A Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, já começa a sentir os efeitos da alta do dólar diante do real, por conta principalmente dos aparelhos celulares, com insumos atrelados à moeda estrangeira. A direção da empresa reconhece que, como qualquer indústria, tem que repassar os custos ao preço. Uma das medidas é restringir o subsídio aos aparelhos pós-pagos e direcionar o foco aos clientes que querem a rede 4G e têm rentabilidade alta.

O diretor-financeiro da Telefônica, Alberto Horcajo, disse que a companhia segue uma política conservadora, cobrindo todos os riscos cambiais. "Uma grande depreciação pode reduzir nosso esforço no investimento, mas isso não é uma preocupação", disse o executivo ao Valor. "Eventualmente, com o dólar muito valorizado, temos que manter uma rentabilidade mínima, então, pode haver impacto".

O diretor-geral da Telefônica, Paulo Cesar Teixeira, disse que os contratos são de longo prazo e com bandas cambiais bem definidas. Portanto, a empresa não foi surpreendida com a alta do dólar.

A receita operacional líquida da empresa atingiu R$ 35 bilhões no ano passado, 0,8% superior a 2013. No quarto trimestre, houveavanço de3,7%, para R$9 bilhões. O lucro líquido, de R$ 1,3 bilhão, cresceu 2,4% sobre igual período de 2013. Entre outros motivos, a companhia atribuiu esse resultado à revisão das bases fiscais de ativos intangíveis, feita no segundo trimestre. No ano, o lucro líquido somou R$ 4,9 bilhões, em alta de 32,9%.

O lucro sobre juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) consolidado atingiuR$ 2,74 bilhões no quarto trimestre, em queda de 4,3% sobre o mesmo período de 2013.

No segmento móvel, a receita líquida atingiu R$ 6,2 bilhões no quarto trimestre, 2,2% acima da registrada em 2013. A evolução foi atribuída principalmente aos serviços de dados e de maior valor (SVA). A rede 4G já cobre 40% da população.

O serviço fixo continua em queda nos resultados da Telefônica. A receita do fixo teve variação negativa de 4,8% no quarto trimestre e de 3,9% ao longo do ano. Apesar disso, a queda foi menor do que a verificada em 2013, de 6,4%.

A TV por assinatura cresceu 22,2% no trimestre (R$ 162 milhões), aumentando sua representatividade na receita do serviço fixo em 1,3 ponto percentual. A empresa registrou 43 mil adições líquidas em TV - a diferença entre a perda e o ganho de clientes.

Osinvestimentos na rede fixa estão concentradosem tecnologia de fibra óptica, disponível em 36 cidades de São Paulo. Em banda ultralarga, Teixeira disse que 60% dos novos clientes vêm da concorrência e o restante migra da rede de cobre da própria empresa.

No ano passado, os investimentos totais da empresa subiram 51% sobre 2013, para R$ 9,14 bilhões.

No segmento móvel,em dados evalor adicionado (SVA), a receita evoluiu 22,4%, com ajuda principalmente de internet e serviços de maior valor. A Vivo atingiu 79,9 milhões de acessos móveis, 3,5% acima do quarto trimestre de 2013. O pós-pago cresceu 19,7%, para 28,3 milhões de clientes, enquanto o pré caiu 3,7% (51,5 milhões de usuários).

A dívida líquida da companhia atingiu R$ 2,32 bilhões no trimestre. Há destaque para um aumento de R$ 526,9 milhões da dívida pelo pagamento da licença de 700 megahertz à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel ).

 

Operadoras são acionadas por bloqueio à internet

 

O Procon do Estado do Rio de Janeiro (Procon-RJ) informou ontem que entrou com uma ação civil pública, que tramita na 5ª Vara Empresarial, contra as operadoras de telefonia celular Vivo, Claro, TIM e Oi para suspender a prática de bloqueio do acesso à internet após o esgotamento da franquia de dados dos atuais planos de serviço. 

As operadoras também foram interpeladas pelo Ministério da Justiça. Na segunda-feira, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), que pertence ao ministério, notificou as quatro empresas de telefonia, para que prestem esclarecimentos sobre o assunto. Elas têm dez dias para responder ao pedido. 

A ação judicial do Procon-RJ foi motivada, segundo o órgão, pela "modificação unilateral" nos contratos existentes de telefonia com internet ilimitada. Antes, a velocidade do acesso à rede era apenas reduzida pelas operadoras quando o consumidor usava a totalidade da franquia de dados contratada. Recentemente, porém, os clientes de planos pré-pagos passaram a ter o acesso cortado ao atingir o limite. 

Na sexta-feira, a TIM comunicou aos clientes que os planos pós-pagos também seriam adequados ao novo sistema de cobrança. "A operadora de telefonia TIM começou a avisar seus clientes por mensagens de SMS de que pretende também efetuar o mesmo bloqueio para os seus usuários de serviço pós-pago, sugerindo que outras podem seguir o mesmo caminho", afirmou o Procon-RJ, em nota. 

De acordo com o órgão estadual, as operadoras "agiram de má-fé" ao interpretar o artigo 52 da Resolução 632/2014 da Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel). O trecho do regulamento determina que os consumidores sejam avisados, com antecedência mínima de 30 dias, sobre alterações e extinções de planos de serviço, ofertas e promoções. A entidade estadual de defesa do consumidor sustenta que, para a Anatel, "as mudanças unilaterais de contrato são práticas abusivas que ferem o direito adquirido previsto pela Constituição Federal e no Código de Defesa do Consumidor (CDC)". 

O objetivo do Procon-RJ é obter, por meio da ação judicial, uma liminar para que o consumidor continue utilizando o serviço de acesso à internet nos termos que foram contratados. "Caso alguma das empresas citadas na ação não cumpra a liminar, ela pagará uma multa diária de R$ 50 mil", informou a entidade em nota. 

Além disso, o órgão de defesa do consumidor requer ainda que a suspensão do acesso à internet ou dos planos de dados contratados somente ocorra com os contratos firmados após a data em que esta ação civil pública foi instaurada. "As operadoras de telefonia devem elaborar cláusulas contratuais claras e objetivas, que expressem de forma ostensiva a limitação e o seu alcance", informou em nota. Havendo o descumprimento da ordem judicial também neste sentido, o órgão requer a aplicação de multa diária no mesmo valor de R$ 50 mil. 

Na ação, o Procon-RJ também solicita à Justiça que as quatro operadoras "deverão indenizar, da forma mais ampla e completa possível, os danos materiais e morais causados pela modificação unilateral que elas realizaram nos contratos de seus clientes".