O novo governo grego superou um dos últimos obstáculos à extensão por mais quatro meses do pacote de ajuda econômica ao país, de € 172 bilhões, depois de os ministros das Finanças da região do euro terem aprovado uma lista de reformas econômicas que Atenas se comprometeu a adotar.

Mas duas das três instituições responsáveis por monitorar o programa expressaram fortes reservas quanto ao novo plano, sinal de que o futuro financeiro da Grécia continua longe de estar garantido.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) disseram que a lista de reformas, de seis páginas, apresentada pelo ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, não é fiel ao pacote atual, como Atenas havia prometido na semana passada.

Embora o BCE e o FMI tenham apenas papel consultivo para os ministros das Finanças da zona do euro, suas preocupações podem ter implicações nos parlamentos europeus, em especial no alemão, que precisam aprovar a extensão do programa de ajuda à Grécia antes de seu vencimento, no sábado.

Em curta nota anunciando seu aval, os ministros das Finanças da zona do euro disseram que os monitores do pacote de ajuda concordaram que a lista representa um “ponto de partida válido” para negociações sobre os novos termos do programa, mas alertaram Atenas dizendo que esperam mais detalhes nas próximas semanas.

Sem a extensão o atual programa de ajuda, algumas autoridades da zona do euro temem turbulências financeiras que poderiam desencadear uma corrida bancária e uma falência nacional da Grécia.

A decisão de prorrogar o programa impulsionou os mercados gregos. A Bolsa de Valores de Atenas subiu 9,8%, e o rendimento dos títulos governamentais referenciais, de dez anos, caiu para 8,57%, o menor patamar de fevereiro.

A aprovação, porém, não envolve a liberação de nenhum recurso. Pelo acordo da semana passada, Atenas não receberá os € 7,2 bilhões remanescentes do programa até concordar e adotar uma lista final de reformas até o fim de abril.

Autoridades envolvidas nas negociações disseram que as necessidades de financiamento de curto prazo da Grécia foram discutidas apenas brevemente pelos ministros. Varoufakis foi questionado sobre a posição do caixa do governo, mas não deu detalhes. Destacaram ainda que as opções para manter a solvência de Atenas nas próximas semanas são limitadas.

“Antes, acreditávamos que [o dinheiro] pudesse durar até junho”, disse uma autoridade. “Já não acredito nisso [...]. Vamos entrar em águas muito agitadas.”

Sem a aprovação do FMI, Atenas poderá ter semanas difíceis pela frente para cumprir o programa. Embora o socorro do FMI seja independente do da UE, vários países do norte da zona do euro, especialmente a Alemanha, têm insistido em que a UE somente desembolse ajuda simultaneamente.

Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha, pediu ontem a correligionários democratas-cristãos a aprovação da extensão pelo Parlamento alemão, prometendo que isso não constituiria uma aprovação final da lista de reformas propostas por Atenas.

Uma fonte no Parlamento disse haver “dúvidas sobre se [o plano grego] é confiável”. “Alguns [parlamentares alemães] rejeitarão isso, pois dizem não ser crível”, disse a fonte, acrescentando porém que uma “enorme maioria” do partido deve aprovar a extensão.

Em uma carta ao holandês Jeroen Dijsselbloem, presidente do grupo dos ministros das Finanças da zona do euro, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que a ausência de especificidade nessas áreas contenciosas a levaram a encarar a lista com preocupação. “Num bom número de áreas [...] incluindo talvez as mais importantes, a carta não expressa garantias claras de que o governo pretenda levar a cabo as reformas previstas no memorando [do pacote de ajuda corrente]“, escreveu.

Lagarde acrescentou ser improvável que o FMI disponibilize sua parte de € 3,6 bilhões da parcela de € 7,2 bilhões da ajuda, a menos que Atenas abrace reformas mais amplas que o “perímetro de políticas apresentado na lista do governo”.

Mario Draghi, o presidente do BCE, também expressou reservas, embora menos incisivas que as de Lagarde. Ele também observou que a lista é diferente do atual programa e advertiu que o banco teria de reavaliar se as reformas são suficientes, à medida que as negociações prosseguirem.

Autoridades da Comissão Europeia, a terceira instituição que monitora a ajuda à Grécia disseram que a lista de reformas tinha melhorado e, ao contrário do FMI e do BCE, deu seu apoio inequívoco ao plano.