Depois de um silêncio eloquente de quase dois meses, a presidente Dilma Rousseff aproveitou uma protocolar entrega de credenciais para embaixadores para criticar a oposição e afirmar que, se as investigações na Petrobras tivessem começado nos anos 1990, as coisas não teriam atingido o ponto que chegaram. "Se em 1996, em 1997, tivessem investigado e tivessem, naquele momento, punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou quase 20 anos praticando atos de corrupção", disse ela, em uma referência ao depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco à Justiça Federal.
Barusco negociou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e disse que, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, recebeu, pela primeira vez, o pagamento de propinas por um fornecedor interessado em fechar contratos com a Petrobras. "Nós, atualmente, não temos engavetador da República, não temos controle sobre a Polícia Federal, nós não nomeamos pessoas políticas para os cargos da Polícia Federal. Isso significa que, junto com o Ministério Público e com a Justiça, está havendo no Brasil um processo de investigação como nunca foi feito antes", afirmou a presidente.

Dilma voltou a demonstrar preocupação e pediu cuidado nas investigações para que não se confunda as empresas com empregados das mesmas que cometeram irregularidades. A afirmativa coroa uma semana em que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teve que justificar encontros com os advogados das empreiteiras investigadas e no dia em que o jornal O Estado de S.Paulo afirmou que diretores das construtoras foram pedir ajuda e conselhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"As empresas, os donos das empresas ou os acionistas delas empresas vão ser investigados. Porque a empresa não é um ente que esteja desvinculado dos seus acionistas", prometeu, acrescentando, no entanto, que tudo será feito dentro da legalidade. "Nós iremos tratar as empresas tentando, principalmente, considerar que é necessário criar emprego e gerar renda no Brasil. Isso não significa, de maneira alguma, ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que seja, doa a quem doer", destacou. "A impunidade - isso eu disse durante toda minha campanha -, ela leva água para o moinho da corrupção".

Ela repetiu, contudo, a defesa enfática da Petrobras. Foi a primeira declaração pública da presidente após a troca de comando na estatal, com a saída de Maria das Graças Foster e a entrada de Aldemir Bendine. "Eu não vou tratar a Petrobras como se a Petrobras tivesse praticado malfeitos. Quem praticou malfeitos foram funcionários da Petrobras, que vão ter de pagar por isso. Quem cometeu malfeitos, quem participou de atos de corrupção, vai ter de responder por eles. Essa é a regra no Brasil", reforçou.

Ajuste fiscal

Seguindo sugestão do ex-presidente Lula, como antecipou o Correio antes do carnaval, a presidente defendeu as medidas de ajuste fiscal encaminhadas ao Congresso - as mudanças na legislação trabalhista e previdenciária - e o veto à correção em 6,5% da tabela do Imposto de Renda. "Eu tenho um compromisso, eu vou cumprir meu compromisso: é 4,5%."

Questionada sobre a possibilidade de o Congresso derrubar o veto, Dilma foi explícita. "Eu sinto muito porque nós não estamos vetando porque queremos, nós estamos vetando porque não cabe no orçamento público. Nunca deixamos de esconder que era 4,5%", afirmou ela, em um ato falha, querendo dizer na verdade, que nunca escondeu que só poderia dar 4,5%.

Sobre as duas medidas provisórias encaminhadas ao Congresso, Dilma refutou que o governo pretenda flexibilizar a legislação trabalhista. "O que é flexibilização da legislação trabalhista? É acabar com o 13º, com férias, com aviso prévio", enumerou ela. Dilma explicou que a intenção é corrigir distorções, a exemplo das medidas implantadas no Bolsa Família para tornar o programa mais eficiente. "Nós estamos aperfeiçoando a legislação porque a legislação tem que ser aperfeiçoada."

Silhueta mais fina

A presidente Dilma Rousseff apareceu ontem na cerimônia da entrega das cartas credenciais dos embaixadores visivelmente mais magra. Desde o fim do ano passado, a presidente é adepta da dieta do argentino Maximo Ravenna. "Eu emagreci, viu? Fiz duas coisas: a gente fecha a boca e faz um pouco de ginástica", disse, após ser elogiada por jornalistas. A dieta de Dilma deve seguir a limitação de 800 a 1,2 mil calorias por dia, com restrição de carboidratos, açúcar e outros. O tratamento é caro, custa em média R$ 1.900, e o paciente deve contar com o acompanhamento de um educador físico, um nutricionista e um psicólogo. Além de Dilma, os ministros da Agricultura, Kátia Abreu; da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, são adeptos da dieta. A presidente já emagreceu pelo menos 12kg. (JC)

>> ponto a ponto

Tudo o que a presidente disse após 50 dias de silêncio protocolar

Empreiteiras e Lava-Jato

» "As empresas, os donos das empresas ou os acionistas vão ser investigados. O governo fará tudo dentro da legalidade. Nós iremos tratar as empresas tentando, principalmente, considerar que é necessário criar emprego e gerar renda no Brasil. Isso não significa, de maneira alguma, ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que seja, doa em quem doer"

Petrobras

» "Eu não vou tratar a Petrobras como a Petrobras tendo praticado malfeitos. Quem praticou malfeitos foram funcionários da Petrobras, que vão ter de pagar por isso. Quem cometeu malfeitos, quem participou de atos de corrupção, vai ter de responder por eles. Essa é a regra no Brasil"

Investigação no governo FHC

» "Se em 1996, em 1997, tivessem investigado e tivessem, naquele momento, punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras (Pedro Barusco) com quase 20 anos praticando atos de corrupção. A impunidade - isso eu disse durante toda minha campanha -, ela leva água para o moinho da corrupção"

Investigação no governo Lula

» "Nós não temos engavetador da República, não temos controle sobre a Polícia Federal, nós não nomeamos pessoas políticas para os cargos da Polícia Federal. Isso significa que, junto com o Ministério Público e junto com a Justiça, todos os órgãos do Judiciário, está havendo no Brasil um processo de investigação como nunca foi feito antes. Não que antes não existia. É que antes não tinha sido investigado e descoberto"

Reajuste do IR

» "Eu tenho um compromisso, eu vou cumprir meu compromisso: é 4,5%. Nós não estamos vetando porque queremos, nós estamos vetando porque não cabe no orçamento público. Nunca deixamos de esconder que era 4,5%"

Derrubada do veto no Congresso

» "Se, por algum motivo, não quiserem os 4,5%, nós vamos ter que abrir um processo de discussão novamente. O governo tem condições perfeitamente, de agora, olhar os 4,5%. É isso que nós faremos"

Flexibilização da legislação trabalhista

» "Não vai ter, não. O que é flexibilização da legislação trabalhista? É acabar com o 13º, com férias, com aviso prévio. Todas as medidas que nós tomamos têm um objetivo. Eu não estou falando aqui das (medidas) fiscais, estou falando daquelas que dizem respeito a seguro-desemprego, abono doença, abono salarial, a pensão por morte. Nós estamos aperfeiçoando a legislação porque a legislação tem que ser aperfeiçoada"

Negociação com o Congresso

» "Eu acho que sempre há negociação. Ninguém acha que, em um país democrático como o Brasil, que tem um Congresso livre, que tem movimentos sociais sendo ouvidos e com os quais você dialoga, não há negociação. Sempre há negociação, mas também há posições claras. Eu acho que os lados têm de defender posições claras"