Políticos do PSDB rebateram, de forma contundente, as declarações da presidente Dilma Rousseff de que a Petrobras deveria ter sido investigada desde os anos 1990, com base na delação premiada do ex-gerente da estatal Pedro Barusco. O presidente nacional da legenda, o senador Aécio Neves (MG), e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso emitiram opiniões sobre a entrevista da petista. "Depois de um conveniente silêncio que durou cerca de dois meses, a presidente reaparece, parecendo querer zombar da inteligência dos brasileiros ao atribuir o maior escândalo de corrupção da nossa história, patrocinada pelo governo do PT, a um governo de 15 anos atrás", declarou Aécio.
Para Aécio, a presidente volta a viver no país da fantasia que conduziu durante a campanha eleitoral. "Provavelmente essa declaração é fruto das últimas conversas que ela teve com seu marqueteiro (João Santana). A presidente, mais uma vez, tenta levar os brasileiros à ilusão de que vivemos em um país que não é real", criticou.

O presidente nacional do PSDB não questiona as declarações de Barusco, que admitiu ter começado a receber propina nos anos de 1996 e de 1997 (durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso). Mas defende que, se Dilma leva em consideração a delação premiada do ex-gerente, deveria responder todas as acusações feitas por ele. "Se a presidente da República dá crédito às declarações do senhor Pedro Barusco - e nós damos créditos, sim, a todas as declarações dele -, é preciso que ela venha a público dizer o que acha quando ele afirma que US$ 200 milhões foram transferidos para o PT durante esses últimos 12 anos", afirmou Aécio. "Na verdade, esse assunto é de extrema gravidade e não é possível que a presidente da República o trate de forma tão simplista e, a meu ver, tão incorreta", completou.

Presidente da República entre 1995 e 2002, Fernando Henrique Cardoso divulgou nota afirmando que Dilma "não deveria encobrir suas responsabilidades, mas fazer um exame na consciência" e admitir que se descuidou. O ex-presidente disse que, até então, não se manifestou sobre culpados pelo esquema de corrupção da Petrobras, mas foi obrigado a se pronunciar. "Uma vez que a própria presidente entrou na campanha de propaganda defensiva, aceitando a tática infamante da velha anedota do punguista que mete a mão no bolso da vítima, rouba e sai gritando "pega ladrão", sou forçado a reagir", disse.

Após apontar a relação do PT com o escândalo, o ex-presidente diz que Dilma foi descuidada e deveria fazer um exame de consciência. "Poderia começar reconhecendo que foi, no mínimo, descuidada ao aprovar a compra da Refinaria de Pasadena", avaliou. "O delator a quem a Presidente se referiu foi explícito em suas declarações à Justiça. Disse que a propina recebida antes de 2004 foi obtida em acordo direto entre ele e seu corruptor; somente a partir do governo Lula a corrupção, diz ele, se tornou sistemática. Como alguém sério pode responsabilizar meu governo pela conduta imprópria individual de um funcionário se nenhuma denúncia foi feita na época?", completou.

Ministro da Justiça

Aécio fez questão de diferenciar os dois momentos de atuação de Barusco como funcionário da Petrobras. "Acredito que ele, no governo do PSDB, por iniciativa própria - e é ele quem diz - fez sim o entendimento com o dirigente de uma empresa à qual havia beneficiado e recebeu uma propina individualmente. Isso é triste, é lamentável, e ele será punido também por isso. Mas o que é grave, o que estamos assistindo no Brasil é o que jamais havia acontecido na nossa história: a institucionalização da corrupção em benefício de um projeto de poder."

O senador defendeu que a CPI da Petrobras convoque o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que se reuniu com advogados das empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato. E achou absurda a informação de que representantes das construtoras teriam procurado conselhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à operação feita pela PF e pelo Ministério Público Federal. "Eu custo crer que isso possa ser verdade, porque é algo acintoso à própria democracia. Recorrer a um ex-presidente como se o Brasil fosse uma republiqueta, onde a interferência política pudesse mudar o rumo de investigações, é desconhecer a realidade", destacou.

Já o presidente nacional do DEM, senador José Agripino, atribui as declarações de Dilma à influência do marqueteiro João Santana. "O governo do PT continua a querer tapar o sol com peneira."

Depois de um conveniente silêncio que durou cerca de dois meses, a presidente reaparece, parecendo querer zombar da inteligência dos brasileiros ao atribuir o maior escândalo de corrupção da nossa história, patrocinada pelo governo do PT, a um governo de 15 anos atrás"