O governo está limitando o volume de novos contratos de Fies, financiamento estudantil, por instituição de ensino. Cada instituição está conseguindo inscrever o equivalente a um terço do total de alunos que conseguiram no financiamento em 2014. Ao atingir esse teto, o sistema do Fies trava e o aluno não consegue concluir a operação, segundo o Valor apurou.

Questionado pela reportagem, o Ministério da Educação (MEC) informou ontem à noite que " a abertura do Fies 2015 leva em consideração a qualidade dos cursos, com atendimento pleno aos cursos nota 5. Já nos cursos nota 3 e 4 são considerados alguns aspectos regionais." A nota 5 é a pontuação máxima que um curso pode ter.

Segundo o MEC, essas exigências já constam da lei do Fies, mas na prática até o ano passado, o critério exigido era apenas que o curso tivesse nota igual ou superior a 3. O MEC não divulga quantos cursos têm nota 5. Mas é um percentual baixo, considerando-se que apenas 1% das instituições de ensino conseguiram a pontuação máxima em 2014.

Com base nas restrições percebidas pelas instituições até o momento, estima-se que apenas 250 mil alunos consigam o financiamento - patamar inferior ao de 2012 e que deve ser atingido no primeiro semestre. Há dúvidas se o programa será aberto para os calouros do segundo semestre. No acumulado de 2014, foram fechados 730 mil contratos de Fies.

O MEC abriu o sistema para novos alunos na segunda-feira, mas vários deles já não conseguem o financiamento. Relatos de alunos nas redes sociais mostram essas dificuldades e há casos em que o sistema do Fies, acessado pela internet, traz a informação de que o "limite financeiro da instituição de ensino está esgotado." Em uma importante instituição de ensino de São Paulo, cerca de 900 novos universitários tentaram obter o financiamento nos três primeiros dias de inscrição do Fies. Apenas um deles conseguiu.

Ontem, diante das incertezas sobre o tamanho do programa estudantil do governo, as ações das companhias de ensino superior despencaram. A Estácio e Ser Educacional tiveram perdas de 11,47% e 11,78%, respectivamente. Kroton perdeu 9,95% e Anima, 7,98%.

Ontem, o banco UBS realizou um encontro em São Paulo entre executivos de Kroton e Anima e investidores. Segundo fontes do setor, o encontro no UBS terminou com perspectivas desanimadoras sobre o Fies, apesar de o MEC ter recuado em suas exigências ao publicar uma nova portaria na última segunda-feira, informando que voltará a pagar 12 parcelas do Fies em 2016.

"Há ainda muitas incertezas regulatórias sobre o Fies. Acreditamos que haverá medidas para restringir o Fies em 2015, ou seja, haverá um número limitado de empréstimos disponíveis e que provavelmente serão distribuídos de acordo com a instituição", informou relatório do UBS, assinado por Maria Tereza Azevedo e Richard Dineen. Os analistas observam ainda que o Fies deverá ser completamente remodelado entre 2016 e 2018.