A manobra encampada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para deixar PSDB, PSB e DEM de fora da composição da Mesa Diretora foi mais que uma mera vingança pelo apoio dado pelas siglas à candidatura de Luiz Henrique (PMDB-SC) ao comando da Casa. Para a oposição, o presidente já age com olhos postos nos desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Citado por participantes delatores como um dos parlamentares supostamente beneficiados pelo esquema instalado na Petrobras, Renan já trabalha para fidelizar a tropa, acreditam opositores. "Renan não fez um movimento de ataque. É um movimento de defesa. A imprensa tem trazido informações, há meses, de que parlamentares estão mencionados nas investigações feitas pela Lava-Jato", pontuou o novo líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). Confrontado à tese de Cunha Lima, partilhada por outros parlamentares da oposição e também da base do governo ouvidos pelo Valor, sob reserva, o senador Agripino Maia (DEM-RN) foi mais cuidadoso, mas avaliou o ocorrido na mesma direção. "É evidente que ele [Renan] fez uma chapa onde agradou pessoas estabelecendo uma reciprocidade de comportamento. É dando que se recebe".

A escolha dos nomes ficou longe da proporcionalidade da Casa: considerados nomes sem peso político para postularem uma cadeira na Mesa Diretora, o estreante Gladson Cameli (PP-AC) e Vicentinho Alves (PR-TO) foram escolhidos para contemplar as siglas às quais pertencem, que estão fechadas com Renan. Segundo um petista, o líder da sigla, Humberto Costa (PT-PE) até tentou negociar com o presidente do Senado uma composição mais equilibrada, para não melindrar a oposição e comprometer futuramente os trabalhos. Foi enquadrado por Renan que, taxativo, disse que se Costa insistisse naquilo, quem perderia espaço era o PT, segundo a fonte.

"O que se percebe claramente é que todo esse movimento, liderado por Renan, é preparando a trincheira de luta para as guerras que virão. O episódio da Mesa foi só uma batalha. A guerra está por vir. Eles estão arregimentando a base para os confrontos que vêm", avalia Cunha Lima.

Para Agripino, "o que aconteceu foi uma truculência sem limite, que vai gerar sequela. Como partiu da iniciativa de Renan, as coisas vão se direcionar para uma indisposição com ele". Não há clima para, por exemplo, discutir a pauta da Casa com o presidente e buscar acordos. As articulações, diz Agripino, serão buscadas em reuniões de líderes, sem a participação de Renan.

Um parlamentar do PT com trânsito no Senado acredita que, para além da Lava-Jato, Renan já mira composições para tornar-se "independente" no futuro. Caso saia ileso das investigações em curso, Renan visaria terminar o atual mandato de presidente do Senado consolidado como líder de um número expressivo de parlamentares. "Nesse sentido, ele está disputando desde já espaço com a oposição, medindo forças", analisa o interlocutor.

Quem acabou indiretamente sofrendo as consequências do embate no Senado na noite de quarta-feira foi Vital do Rêgo, ex-senador nomeado ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Querido também entre parlamentares da oposição, Vitalzinho, como é conhecido, foi homenageado em um jantar oferecido por seu suplente, Raimundo Lira (PMDB-PB). Mas depois da troca de insultos entre Renan e Aécio Neves (PSDB-MG) durante a eleição da mesa, ninguém da oposição viu clima para comparecer ao evento.

 

PMDB do Norte e Nordeste articulam-se contra Picciani

 

Inicialmente favorito para suceder Eduardo Cunha, novo presidente da Câmara, na liderança do PMDB, o deputado Leonardo Picciani (RJ) começa a unir parte do partido contra si. Os candidatos do Norte e Nordeste na disputa decidiram ontem por um acordo de apoio mútuo com o objetivo de derrotá-lo. Picciani faz campanha aliado do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e da bancada do Estado.

O presidente da Câmara fez um apelo aos candidatos para que tentassem um acordo de rodízio que evitasse a divisão, mas Picciani disse que só aceitaria com a condição ser o primeiro líder da bancada - ele deseja concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016 -, o que os outros recusaram. Cunha, segundo relatos, tem apelado aos aliados para que não deflagrem uma disputa que rache a bancada em um momento em que saíram fortalecidos da disputa contra o governo.

Danilo Forte (CE), Lúcio Vieira Lima (BA), Manoel Júnior (PB) e Marcelo Castro (PI) decidiram reunir seus apoiadores na segunda-feira à noite para uma votação secreta. O mais votado dos quatro será o candidato a líder este ano, com possibilidade de apoiar o segundo mais votado em 2016. Os outros serão acomodados em comissões e relatoria de projetos importantes.

O grupo Afirmação Democrática, formado por 21 parlamentares do Sul, Espírito Santo, São Paulo e Mato Grosso do Sul, deve se unir aos quatro e, em troca, comandar uma comissão importante em caso de vitória. Eles acusam os deputados do Rio de quererem a "hegemonia" na sigla, com a presidência da Câmara e da Fundação Ulysses Guimarães, além da liderança da bancada.

Picciani, por sua vez, está aliado aos deputados de Minas Gerais e Rio. O deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ) diz que seu colega teria o apoio também de Goiás e contaria com 25 dos 65 votos para a liderança.

A eleição é na quarta-feira, às 10h. Com a saída de deputados para ocupar cargos no Executivo, o vencedor vai liderar a maior bancada da Câmara, com 65 deputados, um a mais do que o PT.

A disputa também afetar a relação com o Planalto, a depender do vencedor. Manoel Júnior e Marcelo Castro fizeram campanha pela presidente Dilma Rousseff, mas os favoritos para o cargo são os outros três, que defenderam Aécio Neves (PSDB).