O núcleo do governo da Argentina está na China. Além da presidente Cristina Kirchner, que chegou ontem a Pequim, a comitiva, formada por dez pessoas, inclui os ministros Axel Kicillof e Julio De Vido, da Economia e do Planejamento, além de políticos das regiões escolhidas pelos chineses para futuros investimentos. A área de energia é o principal foco e amanhã será ratificado o acordo que prevê a construção de duas hidrelétricas na Patagônia.

De Vido está em Pequim desde a semana passada e de lá informou Cristina que os chineses já haviam liberado a primeira parte do investimento nas hidrelétricas, cujas obras devem terminar em 2020. Segundo o governo argentino, os recursos para as usinas vão somar US$ 4,7 bilhões.

Há, no entanto, forte resistência no Congresso argentino para aprovar o acordo que prevê a instalação de uma base de observação espacial em Neuquén, no sul do país. A oposição receia que a base sirva para uso militar, o que, segundo eles, significaria a "entrega da soberania do país".

Além da comitiva oficial, um grupo de cem empresários também foi para a China com o objetivo de recuperar o ritmo das exportações. Em 2014, a balança comercial entre os dois países fechou com déficit de US$ 5,7 bilhões para o lado argentino, o que representou um aumento de 10,7% no resultado negativo do ano anterior.

No período, as exportações dos produtos argentinos para a China diminuíram 18%. Já em relação às importações, o resultado mostra que os chineses sofreram menos com as restrições impostas pelo governo argentino à entrada de produtos estrangeiros no país.

Em 2014, as importações da China diminuíram 5% enquanto que as do Brasil caíram 27%. Embora não exista nenhuma explicação oficial, para alguns economistas, um tratamento menos rigoroso para seus produtos pode ter sido parte das exigências da China para os acordos e financiamento. Também foi fechado com a China um "swap" (troca de moeda), que tem ajudado a Argentina a manter o nível de reservas.

Cristina se reúne hoje com representantes do setor energético chinês. Amanhã, vai à reunião entre empresários pela amanhã e à tarde terá encontro com o presidente Xi Jinping. A viagem se encerra na quinta-feira, com visitas ao Poder Judiciário e aos representantes dos parlamentares.

Cristina faz sua visita à China numa cadeira de rodas porque se recupera de lesão no tornozelo, que sofreu num acidente doméstico em dezembro. Quem quiser saber de cada etapa da viagem basta acompanhar sua conta no Twitter.

O tom das mensagens é sempre informal: "Quando cheguei fui recebida por uma menina linda, que vestia casaco vermelho." "No hotel, fui surpreendida por um impressionante arranjo floral."

O avião presidencial fez paradas para reabastecimento no Recife e Rússia e uma escala no Marrocos, de onde Cristina postou na rede social, uma foto na qual recebia tâmaras e leite de presente das autoridades. Também contou sobre sua recuperação. Disse que começava a voltar a andar com uma bota ortopédica. "Com cadeira ou sem cadeira; com bota ou sem bota, China nos espera", escreveu.

A presidente passou uma noite no Marrocos. Mas antes de deitar-se usou novamente o Twitter para prosseguir com seu diário: "São 19h22 e pela janela entra o som inconfundível de uma reza. Me contaram que essa é a quinta e última oração do dia..."