O aumento da gasolina forçou brasileiros a mudarem hábitos e trajetos. Responsáveis, em média, por quase 5% do orçamento das famílias, os combustíveis ganham um peso ainda maior num momento de inflação alta e de incertezas quanto aos rumos da economia. Decisões simples no dia a dia podem ajudar a amenizar o impacto dos recentes reajustes. 

Como a gasolina mais cara é só um dos vários tormentos dos consumidores neste início de ano, qualquer esforço para encher menos o tanque vale a pena, sustenta Edward Cláudio Júnior, diretor da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin). "Tudo o que pode ser feito deve ser feito", repete ele, como um mantra para estimular as pequenas economias. 

Deixar o carro na garagem e ir à padaria caminhando faz bem ao bolso e à saúde, sugere Edward. Optar pelo transporte público - nos lugares em que isso é possível - economiza combustível e, de quebra, estacionamento, item que, no acumulado de 12 meses, subiu 10,12% na média, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. 

Na hora do lanche ou do passeio fora de casa - quando o orçamento permitir -, a dica é priorizar destinos próximos e, antes de dar a partida no veículo, planejar o roteiro para evitar percursos desnecessários. "Buscar a namorada em casa virou declaração de amor", brincou a servidora Isabela Pacheco, 28 anos. 

Quando o reajuste da gasolina chegou às bombas dos postos, há uma semana, a relações públicas Daniele Barreto, 32, já tinha trocado o carro pelo metrô na ida ao trabalho. No fim do ano passado, ela fez as contas, experimentou e aprovou a mudança de hábito. Passou a economizar um tanque. "E ainda fico menos exposta aos riscos do trânsito", complementou. 

As estatísticas do metrô da capital federal ainda não captaram um maior fluxo de passageiros, mas, como Daniele, muitos brasilienses estão migrando para os vagões - os destinados para usuários com bicicletas nunca estiveram tão cheios. "A inflação está fazendo as pessoas desmistificarem o transporte público", percebe a relações públicas. 

O empresário José Silvério, 53, não tem escapatória: precisa do carro para trabalhar. Ele roda cerca de 4 mil quilômetros por mês devido aos compromissos da marmoraria que comanda. Qualquer centavo a mais no litro da gasolina pesa nas contas. "A recessão não dá sinais de melhora. O momento exige cautela", afirmou. 

Na última semana, em busca de um novo carro para as atividades da empresa, Silvério percorreu concessionárias. "Adoraria ter um veículo maior. Mas com a gasolina nesse preço não tem jeito", disse, justificando a escolha por um modelo de motor 1.0. Veículos mais econômicos, conta o empresário, proporcionam a ele uma economia de cerca de 30% ao mês. 

O aumento da gasolina mexeu até com a maneira de dirigir do autônomo Rogério de Oliveira, 47 anos. "Corria demais. Agora, estou tentando segurar o pé", confirma. Em tese, quem anda devagar exige menos do carro e, por tabela, consome menos combustível. A manutenção em dia também reduz gastos nesse sentido. 

O reajuste que elevou o litro da gasolina a R$ 3,45 em Brasília também fez Rogério reduzir os abastecimentos com o tipo aditivada, geralmente mais caro. Além disso, ele tem evitado encher o tanque. "Coloco menos e, quando acabar, acabou", pontuou. O carro mais potente da família passou a ser usado só nos fins de semana. 

Manutenção 

Cuidados com o carro podem, sim, ajudar a amenizar os gastos (veja quadro). Manter os pneus calibrados corretamente e ponderar o uso excessivo do ar-condicionado, por exemplo, levam o carro a demandar menos combustível, explicou o consultor automotivo Marcus Romaro. "Sustentar uma velocidade média, sem acelerações ou freadas bruscas também ajuda", emendou. 

Pela conjuntura atual e analisando os dados oficiais disponíveis, os salários não acompanharão, no médio prazo, o fôlego dos aumentos de preços no Brasil, alerta Edward Cláudio Júnior. "Por mais que seja difícil para muitas famílias, o momento é de economizar e abrir mão de confortos. Estamos só no começo de um complicado processo de ajustes". 

Aliviando o bolso 

Com os preços dos combustíveis em alta, veja algumas dicas para economizar 

» Faça as contas e veja quanto os combustíveis pesam no orçamento. Se possível, deixe o carro na garagem alguns dias da semana, optando pelo transporte público 

» Proponha a colegas do trabalho que morem perto a "carona solidária" e rateiem a gasolina. Organizar o trajeto antes de sair de casa também pode evitar caminhos mais longos e desnecessários

» Calibre os pneus pelo menos a cada 15 dias. Os pneus podem ser responsáveis por até 20% do consumo de combustível. Automóvel alinhado também economiza combustível 

» Respeite os limites de velocidade. Além de cuidar da segurança, pode economizar cerca de 20% reduzindo uma média de 100km/h para 80km/h, por exemplo 

» No caso de veículos de câmbio manual, respeite a troca de marcha, de acordo com a velocidade correspondente. Um carro a 30km/h na quarta marcha, por exemplo, fará um consumo desnecessário 

» Carro mais carregado exige maior aceleração e, portanto, gasta mais combustível. Dê uma olhada em objetos deixados no veículo, sobretudo no porta-malas, e verifique se eles não podem ser retirados

» Claro que em dias de calor e em cidades mais quentes o sacrifício não vale a pena, mas o ar-condicionado ligado aumenta, em média, 20% o consumo do veículo 

» Não há necessidade de "aquecer" o carro antes de tirá-lo da garagem. Evite também as aceleradas bruscas, por exemplo, quando o semáforo fica verde 

» A troca das velas - responsáveis por gerar energia na câmara de combustão para iniciar a queima da mistura ar/combustível - e dos filtros deve ser feita conforme recomenda a montadora 

Fontes: Educadores financeiros e consultores automotivos