Depois de uns dias de refresco com o aumento do nível da reserva do Cantareira, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que o estado está longe de viver um rodízio de abastecimento e confirmou mais uma ação para evitar a medida. A água da Represa Billings será transferida para o Sistema Rio Grande, transferida para o Alto Tietê, tratada, e servirá para abastecimento humano. Apesar de ter alta capacidade, a água da Billings é poluída e o uso dela é questionado. Especialistas avaliam que a proposta é eficaz em um momento de emergência, mas o risco de a água não atingir uma boa qualidade existe.

“Não há nenhuma previsão de rodízio, nós não estamos mais dependendo tanto de chuva”, disse o governador. A afirmação acontece no momento em que os níveis dos reservatórios sobem por causa das chuvas de verão que atingem o Sudeste. Em Sorocaba, Alckmin afirmou que as obras que servirão para o aumento da captação de água no estado estão em ritmo bom.

Após uma série constante de precipitações, o Sistema Cantareira operava ontem com 10% da capacidade da segunda cota do volume morto, a 15ª alta seguida. Ele é o principal reservatório de São Paulo, atende a cerca de 6,5 milhões de habitantes na capital paulista e em 13 municípios. Já o Sistema Rio Grande, para onde será transferida a água da Billings, abastece 1,2 milhão de pessoas em Diadema, São Bernardo e Santo André, e o Alto Tietê, a 4,5 milhões de habitantes.

De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), as medidas para conter a crise incluem o aumento da capacidade de tratamento de água e de captação de diversos sistemas. Além do braço do Rio Grande na Billings, serão usados mais alguns da represa para tratamento. As obras que levarão a água até o Alto Tietê devem ficar prontas até o fim do primeiro semestre, segundo o governador. A expectativa é que o aumento de captação e o tratamento aumentarão em 10,4 m³/s o fornecimento de água.

Risco
Na avaliação do professor de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB) Oscar Cordeiro Netto, a medida de transferência de água da Billings é eficaz, mas poderia ter sido tomada antes. “É uma medida dentro de um cenário de crise, de falta de água. É uma medida que poderia ter sido tomada antes”, disse. A ressalva de Oscar acontece em relação à qualidade do recurso. “Ele vai misturar uma água limpa (de Rio Grande) com uma suja (Billings). A qualidade vai depender das condições de tratamento. A estação vai ter de dar conta da piora da qualidade”, diz.

O professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Eduardo Morelli Tucci avalia que, pela água ter uma qualidade inferior, a medida só deve ser adotada em caráter emergencial e interrompida o quanto antes. Tucci ressalta que a falta do tratamento do esgoto que vai para Billings é o que a faz ser tão contaminada. “Você vai lançar um esgoto não tratado em uma água boa e depois tratá-la. Há o risco de a água perder qualidade”, diz.

Tucci destaca que a Billings tem um depósito de poluentes no fundo, tanto orgânico quanto de metais, e, se por acaso as bombas atingirem o fundo da represa, será pior ainda. “O uso da água para abastecimento tem de ser uma medida só de emergência e tem de ter muitos cuidados”, diz.

Você vai lançar um esgoto não tratado em uma água boa e depois tratá-la. Há o risco de a água perder qualidade”
Eduardo Morelli Tucci, professor da UFRGS

Situação emergencial
Confira algumas medidas adotadas para frear a crise hídrica:
1) Prorrogação do programa do bônus para quem economizar água. 
O bônus já registrou adesão de 80% dos consumidores.
2) Cobrança de taxa de 40% do valor da tarifa para quem exceder em 
20% a média do consumo.
3) Adoção de manobras de redução de pressão para evitar perda de água.
4) Fornecimento de economizador de água para torneiras aos clientes da Sabesp.
5) Disponibilização de caixa d’água aos clientes de baixa renda.
6) Aumento na produção de água com obras pelo estado. Uma delas é a do Sistema Produtor de Água São Lourenço, em parceria público-privada. O investimento é de R$ 2,2 bilhões e a conclusão está prevista para 2017.