Abalada pela abrupta queda na popularidade, somada aos demais problemas enfrentados neste início de segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff convocou uma nova reunião do Conselho Político do governo - a terceira nos últimos cinco dias, a segunda em caráter emergencial. Dilma e os ministros mais próximos estão preocupados com os desdobramentos da crise política, o avanço das investigações da Operação Lava-Jato e a falta de interlocução com a base aliada, o que abre espaço para traições em futuras votações que interessam ao governo e aumenta os riscos de perda do controle nas CPIs sobre a Petrobras - a primeira, já instalada na Câmara e outra em vias de ser criada por senadores. 

A desgastada relação, justamente com aqueles escolhidos para dar apoio no Congresso, tira o sono do núcleo político palaciano. "Todas as pedradas que o governo tem tomado vêm de dentro (da própria base). A oposição está tomando sol, sem protetor solar, na praia, rindo da nossa crise", ironizou uma pessoa próxima da presidente. 

Internamente, há quem defenda uma reação mais incisiva para que o governo saia das cordas. Não está descartada a possibilidade de um pronunciamento em cadeia de rádio e televisão após o carnaval, embora, oficialmente, o Palácio do Planalto negue a informação. Como as demais decisões tomadas no governo, as informações conflitantes vindas do próprio núcleo duro governista provoca uma paralisia de ações. 

Os defensores da proposta acreditam que a presidente precisa de medidas urgentes para não passar a sensação de que está acuada. Outros acreditam que, diante da imagem negativa - reforçada pela pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana apontando queda na popularidade de Dilma -, seria pior divulgar notícias que não se materializarão a curto prazo, como o encaminhamento de normas anticorrupção para serem votadas no Congresso. 

A estagnação econômica também assusta o governo. Uma das causas da queda na avaliação da presidente é a falta de clareza nas informações sobre a necessidade das medidas amargas para corrigir os rumos da economia - ontem, o mercado previu, pela primeira vez, crescimento zero para 2015, mantendo o pífio desenvolvimento do Produto Interno Bruto (PIB) da gestão Dilma Rousseff. Por essa razão, a petista organizou ontem uma reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) - logo após o encontro do núcleo político -, para tentar dar uma resposta aos empresários e aos agentes econômicos. 

Insatisfação 
Dilma e o governo cobram ainda o apoio do PT. Na visão palaciana, a insatisfação do campo majoritário petista com as nomeações do primeiro escalão - sobretudo a escolha de dois nomes da tendência Democracia Socialista para a Secretaria-Geral da Presidência (Miguel Rossetto) e a Secretaria de Relações Institucionais (Pepe Vargas) - têm minado o poder político do Planalto. Na sexta-feira, durante a festa de 35 anos do partido, era nítido o constrangimento e o incômodo entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

No meio da tarde de ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi chamado para uma reunião com Pepe Vargas. Na semana passada, Falcão esteve outras duas vezes com Vargas. "Eu vim aqui para discutir os cargos do PT do segundo escalão, que ainda precisam ser escolhidos", disse ele. Esse xadrez deve gerar novos problemas porque, de acordo com o próprio Falcão, as nomeações não levarão o critério "porteira fechada". No jargão político, porteira fechada significa que o partido que comanda a pasta teria direito a indicar todos os demais cargos dos escalões interiores. 

De acordo com Falcão, um partido que já ocupa um posto no governo dificilmente abrirá mão para outro na redivisão de poder. Ele também acha pouco factível que haja mudanças nos atuais órgãos comandados por petistas. "Este é um governo de continuidade, não há por que promover grandes mudanças nas equipes", ponderou. Segundo ele, uma definição ocorrerá nos próximos dias: a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior será indicada para a presidência da Caixa Econômica Federal. 

Questionado se as indicações poderiam acalmar os partidos aliados, indóceis com a falta de atendimento dos pleitos por parte de Dilma, Falcão afirmou: "Nós não fazemos toma lá dá cá". Em seguida, acrescentou que poderia falar apenas pelo PT, não pelas demais legendas. 

A insegurança política é tão grande que o Planalto está praticamente implorando para que o PMDB permaneça com o cargo de líder do governo no Senado, que pertencia ao senador Eduardo Braga (PMDB-AM), empossado ministro de Minas e Energia. O PT chegou a pleitear a vaga, mas o desejo do Executivo é a indicação de um peemedebista. O temor da articulação política governista é que, livre do compromisso de defender o Planalto no Congresso, o PMDB fique ainda mais solto para traições. 

Os fantasmas de Dilma 
Confira os problemas que têm tirado o sono da presidente 

Crise na Petrobras 
» A cada dia que passa, novas denúncias e delações premiadas de envolvidos na Operação Lava-Jato aumentam o sinal de alerta no governo sobre os desdobramentos políticos e jurídicos da crise de corrupção na principal empresa brasileira. 

CPIs 
» A Câmara terá uma CPI da Petrobras com as assinaturas da base aliada. No Senado, mesmo sem firmas da base, é certo que a oposição conseguirá apoio para instalar uma comissão parlamentar de inquérito sobre o mesmo tema. O governo deseja ter o máximo de controle sobre o estrago que duas CPIs da Petrobras poderão causar à imagem do Planalto. 

Segundo escalão 
» Dilma precisa resolver as nomeações do segundo escalão, uma das maneiras, na visão de aliados do governo, de acalmar as insatisfações da base de sustentação do Executivo no Congresso. O problema é que as negociações não começaram, e a base teme que a presidente faça como na indicação do novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine: uma decisão autocrática, sem consulta. 

Queda de popularidade 
» Pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana mostra que a presidente tem apenas 23% de aprovação, a pior avaliação desde o tucano Fernando Henrique Cardoso, em 1999. Preocupa o Planalto a percepção de que Dilma mentiu durante a campanha eleitoral e tomou medidas que ela dizia que não adotaria.