Título: Obras esquecidas de Dilma e Lula
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 10/07/2011, Política, p. 8

Enviada especial

Buritizeiro ¿ "Não sei se ainda no meu governo, mas o que posso dizer para vocês é que a gente não vai deixar a obra pelo meio", prometeu o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a moradores de Buritizeiro, na região norte de Minas Gerais, que acompanhavam a visita oficial com a expectativa de se verem livres de fossas no quintal de casa. Era 14 de outubro de 2009, ano pré-eleitoral, em que a Justiça não permite campanha. A ponderação de Lula sobre a chance de não honrar o compromisso em seu mandato foi ouvida por uma espectadora especial. Assistia ao "comício", como deixou escapar o próprio Lula, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência da República. Mas quem votou na petista com o sonho de ver a rede de esgoto implantada no município de cerca de 30 mil habitantes está decepcionado. A caravana presidencial se foi e, desde junho do ano passado, o empreendimento está parado. O caso de Buritizeiro não é único. Obras inauguradas por Lula e Dilma na corrida eleitoral estão paralisadas ou caminham a passos lentos. Outras mal foram entregues e já apresentam problemas.

As visitas oficiais às obras, a maioria do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foram intensificadas em 2008. Na época, Lula abusou da estratégia de vinculá-las a Dilma, ministra de perfil técnico e desconhecida pelo eleitorado. Sempre ao lado do ex-presidente, a campanha antecipada pela "mãe do PAC" rendeu a Lula seis multas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 6 de julho de 2010, quando a corrida pelo voto começou oficialmente. Hoje, as promessas caíram no esquecimento oficial e se converteram em indignação da população.

"As ruas estão completamente esburacadas. Ninguém consegue parar o carro em frente à minha casa e ao comércio. Se Dilma continuar assim, não votamos nela nem para vereadora de Buritizeiro", reclama a comerciante Maria Madalena Rodrigues, 68 anos. Ela se lembra do dia em que Lula e Dilma visitaram a obra, em outubro de 2009, mas sua maior recordação é o dia em que a obra parou, oito meses depois, em junho do ano passado. "Não aguento mais limpar fossa. Além disso, agora tenho lama e buraco na porta de casa." Segundo o prefeito do município, Salvador Raimundo Fernandes (PT), a empresa vencedora da licitação das obras declarou falência depois de gastar cerca de R$ 4 milhões na rede de esgoto. "Estamos sofrendo as consequências até hoje, com ruas esburacadas e valas abertas. Agora, o governo federal liberou mais R$ 15 milhões para finalizarmos a obra."

Falta de verba Buritizeiro foi uma das cidades visitadas na caravana de Lula e Dilma para ver as obras de transposição do Rio São Francisco ¿ a rede de saneamento faz parte da revitalização do Velho Chico, que recebe o esgoto da cidade. A comitiva passou também por Pirapora (MG), Barra (BA), Custódia (PE), Floresta (PE) e Sertânia (PE). Na última, Lula e Dilma viram 2,7 mil operários trabalhando na construção de um canal para a passagem do curso d"água. No fim do ano passado, todos foram demitidos e as obras, paralisadas. Segundo o vereador Junhão Lins (PSDB), a cidade virou um "cemitério". "Estávamos em pleno crescimento. Os comerciantes investiram para atender os trabalhadores das obras. Agora, todo mundo está aperreado. A impressão que se tem é de que apenas fez parte da campanha eleitoral."

A prefeita de Sertânia, Cleide Ferreira (PSB), diz que a previsão é de as obras voltarem no mês que vem, mas não sabe apontar o motivo da paralisação. Segundo ela, os "boatos" são de que as empreiteiras responsáveis pela obra pediram mais dinheiro ao governo federal.

Na hora de comentar a situação, o governo se esquiva. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério do Planejamento, responsável pelo PAC, a execução das obras é de competência de estados e dos municípios. À pasta, cabe somente "o repasse de recursos".