Os ex-ministros petistas Antonio Palocci e José Dirceu eram as "ligações" do PT com Julio Gerin Camargo, acusado pela Operação Lava-Jato de ser operador financeiro de propinas em contratos com a Petrobras. A afirmação foi feita em depoimento da delação premiada do doleiro Alberto Youssef prestado em 13 de outubro do ano passado. Camargo fechou colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e se comprometeu a devolver R$ 40 milhões desviados da estatal. Palocci coordenou o programa de governo da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e foi ministro da Fazenda no primeiro mandato do petista. Em 2011 assumiu a Casa Civil no governo Dilma Rousseff por poucos meses. Procurado pelo Valor, o ex-ministro disse que não iria comentar. Youssef disse que o ex-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu usou jatinho de propriedade de Julio Camargo. "Destaca que Julio Camargo possuía ligações com o Partido dos Trabalhadores - PT, notadamente com José Dirceu e Antonio Palocci; que tem conhecimento de que Julio Camargo era proprietário do avião Citation Excel, que teria sido utilizado em diversas oportunidades por José Dirceu (...) que não sabe dizer quantas vezes o avião foi utilizado por José Dirceu e nem a razão do uso, mas pode afirmar que Julio Camargo e José Dirceu são amigos". O doleiro não soube informar valores que teriam sido repassados a Dirceu, mas contou que o ex-ministro teria usado o jatinho do lobista depois de deixar o governo Lula. "O avião em que Dirceu teria voado "fica guardado no Angar 1 da companhia aérea TAM, no aeroporto de Congonhas", disse. Em comunicado à imprensa, José Dirceu negou que tenha recebido recursos do empresário Julio Camargo, "ou de qualquer outra empresa investigada pela Operação Lava-Jato". Ele disse que não representou o PT nas negociações com Camargo ou com qualquer outra construtora. O ex-ministro afirmou ainda que, depois que deixou a chefia da Casa Civil, em 2005, "sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo". Youssef relatou também que um homem chamado Franco Clemente Pinto era o responsável pela contabilidade de Julio Camargo. O contador usaria siglas para se referir a supostos recebedores de propinas. O doleiro afirmou ter tratado de dois pagamentos de cerca de R$ 400 mil cada destinados ao PT e negociados com João Vaccari Neto. Ele disse que um valor total de R$ 880 mil foi pago pela empresa Toshiba Infraestrutura em contrato das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) no período de 2009 e 2010: "O valor do PT foi negociado com João Vaccari, que na época representava o PT nos recebimentos oriundos dos contratos com a Petrobras", afirmou Youssef, que disse que um dos pagamentos foi recebido pela cunhada de Vaccari, Marice Corrêa Lima, no escritório do doleiro em São Paulo. O outro repasse de propina, segundo Youssef, foi feito pessoalmente a Vaccari em uma "sacola lacrada" em restaurante localizado na região da Avenida Paulista. A segunda entrega de suposta propina a Vaccari ficou a cargo de Rafael Ângulo Lopes - réu na Lava-Jato e um dos "couriers" de Youssef, segundo a acusação - em local que teria sido indicado pelo executivo da Toshiba. "Este valor também girava em pouco mais de R$ 400 mil", disse. O doleiro explicou que a contratação da empresa para obra do Comperj corria risco de ser desclassificada e que por isso ele e Paulo Roberto Costa foram procurados por representante da Toshiba. Youssef afirmou ter falado diretamente com "o presidente da Toshiba no Brasil, que ficava em São Paulo". O doleiro disse ainda ter tratado com um diretor comercial chamado Piva. "Iriam dar 1% para o PP e 1% para o PT", disse. A assessoria da Toshiba não foi localizada. Vaccari também foi citado como intermediário de propina ao PT por outro delator, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Sessenta e três termos de declarações das colaborações de Costa e Youssef foram tornados públicos ontem pelo juiz Sergio Moro, titular dos processos da Lava-Jato na Justiça Federal de Curitiba. O ex-diretor do Abastecimento disse que o grupo OAS repassou "valores para uso político" do PT a Vaccari. Vaccari e o ex-diretor de Serviços da petrolífera Renato Duque estão relacionados na investigação como dois de 11 supostos operadores financeiros com atuação em contratos da estatal. Procurada pelo Valor, a OAS disse que "refuta veementemente essas alegações". O ex-diretor de Abastecimento citou ainda o ex-líder do governo na Câmara e ex-deputado federal Cândido Vaccarezza (PT) como beneficiário de propina de R$ 400 mil por contrato de importação de asfalto da Petrobras firmado com a empresa Sargent Marine. A negociata teria envolvido o suposto lobista Jorge Luz e teria acontecido "no ano de 2009 ou 2010" no Rio de janeiro. Ao Valor o ex-deputado Cândido Vaccarezza disse que a afirmação é falsa e que não conhece a empresa mencionada: "Nunca apresentei nenhuma empresa ou recebi dinheiro do Paulo Roberto. Essa citação me inocenta. Ele disse que o outro disse a ele. Não sei com qual propósito o Jorge Luz citou meu nome. Tem de perguntar a ele e ao Paulo Roberto Costa", disse. Em nota, o secretário nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto "nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro por parte do senhor Alberto Youssef. Dessa forma, são absolutamente mentirosas as afirmações feitas por esse senhor, em processo de delação premiada, tanto no que concerne a uma suposta entrega de dinheiro para sua cunhada quanto em um suposto encontro em um restaurante".