As empresas que ainda produzem alumínio primário no país, após os grandes cortes realizados nos últimos anos, dizem que a produção pode cair ainda mais em 2015 caso aconteçam interrupções no fornecimento de energia elétrica.

 

Foram produzidas 970 mil toneladas de alumínio primário no ano passado, 26% menos do que em 2013, e o setor teme uma forte redução de sua atividade produtiva caso as empresas tenham problemas com o abastecimento energético.

"Um racionamento compulsório de energia seria péssimo para o setor. Na eventualidade de um apagão, o cenário seria catastrófico", afirma Milton Rego, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). As preocupações da indústria serão levadas ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, em uma reunião marcada para o dia 9 de março.

O setor de alumínio é eletrointensivo, mas produz atualmente uma quantidade de energia suficiente para suprir 65% de seu consumo. Isso significa que a autogeração pode suprir uma produção anual de aproximadamente 630 mil toneladas. Na prática, algumas companhias estão vendendo energia no mercado, como é caso da Alcoa e da Votorantim Metais, enquanto outras tem comprado o insumo.

Juntas, todas as empresas que ainda produzem no país - Alcoa, BHP Billiton, Votorantim Metais e Albras - utilizam aproximadamente 14,5 TWh em suas fábricas. A autogeração dessas companhias soma 9,5 TWh, segundo levantamento da Abal. A Novelis, que produzia o metal em Ouro Preto, fechou suas portas no ano passado e optou por concentrar sua operação em laminação e Reciclagem de alumínio. Antes dos cortes de produção de alumínio no país, que foram mais intensos nos últimos dois anos, mas acontecem desde 2008, o setor garantia 40% da energia consumida.

Neste ano, uma eventual restrição energética pode ser um fator acelerador do fim da indústria brasileira do alumínio primário. Desde 2008, o nível de produção já caiu 40%. A maior parte das linhas desativadas desde então não tem chance de ser retomada, afirmam fontes ligadas às empresas, que afirmam que a tendência é de continuidade da queda da produção.

No início deste ano, a operação das fábricas já está mais fraca do que no fim do ano passado, quando vinham sendo produzidas 70 mil toneladas mensais, segundo o presidente da Abal. Caso o nível de janeiro seja mantido, a produção deste ano já será 14% inferior à de 2014, de aproximadamente 830 mil toneladas. No entanto, a Abal diz que um corte de energia derrubaria ainda mais esse volume. "A energia é que vai ditar a produção. Se acontecer um racionamento de 10%, por exemplo, isso significará uma redução de no mínimo 10% na produção", afirma Rego.

A queda expressiva da atividade das companhias de alumínio primário no Brasil, nos últimos anos, foi resultado principalmente do alto custo da energia no país e do baixo preço do alumínio no mercado mundial. A despesa com energia corresponde por cerca de 55% do custo da produção do alumínio primário no Brasil atualmente, segundo a Abal.

O preço do metal, por sua vez, está estagnado há décadas. No ano passado, o alumínio foi negociado na bolsa de metais de Londres (LME, na sigla em inglês) por US$ 1.896 mil por tonelada, em média. Embora os prêmios pagos sobre esse valor estejam em patamares altos no Brasil, superiores a US$ 300 por tonelada, especialistas dizem que uma cotação que justificaria investimentos na área seria de cerca de US$ 2.400 por tonelada na LME.

Com a queda da produção local, a importação de alumínio primário e ligas disparou no ano passado. Foram importadas 363 mil toneladas, 249% acima das 104 mil toneladas de 2013, diz a Abal.

Na etapa de transformação do metal em produtos, a situação atual acaba forçando um aumento da Reciclagem, afirma Rego. A energia gasta para reciclar o metal corresponde a apenas 5% do gasto energético para a produção do metal primário a partir da alumina, afirma.
 
 
 
Consumo de transformados cai pela primeira vez em cinco anos
 

O consumo de produtos transformados de alumínio caiu 4% no Brasil no ano passado, o que não acontecia desde 2009, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). O segmento de transportes, que utiliza alumínio em partes de veículos, teve a redução mais expressiva na demanda pelo metal, com uma queda de 15% em relação a 2013. Também teve forte queda o consumo de alumínio pelo setor de bens de consumo, o que inclui utilidades domésticas, eletroeletrônicos e artigos esportivos, por exemplo. Nesse segmento, a redução foi de 9%, segundo a Abal.

O segmento de embalagens, que utiliza alumínio para latinhas de bebidas, por exemplo, foi o único que teve crescimento no consumo do metal, segundo Milton Rego, presidente da Abal. Com alta de 10%, impediu uma queda ainda maior do volume de uso dos transformados no ano.

O volume de alumínio consumido na forma de produtos somou 1,453 milhão de toneladas em 2014, 4% menos do que o total de 2013, de 1,512 milhão de toneladas. Naquele ano, houve um crescimento de 5% em relação a 2012, cujo volume tinha ficado praticamente estável em relação ao do ano anterior, de acordo com a associação.

A demanda piorou nos últimos três meses do ano. Até setembro, o consumo de alumínio acumulava redução de 2,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Entram nas contas da Abal as vendas de chapas, folhas, extrudados, fios e cabos, fundidos e forjados e também de pó e destrutivos de alumínio, usados na produção de aço e ferroligas.