta outros impactos além da energia, como a recomposição da Cide, aumentos de táxi em algumas capitais e o encarecimento de cigarros, as previsões para o IPCA de janeiro estão em cerca de 1%. Se confirmada, essa seria a maior alta do indicador para o primeiro mês do ano desde 2003, quando a inflação foi de 2,25% no período.

Segundo Flávio Serrano, economista-sênior do banco Besi Brasil, o principal impacto sobre os preços de transporte público vai partir da capital paulista, onde as tarifas de ônibus municipais, trem e metrô passaram de R$ 3 para R$ 3,50, aumento de quase 17%. No Rio, o ônibus municipal subiu de R$ 3 para R$ 3,40 no dia 3. Em Belo Horizonte, o reajuste de R$ 2,85 para R$ 3,10 em 80% das linhas convencionais entrou em vigor em 29 de dezembro. Em Salvador, a passagem de ônibus passou de R$ 2,80 para R$ 3 no primeiro dia do ano.

Em conjunto, Serrano calcula que os reajustes vão adicionar 0,2 ponto percentual ao indicador oficial de inflação de janeiro, que deve ficar entre 1% e 1,1%. Na média, o item ônibus urbano deve avançar 8,1% no período. Segundo o economista, cinco pontos desse percentual virão apenas da cidade de São Paulo. “O IPCA de janeiro será mais pesado, mas não só por conta disso”, diz, acrescentando que, por conta das bandeiras tarifárias, a energia deve aumentar cerca de 10%, principal influência de alta sobre a inflação do período.

A economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, também projeta contribuição de 0,2 ponto dos reajustes de transporte público para o IPCA de janeiro, com alta de 8,25% nos preços. A estimativa mais alta para o índice fechado – de 1,32%, que levaria o acumulado em 12 meses a 7,22%, patamar bastante superior ao teto da meta, de 6,5% -, leva em conta o risco de recomposição integral da Cide, contribuição sobre os combustíveis.

Se o imposto chegar a R$ 0,28 por litro, a gasolina deve ficar 9,7% mais cara na bomba e elevar a inflação em 0,36 ponto percentual. Caso não se concretize, parte do impacto pode ser compensado pelo aumento de 8,5% nos preços anunciado pela Souza Cruz – uma antecipação à alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor de tabaco esperada para este mês – e pelo reajuste de tarifas de transporte em outras capitais.

Para o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, a recomposição da Cide deve ocorrer entre fevereiro e março, mas, por outro lado, mais cidades ainda podem anunciar aumentos de transporte público nos próximos dias. Em sua previsão de alta de 7% para o ônibus urbano em janeiro, Melo inclui reajuste de 15% das tarifas de ônibus municipal no Recife, e de 10% em Fortaleza.

“Outras capitais tendem a ter reajuste mais à frente e outros itens administrados também, mas a concentração desses aumentos ocorrerá em janeiro. É um movimento pontual de recomposição de administrados”, diz Melo, para quem o IPCA vai avançar cerca de 1% no mês. Com essa alta, a inflação acumulada em 12 meses começaria o ano em quase 7%. Ele ainda lembra que os preços de táxi, que subiram em São Paulo e no Rio, devem avançar 3% em janeiro, o que vai acrescentar mais 0,1 ponto à inflação mensal do período.

Também entre as maiores pressões esperadas para janeiro, a energia elétrica subirá 8,8% e adicionará 0,26 ponto ao índice, estima Adriana, da Tendências. “Todos os subsistemas estão com bandeira vermelha”, afirmou, em referência ao sistema de bandeiras tarifárias vigente desde o dia 1º.

Fabio Romão, da LCA Consultores, espera alta semelhante para a energia e aumento de 8,26% no item ônibus urbano – uma pressão adicional de 0,25 e de 0,21 ponto, respectivamente, no índice de janeiro, que deve subir 1,13%, calcula o economista. “Os administrados voltam com tudo neste começo de ano”, comenta.

Os preços dos alimentos, sazonalmente maiores no começo do ano, devem avançar mais do que em janeiro de 2013 (0,84%) e aumentar 0,94%, estima Romão. As principais contribuições para essa alta devem vir de culturas de curto prazo, como hortaliças, frutas e verduras, afetadas pelas chuvas fortes no mês.

 

Apesar dos estoques elevados, setor industrial avança 0,4% em novembro, preveem analistas

 

A indústria iniciou o quarto trimestre do ano passado com estoques elevados, o que ainda está pesando negativamente sobre o desempenho do setor, principalmente no segmento automobilístico. Como a demanda interna segue fraca e o comércio exterior não tem compensado, economistas não veem espaço para uma reação expressiva da atividade das fábricas em novembro, mês que deve marcar uma sequência de 12 quedas da produção em relação a igual período do ano anterior.
  
 
 Após estabilidade em outubro, a estimativa média de 18 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que a produção industrial teve uma leve alta em novembro, de 0,4% sobre o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As projeções para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) vão de retração de 0,5% a avanço de 0,9%. O dado será divulgado amanhã pelo IBGE.
 
 Rodrigo Nishida, da LCA Consultores, estima que a produção cresceu 0,5% no período, mas não vê esse comportamento como recuperação. "Temos uma possibilidade não desprezível de um resultado pior do que esse", diz Nishida, já que boa parte dos indicadores acompanhados pela consultoria para antecipar a variação da indústria caiu na passagem mensal. Nesse conjunto, apenas dois subiram: a produção de veículos pesados, medida pela Anfavea (entidade que reúne as montadoras), aumentou 4,7% e o refino de petróleo, 1,1%, os dois itens com ajuste sazonal.
 
 Por outro lado, sempre de acordo com a dessazonalização da consultoria, a produção de veículos leves, também calculada pela Anfavea, diminuiu 0,8% entre outubro e novembro, enquanto a expedição de papelão ondulado ficou 0,4% menor. Divulgada pela Petrobras, a produção de petróleo e gás encolheu 0,9%. Por fim, o fluxo de pedagiado de veículos nas estradas, medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), em parceria com a Tendências, caiu 0,3% no mês.
 
 Segundo o economista da LCA, os sinais mistos do agregado de índices são um indício de que a atividade industrial teve alta modesta no penúltimo mês de 2014, que pode ser ainda menor do que o estimado. De qualquer forma, diz, se confirmada a previsão preliminar de estagnação da produção em dezembro, a indústria terá recuado 0,3% entre o terceiro e o quarto trimestres do ano passado, encerrando 2014 com retração de 2,8%.
 
 "O setor industrial está em tendência descendente, afetado pela perda de competitividade e, no curto prazo, pelos estoques elevados, demanda interna fraca e confiança baixa", afirma Rafael Bacciotti, da Tendências. Em seus cálculos, a produção cresceu apenas 0,2% em novembro, e a expectativa é que, ao fim do trimestre, o segmento avance 0,3% ante os três meses anteriores. "É um respiro, depois de cinco trimestres seguidos de queda", disse.
 
 Para Bacciotti, o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos na virada do ano pode aquecer as vendas em dezembro, mas não será suficiente para impulsionar a produção, tendo em vista que o nível de estoques acumulados pela indústria automobilística é muito alto. Em sua avaliação, o desempenho da indústria nos primeiros meses de 2015 ainda será comprometido pelo acúmulo de mercadorias paradas.
 
 No cenário da Tendências, o segmento industrial terá retomada modesta neste ano, quando a produção vai aumentar 1%, sem recuperar, no entanto, o tombo de quase 3% esperado para o ano anterior. Segundo Bacciotti, o câmbio mais depreciado tende a proporcionar uma pequena melhora da competitividade da produção nacional em relação aos importados, que também devem perder espaço no consumo, devido à perda de fôlego da renda dos trabalhadores. Mesmo assim, diz, 2015 será um ano difícil para a indústria.
 
 Nishida, da LCA, trabalha com expansão mais fraca da produção industrial neste ano, de apenas 0,4%. Em sua visão, o aperto nas políticas fiscal e monetária vai limitar a recuperação do setor de transformação. A única influência positiva para a produção, diz, deve partir do segmento de extração e refino de petróleo.

 

IBGE fará divulgação da PME em 2015

 

A divulgação da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) continuará sendo feita pelo menos até o fim deste ano, afirmou o diretor de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Roberto Olinto. A decisão de prorrogar a PME foi tomada ao longo dos últimos quatro meses, período em que houve uma série de debates entre a instituição e usuários dos dados do IBGE. O órgão havia anteriormente decidido interromper a divulgação da pesquisa a partir de 2015. O instituto divulgará mensalmente duas pesquisas sobre o mercado de trabalho este ano, já que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal começa a ser publicada em 12 de março, sendo janeiro de 2015 o mês de referência. Na ocasião, o IBGE planeja também divulgar toda a série histórica da Pnad Contínua Mensal, iniciada em janeiro de 2012. "A PME foi estendida para 2015 porque avaliamos que a Pnad Contínua Mensal ainda tem uma série histórica curta. Queremos dar tempo aos nossos usuários para que se preparem para a mudança de modelos, para que possam fazer análises e comparar diferenças entre as pesquisas", afirma Olinto. Para o diretor de pesquisas, ainda é cedo para dizer se 2015 será o último ano de coleta da PME. "Com um ano de antecedência, é difícil falar. Vamos reavaliar a questão ao longo de 2015, mas não podemos descartar a hipótese [de continuidade da PME em 2016]." A PME, restrita a seis regiões metropolitanas brasileiras, teve a atual série iniciada em março de 2002. A pesquisa deveria ser substituída neste ano pela Pnad Contínua Mensal que inclui informações de todos os Estados. A Pnad Contínua Mensal, além de indicadores de desocupação, nível da ocupação, população ocupada e população desocupada, terá informações de rendimento real, rendimento nominal, massa de rendimento, entre outros dados, a partir de março. Sobre a necessidade de pessoal para a coleta, análise e divulgação de dados tanto da PME quanto da Pnad Contínua Mensal, Olinto diz que essa questão foi considerada no processo que definiu a continuação da PME. "O pessoal é suficiente. "