A presidente Dilma Rousseff deixou claro ontem que a promessa de governo novo, novas ideias foi abandonada de vez: nomeou a correligionária e amiga Miriam Belchior para a presidência da Caixa Econômica Federal, no lugar de Jorge Hereda. Sem qualquer experiência de gestão no mercado financeiro, Miriam terá como principal missão abrir o capital da instituição. O banco pertence integralmente ao governo federal e é líder no mercado de crédito imobiliário, com 70% dos financiamentos do país na área. 

Engenheira de alimentos e ex-professora da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a ex-ministra do Planejamento vai tomar posse do cargo somente em 23 de fevereiro. Até lá, o atual presidente ficará no cargo para preparar a transição. Os dois estiveram com a presidente Dilma ontem. Miriam às 10h - fato omitido da agenda oficial até as 18h30 -, e Hereda logo depois, às 11h. 

O atual presidente da Caixa assumiu o cargo em 2011 - assim com Miriam faz parte dos quadros do PT - e triplicou a carteira de crédito, fazendo-a atingir R$ 576,4 bilhões no ano passado. Isso foi o resultado da decisão do governo de reduzir taxas de juros dos bancos públicos e aumentar a oferta de financiamento, na tentativa de evitar a desaceleração da economia. Amanhã, segundo Hereda, a Caixa divulgará o balanço de 2014. 

Cargos preenchidos 
Além de definições na Caixa, houve nomeações no Banco do Brasil. O novo presidente do BB, Alexandre Abreu, nomeou ontem dois técnicos para cargos vagos, em uma demonstração de que pretende combater a influência política nas indicações. Para a posição de vice-presidente de Negócios e Varejo - cargo antes ocupado por ele -, foi oficializado pelo Conselho de Administração da instituição Raul Francisco Moreira, funcionário de carreira do banco há 27 anos, que anteriormente era diretor de Cartões. 

O cargo de vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores, ocupado, anteriormente, por Ivan Monteiro, que foi para a Petrobras, passa para José Maurício Pereira Coelho, também há 27 anos no BB. Ele era diretor de Finanças do BB. 

Há, porém, outros cargos no BB cobiçados por políticos. O vice-presidente de Gestão de Pessoas, Robson Rocha, filiado ao PT, já tem tempo suficiente de contribuição para pedir aposentadoria, assim como o de Tecnologia, Geraldo Dezena. O vice-presidente de Governo, Valdir Campelo, um nome ligado ao PTB, poderá ser substituído. A diretoria de Marketing também está na mira do PT e de partidos da base. A lista inclui, ainda, a presidência da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do banco, e da Cassi, o plano de saúde. 

Depois da derrota do partido na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, vencida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Planalto anunciou a disposição de oferecer a aliados cargos no segundo e terceiro escalões no governo e nas estatais. Segundo lideranças peemedebistas, o partido está à espera de um sinal do governo de que será contemplado com um quinhão maior da administração pública, o que ainda não ocorreu, porém. 

Na maior legenda da base depois do PT, que tem como vice o peemedebista Michel Temer, há queixas quanto ao resultado da reforma ministerial. O PMDB ficou com pastas que têm capacidade de investimento somada de R$ 5 bilhões por ano, enquanto o PR, titular do Ministério dos Transportes, de R$ 7 bilhões. O Ministério das Cidades, entregue ao PSD, sozinho, de R$ 16 bilhões. Avalia-se, no governo, que não é o momento para desagradar ao PMDB. 

Estragos 
No processo de depuração da Petrobras, foi demitido Sergio Machado da Presidência da Transpetro, uma das subsidiárias da empresa. Ele havia sido indicado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não quer ver seu quinhão no governo reduzido. Uma das reivindicações do PMDB é o controle da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nas mãos do PTB. Caso suas expectativas sejam frustradas, lideranças peemedebistas falam em "rever sua relação com o governo", sem esclarecer exatamente o tamanho do estrago que podem causar.