A já grande preocupação com as contas externas brasileiras se acentuou esta semana com a divulgação dos dados sobre a balança comercial do ano passado. Na coleção de estatísticas tornadas públicas pelo Ministério do Desenvolvimento na segunda-feira, é difícil encontrar informações positivas.
A começar, claro, pelo resultado global – o déficit comercial foi de US$ 3,93 bilhões, o maior já registrado pelo país desde 1998. As relações de trocas com todos os principais parceiros comerciais pioraram, com a notável exceção dos Estados Unidos.
As exportações perderam terreno, com queda de 7% em relação a 2013 – o total exportado foi de US$ 225 bilhões. E foi especialmente ruim o comportamento das vendas ao exterior de produtos manufaturados, em que se registrou uma desaceleração de quase 14%.
Também as importações, que chegaram a US$ 229 bilhões, tiveram queda de 4,4%. O que poderia ser uma boa notícia em termos de contabilidade das relações com o exterior revela-se, no entanto, um indicador ruim para o país, na medida em que a maior redução foi na compra de bens de capital (de 7,6%), comprovando, mais uma vez, que o setor industrial está investindo pouco.
Com isso, a corrente de comércio alcançou cifra de US$ 454 bilhões, representando — de novo – queda de 5,7%. A participação brasileira no comércio mundial volta a encolher dessa forma.
Ao anunciar esses dados, o secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, atribuiu o resultado negativo – falando especificamente do déficit recorde em mais de uma década – a três fatores principais.
O primeiro é a queda no preço das commodities em 2014. A tendência de desvalorização dos grãos (especialmente da soja) voltou a imperar no ano passado e foi acompanhada de uma baixa importante em outro produto fundamental para as exportações brasileiras, o minério de ferro, que caiu 47%, voltando ao menor nível desde 2009. Segundo Godinho, o país deixou de arrecadar US$ 12,9 bilhões com o declínio dessas cotações. O Brasil conseguiu aumentar as vendas ao exterior de minério, mas a queda do preço fez com que a receita fosse 20% inferior ao do ano anterior.
A segunda causa da queda das exportações foi o cenário econômico desfavorável no mundo. Nas contas governamentais, dos 15 principais mercados de destino dos produtos nacionais, dez registraram quedas nas suas importações totais do mundo. Além disso, as vendas para a Argentina foram muito afetadas pela crise vivida pelo país vizinho. Em 2013, a soma do que o Brasil mandou para os argentinos atingiu US$ 19,6 bilhões; no ano passado, esse valor tinha minguado para apenas US$ 14,2 bilhões. Particularmente afetados foram os setores que produzem bens de maior valor agregado, como as montadoras, que perderam um mercado muito importante no ano passado e até agora não conseguiram substituir com exportações para outros países. Uma esperança é aumentar os embarques de veículos para a Colômbia e retomar as operações com o mercado mexicano.
O terceiro fator de peso foi o saldo negativo que ainda perdura na conta-petróleo. Houve, sem dúvida, uma melhora significativa nesse indicador graça ao aumento da exportação de petróleo pela Petrobras. O saldo negativo, no entanto, permaneceu em patamares elevados – o déficit na conta-petróleo foi de US$ 19,74 bilhões, valor 17% menor do que o observado em 2013. Sempre na comparação interanual, no ano passado o embarque de petróleo cresceu 26,2% e alcançou US$ 16,35 bilhões, ao passo que as importações do produto recuaram 4,8% e atingiram US$ 15,53 bilhões.
Diante desse retrato do comércio externo do Brasil, a grande questão é se o país terá condições de mudar essa tendência e voltar a registrar superávit na balança neste ano. Os analistas listam uma série de circunstâncias que poderão ser cruciais nesse sentido. A desvalorização do real é o primeiro item a ser lembrado. No ano passado, já se observou uma firme tendência de queda do valor da moeda nacional. Nos primeiros dias do novo ano, esse movimento se acentuou. Desde o último dia de dezembro de movimentação do mercado de câmbio, o dólar já apresentou uma alta de 1,60%. A recuperação da economia americana e a queda dos preços do petróleo também podem ajudar, mas é ainda arriscada uma avaliação mais precisa do panorama neste ano.