Assim como a inflação crescente nos mais diversos setores, o custo de manter um automóvel tem pesado cada vez mais no orçamento familiar. No Distrito Federal, as despesas são, em geral, maiores que no resto do país. Pintar o veículo, por exemplo, ficou 16,97% mais caro no último ano - um salto quase 3,5 vezes maior do que o aumento médio nacional. O emplacamento e o conserto do carro também custam mais aos consumidores de Brasília (veja quadro). Os preços de acessórios e de peças no DF cresceram 10,27%, contra 3,05% nas demais capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apenas com combustível e lavagem do carro, o analista de sistemas Murilo Bortolotto, 23 anos, avalia gastar cerca de R$ 600 mensais, uma conta 20% superior à de um ano atrás. Para evitar ainda mais despesas com o veículo, ele pretere até mesmo estacionamentos pagos. "Tem lugares que cobram quase R$ 10 por hora. Acabo arriscando a segurança do veículo e a minha própria para economizar alguma quantia no fim do mês", explicou. Apesar disso, ele considera que o sacrifício vale a pena diante das condições precárias do transporte público de Brasília. "Para chegar ao trabalho, eu precisaria pegar o metrô e um ônibus. Infelizmente, o carro acaba sendo um mal necessário", ponderou.
Se para simples consumidores, como Murilo, as contas já pesam no bolso, para quem tem no carro um instrumento de trabalho, a situação chega a ser desesperadora. "Sinto que parei de viver a minha vida e aproveitar os momentos com a família para ser escravo do serviço", disse o taxista Leonardo Rocha, 27. Para rodar cerca de 500km por dia, ele gasta cerca de R$ 2.200 com gasolina mensalmente. Tanto chão percorrido o faz levar o automóvel a uma oficina uma vez por mês para reparos pontuais, que chegam a R$ 450. "Meu custo é bem maior que a renda líquida. Hoje, trabalho 12 horas diárias para conseguir o mesmo tanto que há um ano", lamentou ele, que fatura cerca de R$ 3 mil mensais.
Insumos
A inflação dos carros está disseminada. Há 12 meses, para a troca de um pneu a cada cinco meses, Leonardo desembolsava R$ 540. Hoje, o valor chega a R$ 680, uma alta de 26%. A pintura de uma peça chega a sair, em concessionárias, por R$ 600. Em uma revendedora Chevrolet, o gestor de veículos novos Pedro Sena revela que parte das peças e o óleo estão cerca de 20% mais caros, e que a empresa não tem como segurar o repasse ao consumidor. "De uma forma geral, todos os insumos aumentaram em um ano", afirmou.
Na avaliação do professor de economia Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), a alta dos preços pode estar associada às próprias condições do mercado automotivo, que está em crise. "Devido a retração do setor, é possível que as empresas estejam forçando o preço dos serviços de manutenção para compensar a baixa produção", disse.
Para Fábio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o encarecimento do crédito, que dificultou a compra de carros novos pode ser um dos vilões. "Se fica caro comprar um automóvel novo, o brasileiro tende a pressionar mais a demanda por serviços de manutenção de veículos usados", analisou.
Seguro
Outro fator que também tem tirado poder de compra do consumidor é o seguro voluntário de automóveis. O servidor público Airton Almeida, 30 anos, pagou R$ 1,5 mil pelo benefício no último ano e desistiu de renovar após ouvir do corretor uma proposta 33% maior. "Troquei de carro e já estou sentindo gastos maiores com manutenção e gasolina. Penso em me casar nos próximos meses, então é um investimento que decidi adiar", contou.
Empresário de uma seguradora na capital federal, Alex Miranda revela que a média de reajuste tem sido de cerca de 20%. Mas ele destaca que, como em todos os mercados, tem sofrido o impacto da crise econômica. "A inflação também tem afetado meus negócios", afirmou. Mas ele destacou que são os fatores sociais o principal motivo de crescimento do valor dos seguros. Somente no Distrito Federal, o índice de roubos e furtos aumentou 26,47% no primeiro semestre de 2014. Em todo o país, o índice chegou a 39,29%, segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
Colaborou Diego Amorim
Direção custosa
Manter o carro e colocá-lo nas ruas tem pesado cada vez mais no orçamento familiar (%)
Variação dos preços em 12 meses
Serviço Brasil DF
Emplacamento e licença 3,07 4,27
Óleo lubrificante 7,97 5,21
Acessórios e peças 3,05 10,27
Conserto 9,92 11,85
Estacionamento 10,12 -
Pedágio 5,22 -
Pintura de veículo 4,86 16,97