Se a saída de Graça Foster da presidência da Petrobras provocou euforia nos mercados financeiros, levando as ações da companhia a recuperarem perdas históricas e o dólar a recuar frente o real, o efeito inverso ocorreu com a indicação de Aldemir Bendine para controlar a maior empresa do país. A escolha do então presidente do Banco do Brasil (BB) para comandar a reestruturação da estatal, arrolada em denúncias de corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato, teve efeito devastador nos papéis tanto do banco quanto da petroleira. 

Para piorar, uma onda de incertezas que rondou as principais bolsas de valores ontem fez as tensões se elevarem também no Brasil. Resultado: o dólar subiu 1,34% e encerrou o dia cotado a R$ 2,778 - o maior valor desde dezembro de 2004. "Essa variação do câmbio reafirma a fortaleza da economia norte-americana e a fragilidade da recuperação brasileira. Então, o mercado juntou a fome com a vontade de comer e passou a apostar mais na moeda norte-americana", disparou o economista-chefe, Sul América Investimentos, Newton Rosa. 

Diante do pânico instalado entre investidores, as empresas consideradas mais suscetíveis a interferências do governo, como Petrobras e BB, foram as que mais sofreram com o mau humor generalizado. As perdas da estatal do petróleo foram tão grandes que, durante o pregão, a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) precisou negociar os papéis da empresa num leilão especial, numa tentativa de reduzir a volatilidade dos negócios. 

A estratégia surtiu pouco efeito: ao fim do dia, as ações preferenciais (PN) da estaral recuaram 6,93%, seguidas pelas ordinárias (ON), que dão direto a voto, com queda de 6,52%. Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs), recibos que representam ações da Petrobras, caíram 8,02% (ONs) e 8,73% (PNs). Apenas ontem, a petroleira perdeu R$ 8,5 bilhões, com o valor de mercado fixado em R$ 118,3 bilhões. Já os papéis do BB cederam 4,2%. 

Os maus resultados levaram a BM&FBovespa a recuar mais de 2% ao longo do dia. No fechamento do pregão, porém, as perdas se reduziram, mas não a ponto de reverter o resultado negativo de 0,9%, aos 48.792 pontos. Na semana, o indicador que acompanha os papéis das 100 maiores companhias da bolsa ainda encerrou com alta 4,2%, a maior variação semanal dede novembro de 2014. 

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones teve alta de 1,2%, comportamento seguido pelo S&P 500, com expansão de 1,03%. Só a bolsa de tecnologia Nasdac registrou queda, de 0,58%. 

Futuro ameaçado 
Os analistas estão céticos quanto ao desempenho do mercado acionário brasileiro. "A Petrobras é a maior empresa do país e se ela tiver que reduzir investimentos, como é o que se desenha no horizonte, isso certamente vai afetar o crescimento da economia neste ano", comentou Newton Rosa. As apostas de analistas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vêm encolhendo semana a semana e a crise na estatal pode agravar a situação. 

A mais recente aposta do mercado sobre a expansão da atividade econômica este ano partiu do Bradesco, que revisou a projeção para o desempenho do PIB de uma alta de 0,5% para uma queda de 0,5%. "A principal mudança em relação ao que esperávamos anteriormente se deu nos investimentos. Projetamos uma queda de 3,0% em 2015, após contração de 8% em 2014", justificou o diretor do Departamento Econômico do banco, Octavio de Barros, em análise a clientes. 

Mais um vez, a Petrobras está no centro das preocupações. "As razões (dessa redução do PIB) são a forte queda de investimentos noticiada no setor de petróleo, bem como os ainda baixos índices de confiança do setor", afirmou Barros. 

Aposentado perde US$ 1,5 mi 
O pedido de ação contra a Petrobras entregue ontem ao juiz da Corte de Nova York pelo escritório norte-americano Wolf Popper, em conjunto com o Almeida Advogados, dá como exemplo o prejuízo sofrido pelo aposentado brasileiro Robert Gomes de Melo, 62 anos, que perdeu US$ 1,53 milhão com investimentos em papéis da estatal. Ele trabalhou na PricewaterhouseCooper por vários anos e adquiriu 104,2 mil American Depositary Receipts (ADRs), recibos que representam ações negociados na Bolsa de Valores de Nova York, desvalorizados graças a "violações de leis federais dos EUA", ao não divulgar adequadamente os efeitos da corrupção nos negócios da companhia.