Por uma margem apertada, de apenas um voto, a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados escolheu ontem como novo líder o deputado Leonardo Picciani (RJ), que fez campanha para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na eleição presidencial do ano passado, mas que assumiu o cargo com a promessa de dialogar com o governo e seguir a opinião da maioria da bancada. "O PMDB, a princípio, é da base do governo. Está representado pelo vice-presidente Michel Temer e por ministros no governo. Ainda não reuni a bancada, e minha posição será a da maioria dos deputados, mas o PMDB sempre foi garantidor da governabilidade", afirmou Picciani, que foi um dos líderes do movimento contra a aliança com o PT. "Agora, o PMDB vai expor suas opiniões, mesmo que algumas sejam divergentes [das do governo]", disse. Picciani foi eleito por 34 votos a 33 em uma disputa acirrada contra Lúcio Vieira Lima (BA), que também fez campanha por Aécio e contou com apoio de deputados do Norte, Nordeste e Sul contra o que seus adversários chamaram de "hegemonia do PMDB do Rio" porque os pemedebistas do Estado ocupam a presidência da Câmara e da fundação do partido e agora também a liderança da bancada. A força do PMDB do Rio de Janeiro foi preponderante para a vitória. O governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e prefeito da capital, Eduardo Paes (PMDB), fizeram campanha ativamente por seu candidato, com ligações para deputados na madrugada anterior à votação. O grupo de Picciani só parou de telefonar para os colegas quando teve certeza que teria 34 votos dos 67 deputados que votariam. A votação foi resultado de uma manobra do diretório do Rio. Dois deputados do PSD fluminense - Sergio Sveiter e Alexandre Serfiotis - se licenciaram para dar lugar aos suplentes Marquinhos Mendes e Celso Jacob, ambos do PMDB, que viraram a eleição a favor de Picciani. A articulação gerou críticas de aliados de Vieira Lima, que, nos bastidores, protestaram contra suposto favorecimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), ao aliado local - o que o pemedebista, que deixou até de votar na disputa, negou com veemência. A manobra só foi possível graças à forte ascendência do PMDB fluminense sobre outros partidos do Estado. Ao contrário do que ocorre em nível nacional, no Rio PMDB e PSD são fortes aliados e fizeram parte da coligação para reeleger Pezão, que se estendeu também para a chapa de deputado federal. Eleito para o quarto mandato, Leonardo, 35 anos, é de uma família de políticos que desde 1984 investe na criação de gado e é dona do Grupo Monte Verde. É filho de Jorge Picciani, presidente do diretório do PMDB do Rio e da Assembleia Legislativa do Estado, e irmão do deputado estadual licenciado Rafael Picciani (PMDB), secretário de Transportes da Prefeitura do Rio. A eleição para a liderança foi estratégica para consolidar a posição de pré-candidato ao cargo de prefeito do Rio em 2016, embora não seja o preferido de Eduardo Paes, que pretende fazer como sucessor o deputado federal Pedro Paulo (PMDB). A disputa local, contudo, foi relevada para manter a força do partido no Rio e Pedro Paulo atuou inclusive como um dos coordenadores da campanha para líder. Com a eleição ganha força também o PMDB de Minas, segunda maior bancada do partido e que indicou o 1º vice-líder, Newton Júnior, filho do ex-governador Newton Cardoso. Os mineiros ainda devem ter espaço de destaque em uma comissão e ficar novamente com a relatoria do novo Código de Mineração. Na tentativa de reconstruir pontes e fortalecer o partido, Picciani pregou a união da bancada após a eleição e de uma maior proximidade entre os deputados, senadores e diretório nacional do partido. Em acordo com Eduardo Cunha, ofereceu a presidência ou relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras para o segundo colocado, que rejeitou. "Fui candidato a líder, não a presidente de CPI. Vou dar espaço para outros", afirmou Lúcio ao Valor.