Integrantes da força-tarefa criada pela Procuradoria Geral da República (PGR) para apurar a participação de políticos no esquema de propina tomaram ontem, em Curitiba, os depoimentos de dois delatores da Operação Lava-Jato: o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. É um sinal que a Operação Lava-Jato avançou em direção a partidos e políticos investigados por suposto recebimento de propina em contratos com a Petrobras. A informação foi antecipada pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

Os investigadores buscam informações adicionais sobre os recebedores finais do dinheiro que abasteceu contas em mais de dez países, incluindo Europa, Estados Unidos, Panamá e China.

Com autorização concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira para investigar deputados, senadores e até governadores, os procuradores apresentaram a Costa e a Youssef material obtido durante a fase "Juízo Final" da operação, deflagrada em novembro do ano passado, quando foram presos executivos das maiores empreiteiras do Brasil. Na ação centenas de mandados de busca e apreensão foram cumpridos em empresas investigadas e em residências de suspeitos de corrupção na Petrobras.

Procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba estiveram na Suíça nos últimos meses para rastrear o caminho da propina por contas secretas e offshores no exterior. Representantes de órgãos suíços devem vir ao Brasil este ano.

A reportagem apurou que parte da documentação enviada por autoridades suíças foi mostrada ontem a Paulo Roberto Costa. A meta dos procuradores é fechar o ciclo da propina e oferecer as denúncias criminais contra os políticos ainda no primeiro semestre. O ex-diretor de Abastecimento já havia indicado contas bancárias, operadores e empresas offshore usadas para operar o suposto esquema.

Outros delatores cujos depoimentos são considerados fundamentais pela acusação serão interrogados pela equipe do procurador-geral da República Rodrigo Janot nas próximas semanas. Janot retorna hoje de Washington, onde se encontrou com autoridades do Departamento de Justiça e do FBI.

O ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, peça central da investigação sobre o dinheiro destinado a políticos no exterior, deve prestar depoimento logo após o carnaval. Documentos entregues por Barusco levaram a Polícia Federal (PF) a identificar 11 operadores de empreiteiras que atuariam na Petrobras, entre os quais pelo menos três - incluindo o tesoureiro do PT João Vaccari Neto - que operariam com o ex-diretor de Serviços Renato Duque, na diretoria então ocupada por ele. Vaccari e Duque negam envolvimento em irregularidades.

Ontem, outro suposto operador do esquema, Shinko Nakandakari, consultor e ex-funcionário da Odebrecht, assinou compromisso de delação premiada com o MPF. Ele passa a ser o 13º delator da Operação Lava-Jato. Nakandakari está entre os 11 apontados por Barusco como operadores financeiros.

Nakandakari já havia manifestado a intenção de colaborar há dois meses, mas o MPF exigia mais informações. A colaboração prevê eventuais benefícios como redução de pena em troca de informações e documentos relevantes à investigação. O Valor PRO apurou que Nakandakari será processado por corrupção no esquema de desvio de recursos da estatal. Por isso, concordou em revelar o que sabe sobre como se daria a atuação do ex-diretor Renato Duque.

Ele admitiu aos investigadores ter se encontrado com Duque algumas vezes. Mas disse que a questão da propina era tratada diretamente com Pedro Barusco. Segundo uma fonte ligada ao caso, a expectativa é que ele "reconheça sua parcela de corrupção no caso Petrobras e indique tudo o que conhece sobre a participação de Duque". Nakandakari começará a depor no âmbito de sua delação premiada no fim do mês. Ele nega ter atuado para a lavagem de dinheiro dos recursos obtidos em contratos da petrolífera.

Em novembro, o diretor da Galvão Engenharia Erton Fonseca - preso na PF de Curitiba - afirmou ter pago propina de R$ 8,3 milhões ao consultor, que segundo o executivo apresentou-se como um dos emissários de Duque na Petrobras.

O acordo de delação premiada que está sendo negociado entre Ricardo Pessoa, presidente da UTC, e a força tarefa da Lava-Jato avançou anteontem em alguns pontos, mas ainda não está fechado, disseram pessoas a par do assunto.