Mensagens em redes sociais convocando a população para protestar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff motivaram bate-boca entre oposição e governo no plenário do Senado ontem. A celeuma começou depois de o líder do PSDB na Casa, Cássio Cunha Lima (PB), citar uma corrente que circula na internet marcando manifestações em várias cidades do país em 15 de março. 

"Durante todo o fim de semana, houve uma profusão de mensagens convocando para um ato público no próximo 15 de março e já defendendo o impeachment da presidente, num ambiente em que o Brasil se depara com uma grave crise ética", disse o líder tucano, por volta das 15h30. Cunha Lima também criticou a sucessão na Petrobras e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que foi levado a prestar depoimento sob "condução coercitiva" pela Polícia Federal, na semana passada. 

O comentário provou forte reação dos petistas Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR), que acompanhavam a sessão. "Vocês (oposição) estão sendo maus perdedores: falar de impeachment logo depois do processo eleitoral que acabou de ocorrer no país, no qual o povo se manifestou, isso sim, a meu ver, é golpista", disse Lindbergh. "Tem uma minoria golpista se organizando neste país, como fizeram com Getúlio Vargas e João Goulart. Estimuladas, sim, pelo PSDB, que questiona o processo eleitoral (do ano passado)", acusou o petista. 

Gleisi endossou as palavras do correligionário. "Em 7 de fevereiro de 1999, o presidente Fernando Henrique Cardoso tinha apenas 21% de "ótimo" e "bom" (em pesquisas de popularidade); e mais de "ruim" e "péssimo" do que hoje tem a presidente Dilma Rousseff. E nós não tínhamos a tempestade que vemos agora. Em 1999, não havia esse clima, não se estava discutindo impeachment", comparou a senadora, referindo-se à pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, que mostrou queda acentuada na popularidade de Dilma. 

"Arrepio" 
Em um aparte, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que "a palavra impeachment não deve causar arrepio, até porque está na Constituição. Agora, hoje, o que me causa arrepio é que está na boca do povo, está se generalizando. E, quando fica na boca do povo, não adianta querer silenciar, porque aí, sim, é golpismo", disse. 

A mensagem nas redes sociais que motivou a confusão no Senado cita o mensalão, o escândalo de corrupção na Petrobras e lista locais de encontro em 30 cidades. O texto também convoca os manifestantes a trajarem verde e amarelo em 15 de março. 

Para saber mais 
Nas mãos do parlamento 

Apesar de ser um direito democrático, a palavra impeachment não está escrita na Constituição. O impedimento de exercer o mandato é garantido no quinto parágrafo do artigo 85, que lista como crime de responsabilidade do presidente da República agir contra a probidade administrativa. Procurador federal, o especialista em direito constitucional André Lopes explica que, para que haja um impeachment, é necessária uma acusação formal. Cabe ao presidente da Câmara decidir pela admissibilidade da acusação, que pode ser enviada à Comissão de Constituição e Justiça para avaliação. Se chegar ao plenário, a matéria deve ter 342 votos favoráveis para ser aprovada. Em seguida, é julgada pelo Senado e precisa de 54 votos. Decretado o impeachment do presidente pelo Congresso, assume o vice-presidente. Pela Constituição, só haverá nova eleição caso o presidente e o vice estejam impossibilitados de assumir o cargo. Na ausência dos dois, deve se fazer o novo processo eleitoral 90 dias após aberta a vaga. (NT) 

"Vocês (oposição) estão sendo maus perdedores: falar de impeachment (...), a meu ver, é golpista" 
Lindbergh Farias, senador do PT-RJ 

Três perguntas para 
Cristovam Buarque, senador do PDT-DF 

Como o senhor avalia essas manifestações a favor de um impeachment nas redes sociais? 
É lamentável. Acho que não é hora ainda de falar em impeachment. Ao mesmo tempo em que não é hora de esconder que há um sintoma profundo de descontantamento, porque o assunto está em pauta. Nós temos a obrigação de enfrentar a crise que estamos vivendo de tal maneira que não seja preciso chegar a isso. O primeiro passo é reconhecer o profundo descontentamento da população com o governo, com a presidente Dilma, com o PT e com todos os políticos. E eu me incluo entre eles. Reconhecendo isso, está na hora de um grande diálogo neste país. Está na hora de o PT perceber que precisa mudar de comportamento e acabar com a corrupção. Por outro lado, a oposição e os críticos têm que entender que houve uma eleição. Governo e oposição deveriam construir uma agenda para tirar o país da crise. 

Por que a situação chegou a este ponto? 
Primeiro, por causa da corrupção. O povo não aguenta mais. O governo aparelhou os órgãos, e isso o levou, durante 12 anos, à corrupção. Segundo, devido a uma política econômica irresponsável ao longo dos anos - que muitos de nós alertamos estar equivocada, mas o governo não quis ouvir. Terceiro, o fato de a presidente ter dito uma coisa na campanha e, no dia seguinte, ter começado a fazer o contrário. A população está irritada. 

O impeachment é uma solução para melhorar a situação do país? 
O impeachment tem um custo muito alto para a democracia e para a sociedade. Deveria até evitar se tocar no assunto, mas não se pode ignorar que o povo está falando nisso. Impeachment, para mim, é uma precipitação, porém, ignorar o risco disso é um equívoco grande.