A comemoração dos 35 anos do Partido dos Trabalhadores (PT) e dos 13 anos no governo virou um palanque para defesa do tesoureiro João Vaccari Neto, conduzido na quinta-feira coercivamente para prestar depoimento na Polícia Federal. O evento também serviu para justificar as últimas decisões impopulares da presidente Dilma Rousseff e tentar blindá-la das denúncias de corrupção na Petrobras. Na festa, feita estrategicamente na capital mineira, terra do tucano Aécio Neves e agora governada pelo PT, todas as autoridades do partido que discursaram repetiram a mesma fala em prol do tesoureiro, acusado pelo ex-gerente da estatal Pedro Barusco de ter arrecadado até US$ 200 mil em propina para a legenda. 

Ao longo do evento, todos os petistas que subiram ao palco foram obrigados a defender o partido, envolvido na Operação Lava-Jato, da PF. Em vez de discursos festivos, palavras de desagravo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva inclusive tentou desqualificar a ação de quinta-feira da Polícia Federal contra Vaccari. Antes de começar a ler o discurso, Lula saiu em defesa do tesoureiro. Ele afirmou que não costuma escrever o que vai falar em eventos do partido, mas que desta vez não quis se contagiar com a irritação que ficou com o ato da PF. "Tomei muito cuidado para não tentar repassar nessa festa a indignação que fiquei porque seria muito mais simples a PF ter convocado nosso tesoureiro para se apresentar em vez de ir buscá-lo em casa", disse. Lula, no entanto, disse que se algo de concreto vier a ser encontrado, "se alguém vier a trair nossa confiança", que a pessoa seja julgada e punida. 

Coube ao ex-presidente tentar contornar as críticas dos petistas com relação às medidas impopulares que a presidente tem tomado. "A companheira Dilma teve que tomar medidas que eram necessárias, que vocês vão ter que tomar na vida de vocês, mas tem que pensar de vez em quanto para tomar fôlego e seguir." 
Ele aproveitou para defender a sigla. "O verdadeiro problema do PT é que, se a gente não tomar cuidado, ele vai se tornando um partido igual aos outros, deixando de ser base para ser um partido de gabinete", disse, em referência à luta por cargos. 

Embora não tenha citado o nome do tesoureiro, a presidente Dilma Rousseff disse que precisava falar de corrupção para colocar os "pingos nos is". Ela repetiu que vai manter o compromisso no combate aos malfeitos e com a autonomia dos órgãos de controle. "Meu compromisso é chegar ao fim do mandato dizendo que nunca antes da história de um país um governo combateu com tanta firmeza a corrupção e a impunidade como nós", disse. No discurso, ela disse ainda que é preciso ter orgulho da Petrobras e que não podemos aceitar "que alguns tentem colocar a Petrobras como uma vergonha para o país". 

Com o partido em crise, o presidente do partido, Rui Falcão, reforçou a proximidade entre Lula e Dilma e foi o mais enfático na tentativa de reunificar o partido. Na avaliação dele, para superar esse momento que a sigla vive, será preciso um renascimento do PT. Para Falcão, é fundamental conter a ofensiva contra o partido e dar prioridade a reforma política. Isso inclui rejeitar a proposta que tem sido defendida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é favorável ao financiamento privado de campanha. Também esteve no evento, o presidente do Uruguai José Mujica. 

» Colaborou Daniel Camargos 

Protesto do lado de fora do evento 

Do lado de fora do Minascentro, na região central de Belo Horizonte, onde líderes e a militância do PT comemoraram os 35 anos do partido, um grupo de 80 manifestantes - segundo a Polícia Militar - gritava contra o governo petista. Com cartazes, alto-falantes e faixas, os manifestantes pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a responsabilização de lideranças petistas pelo escândalo da Petrobras.