Advogados dos réus da Operação Lava-Jato, o procurador da força-tarefa da investigação Athayde Ribeiro Costa e o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, tiveram uma audiência tensa ontem. O objetivo era ouvir o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e outra testemunha na ação que acusa outro ex-diretor da estatal, Nestor Cerveró, de receber propina na compra de sondas da Samsung. A sessão de cerca de duas horas teve bate-boca, reclamação por causa de apelidos, acusações de "chicana", microfones cortados, pedidos de "sensibilidade" e de veto a perguntas. Costa e Cerveró assistiram a tudo juntos, na mesma sala com os outros réus, o doleiro Alberto Youssef, o lobista Fernando "Baiano" Soares e o executivo Julio Camargo. 

Servidores da Justiça Federal classificaram a oitiva de ontem como uma das mais tensas das últimas duas semanas. Com a sessão de sexta-feira, terminaram os depoimentos consecutivos de acusação nas seis ações criminais contra executivos de empreiteiras e Cerveró. Todas as denúncias são derivadas da Operação Juízo Final, a sétima fase da Lava-Jato, deflagrada em 14 de novembro passado. 

Segundo a denúncia, com ajuda de Youssef, Camargo pagou US$ 40 milhões em propinas a Cerveró e a Baiano em troca de fechar negócio de duas sondas da Samsung com a Petrobras - uma de US$ 586 milhões (US$ 1,2 bilhão em valores atuais). Os negócios aconteceram em 2006 e em 2007. Cerveró e Baiano negam terem recebido suborno. A Samsung não comenta o caso. Já Youssef e Camargo admitem envolvimento no caso, mas esperam que o acordo de colaboração premiada reduza ou elimine futuras punições. 

No início da audiência, os advogados de Baiano, com apoio dos de Cerveró, queriam adiar o encontro. O primeiro motivo foi argumentar que Moro era suspeito para conduzir o caso, que deveria tramitar no Rio de Janeiro - alegação várias vezes derrubada por tribunais superiores. O segundo, porque os defensores queriam terminar de ler as delações premiadas de Youssef e de Costa, tornadas públicas na quinta-feira, mas cujo conteúdo não tinha sido usado na denúncia. Em mais de 20 minutos de discussão, Moro rejeitou o adiamento da sessão e disse que só analisaria os pedidos mais tarde, sem suspender o processo. O procurador Athayde disse que a defesa tentava uma "chicana". "O argumento é inócuo. Estamos prezando pela razoável duração do processo", afirmou Athayde. O advogado de Fernando Baiano, Davi de Azevedo, disse que ele "cuidasse" das palavras e usasse termos "mais sensíveis, mais elegantes". As queixas só terminaram quando Moro cortou o microfone e iniciou o depoimento da testemunha. 

Pasadena 

No depoimento, Paulo Roberto Costa repetiu vários termos dos depoimentos em delação premiada prestados em setembro. Ele confirmou que recebeu US$ 1,5 milhão do lobista Fernando Baiano para "não atrapalhar" a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estado Unidos. Costa voltou a mencionar que as propinas eram pagas em quatro diretorias: Abastecimento; Exploração e Produção; gás e Energia; e também na Internacional. Algumas em conjunto com a Diretoria de Engenharia. Ele disse ainda que, "pelo que tem conhecimento", Cerveró também recebia propina. Entretanto, em relação às sondas da Samsung, Paulo Roberto Costa informou que desconhecia o assunto porque era de outro setor. Chegou a dizer que as decisões eram colegiadas e que Cerveró não poderia ter absoluta influência sobre o negócio para convencer os demais diretores. 

Suíça 

A Receita Federal confirmou ontem que US$ 7 bilhões pertencentes a brasileiros foram depositadas em contas bancárias abertas no banco HSBC na Suíça. O dinheiro foi creditado no exterior por 4,8 mil cidadãos do Brasil, que abriram as contas entre 1988 e 2006. Segundo o Correio apurou, entre os titulares dessas contas, estão réus e investigados na Operação Lava-Jato. 

Colaborou Célia Perrone 

Denúncia 

Confira detalhes da sexta ação da Operação Juízo Final, sétima fase da Operação Lava-Jato 

Os presos 

» Nestor Cerveró, ex-diretor Internacional da Petrobras 

» Fernando Baiano, lobista 

» Alberto Youssef, doleiro 

Solto 

» Júlio Camargo, executivo e operador 

A acusação 

» Camargo pagou US$ 40 milhões em propinas para negociar duas sondas da Samsung com a Petrobras no valor de US$ 1,2 bilhão, em 2006 e 2007 

A defesa 

» Cerveró e Baiano negam. A Samsung silencia. Youssef e Camargo admitem, mas esperam que o acordo de colaboração premiada reduza ou elimine punições 

A testemunha 

» O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa diz que desconhecia o negócio, mas reafirmou que Cerveró recebia propina em outras ocasiões