O petróleo começou 2015 em forte queda no mercado internacional, depois de ter perdido 46% de seu valor no ano passado. Neste início de ano, o cenário da commodity ganhou um agravante: a possibilidade da abertura das exportações americanas, podendo elevar a concorrência no mercado global do produto. A situação de excesso de oferta, que já derrubou cotação no ano passado, fica ainda mais preocupante com a possível oferta do petróleo dos Estados Unidos ao exterior, aumentando a pressão sobre os preços da commodity neste primeiro trimestre.

Ontem, o petróleo tipo Brent fechou o dia com queda de 5,4% na plataforma ICE, em Londres, a US$ 53,07 o barril. Enquanto o WTI teve queda de 4,2% em Nova York, a US$ 50,30 o barril.


Walter De Vitto, analista de energia da Tendências Consultoria, diz que o piso do barril pode estar entre US$ 35 e US$ 40. Nessa faixa de preço, operações de parte de petrolíferas deixa de ser viável. Isso força essas empresas a reduzir a produção no curto prazo, o que pode levar o preço a se recuperar em seguida. No entanto, isso não significa que o preço certamente cairá para este patamar. "A nossa perspectiva é de que o preço continue de lado, nessa faixa atual, que pode variar de US$ 50 a US$ 60 por barril", afirma.

A preocupação com as exportações dos Estados Unidos é apenas um novo fator de pressão sobre as cotações, que vêm sendo fortemente prejudicadas, desde dezembro, pela decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de manter sua cota de produção. Analistas do Credit Suisse estimaram que seria necessário um corte de produção de 1 milhão de barris da commodity por dia pelos membros da Opep para que o mercado ficasse balanceado.

Nos Estados Unidos, foi definida uma agenda para a discussão do fim de restrições às exportações do petróleo, que vigoram no país há quatro décadas. A lógica da mudança é a de que a abertura às exportações poderia incentivar investimentos em projetos de "shale oil" e no "shale gas" (óleo e gás não convencionais), que estão agora com viabilidade ameaçada pela queda do preço do petróleo.

Além das decisões da Opep e do governo americano, a valorização do dólar está contribuindo para a queda do preço do petróleo. Como o barril é negociado na moeda americana, o produto fica mais caro para compradores que detêm outras divisas, o que leva a uma redução do preço, como compensação.

Na projeção do Citi, o preço do Brent deve ficar em US$ 63 por barril, em média, em 2015. Em relatório sobre perspectivas para o mercado global de petróleo para este ano, publicado no domingo, os analistas ressalvam que existe uma possibilidade de 30% de que o preço médio fique em US$ 55 por barril.

O Citi menciona como um dos riscos do mercado de petróleo, do lado da oferta, a previsão da chegada na região do Golfo, nos Estados Unidos, de centenas de barris de petróleo extraído de areias betuminosas no Canadá, por meio de um oleoduto. Essa produção vai aumentar consideravelmente a oferta da commodity, avalia o banco. A possível batalha entre esse petróleo e o produzido pela Arábia Saudita pode pressionar os preços globais, acrescenta o Citi.

Apesar da forte queda das cotações desde o início de 2014, ainda não há uma redução significativa de produção no mundo, o que poderia ajudar a equilibrar o mercado. Os analistas comentam que os produtores globais não estão cortando a produção para o curto prazo. O que tem acontecido é a redução de planos de investimentos para o longo prazo, afirmam. No entanto, com o preço na casa dos US$ 40 por barril - ou abaixo disso -, o cenário mudaria.

"Nossa perspectiva é a de que ainda há espaço para o preço do petróleo cair mais antes de afetar a produção e influenciar as decisões de curto prazo. No longo prazo, já há cancelamentos de investimentos", afirma De Vitto.

Neste ano, o Citi calcula que o investimento global em exploração de petróleo vai cair entre 12% e 15%. A maior queda dos investimentos deve ser registrada no segmento de exploração e produção dos Estados Unidos, diz o banco, chegando a cerca de 20%.

Até o momento, as rupturas de oferta foram pouco significativas, com exceção da Líbia, que está reduzindo sua produção por causa de conflitos no país.

Em geral, analistas que acompanham o setor estimam um primeiro trimestre de mais recuos de preço do petróleo. Daqui a algumas semanas, conforme o frio ficar mais ameno no Hemisfério Norte, a demanda por energia para calefação tende a diminuir, o que afetará o mercado de petróleo. Com isso, a expectativa é de que o pior momento de demanda virá daqui a aproximadamente um mês.

No Brasil, a Petrobras é fortemente afetada pela queda do preço de seu principal produto. Ontem, as ações ordinárias da companhia caíram 8,11%, para R$ 8,27, a maior queda do Ibovespa. Já as preferenciais tiveram baixa de 8,01%, para R$ 8,61, segunda maior queda do índice. A queda afetou o Ibovespa, que recuou 2,05%, para 47.516 pontos.

O preço mais baixo do petróleo reduz os retornos dos investimentos da companhia, prejudicam o fluxo de caixa e dificultam a rolagem de dívida da empresa, dizem os analistas do UBS em relatório. Eles acrescentam que a forte pressão do governo brasileiro para que a Petrobras mantenha o seu nível de investimento, nem sempre com os melhores critérios, e política de manter os preços domésticos da gasolina subsidiados como instrumento de controle da inflação levou a um aumento acentuado do endividamento da empresa nos últimos anos, passando de R$ 76 bilhões em