O público era de calouros de engenharia e a tarefa, uma aula inaugural. O orador, o ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, valeu-se deles para fazer um alerta do potencial de disrupção social e política que a desindustrialização s e a falta de investimentos em tecnologia pode trazer ao país. Na década em que a Europa perdeu 60 milhões de empregos, comparou o ministro, o Brasil criou 20 milhões de postos de trabalho de até dois salários mínimos. No mesmo período (2003 a 2013), porém, o país perdeu quatro milhões de empregos acima de dois mínimos.

“A classe média urbana é um fenômeno da industrialização. Como estamos em processo de perda de substância de nossa capacidade industrial, a sociedade percebe isso e demonstra sua insatisfação. Não há como deixar de reconhecer o problema e enfrentá-lo”, disse Rebelo a alunos do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).

O ministro citou o déficit recorde em transações correntes, onde estão incluídas as contas com o exterior (balança comercial, serviços e transferências) para situar o desinvestimento em tecnologia: “É a chave de nossa tragédia”. Com a balança afetada pela queda no preço de commodities como minério de ferro, o déficit foi alargado pela alta na importação de serviços de tecnologia.

Como costuma fazer, Rebelo lançou mão da geopolítica para situar sua missão no ministério. “Não tenhamos ilusão, os Estados nacionais permanecem. O mundo não tem complacência com os fracos, precisamos de inovação para ter soberania, não podemos ser uma colônia tecnológica”.

O ministro calçou seu discurso com sua versão da revolução industrial: a China era a maior potência do século XVIII e o Reino Unido vinha logo atrás. Uma delegação inglesa foi à China para tentar vender o maquinário a vapor que haviam inventado. Os chineses dispensaram os ingleses: “Eles voltaram e ocuparam os portos chineses. O último deles só foi devolvido em 1997 (Hong Kong). Foi a inovação que levou os chineses a perder aquela batalha”.

Rebelo citou o fraco desempenho do Brasil em indicadores internacionais (61º lugar no Índice Global de Inovação) como ameaçador à condição do país como sétima economia mundial. E condicionou ambos – a inovação e o crescimento – à melhoria do país em exames internacionais de aferição de conhecimento, como o Pisa, que testa matemática, ciências e leitura.

Para Rebelo, a desculpa de que o Brasil não avança porque teve que promover uma inclusão em massa de estudantes no Ensino Fundamental não cola mais – “Como é que se explica que a China ocupe a liderança do índice?”.

Antes de ser confundido com uma liderança de oposição, Rebelo fez um apelo para que a sociedade não seja tomada pelo pessimismo. O ministro citou reportagem do Valor (20/02) com empresas do setor industrial e de infraestrutura que, segundo levantamento do BNDES, preveem elevar investimentos até 2018. “Queremos que toda corrupção seja investigada e punida, mas também queremos que a história da Petrobras e de grandes empresas não sejam confundidas com os crimes de seus executivos”, disse.