Não parece ter fim a incapacidade de o governo encaminhar uma solução para a crise da Petrobras. Não se trata de um problema periférico, mas central para a União, acionista controlador. Os problemas que a empresa enfrenta são proporcionais ao seu gigantismo. A destruição de valor, na casa de centenas de bilhões de reais, prejudica o Tesouro e os acionistas privados. A perda da capacidade de investimento contribui para empurrar mais a economia para a recessão. O rebaixamento de seu rating pelas empresas de classificação de risco poderá afetar a do país. O decorrente aumento de seus custos de financiamento tem se refletido no risco soberano, que está em alta, tanto o refletido pelo EMBI do J. P. Morgan quanto pelos "credit default swaps", e deve piorar as condições de empréstimo para outras empresas brasileiras. Além de tudo, uma Petrobras em forma é o requisito imprescindível para a exploração do mar de petróleo do pré-sal, da qual será operadora única, pelo marco regulatório. Desde de deslanchada a Operação Lava-Jato, em março do ano passado, a Petrobras entrou em coma, à medida que escândalos de corrupção apareceram à luz do dia. Ao longo dos meses, ficou claro que a estatal tinha se tornado ingovernável e que a falta de controles internos servira para que prosperassem, à margem da lei, um esquema de repartição de propinas que financiava partidos políticos, especialmente PP, PMDB e PT. O potencial destruidor da Lava-Jato era óbvio desde o início. O governo ficou atônito com as revelações - e continua atônito, incapaz até mesmo de defender a empresa. Passado tanto tempo, as coisas estão piores do que nunca para a Petrobras e continuam piorando. Sem qualquer plano para enfrentar a deterioração da companhia, o governo Dilma pareceu sempre estar tentando ganhar tempo, talvez na esperança ingênua de que as coisas pudessem melhorar por si só. Agora, por ação própria, é o governo quem corre contra o tempo para arrumar às pressas um administrador audaz que conserte a estatal. A sucessão de desventuras inviabilizou a permanência da diretoria, presidida por Graça Foster. Uma transição com a Petrobras frequentando diariamente as páginas policiais, ameaçada de ter de pagar antecipadamente credores por falta de balanço auditado e sob pressão de investidores internos e externos, é extremamente delicada e precisaria ser feita com zelo. Não se sabe o que motivou o pedido para que a direção da companhia a deixasse até o fim de fevereiro. O efeito prático foi a debandada imediata dos diretores, que deixou o governo em pior situação, com a tarefa de encontrar em 48 horas um executivo que não buscou em dez meses. O substituto de Graça Foster não é um substituto qualquer. Deveria ser alguém com uma missão clara, a de limpar a imagem da empresa e recobrar seu equilíbrio. Com o amadorismo com que a crise foi tratada pelo governo, não há clareza do acionista controlador sobre o que pretende mudar na Petrobras. Procure-se um diagnóstico mesmo superficial sobre o que deu errado na companhia e o que propiciou os escândalos e não se encontrará algo que remotamente possa servir de guia de ação. A presidente Dilma, ex-presidente do Conselho de Administração da estatal, disse que o regime de partilha, o status de operadora única no pré-sal e a política de conteúdo nacional estão de pé e sugeriu que elas seriam alvos de campanha apoiada nos escândalos. A situação financeira da Petrobras não suportou o peso conjugado dessas responsabilidades, e a de ver seu caixa drenado com o achatamento do preço dos combustíveis. A resposta de Graça Foster para manter a Petrobras à tona foi, corretamente, cancelar projetos, reduzir investimentos e preservar o caixa. Ainda que o objetivo do governo não seja mudar a política oficial para o petróleo, mas apenas mudar a governança da Petrobras, precisaria dizer o que quer. O problema imediato, que resume quase todos os outros, é a falta de um balanço auditado. Não há solução mágica e a troca da diretoria não resolve de cara a questão. O mínimo que a Petrobras precisa é de uma revolução em sua governança, com especial atenção nos sistema de controles. Isso vai exigir a blindagem da empresa dos interesses políticos, da qual foi o botim por excelência. É um primeiro passo que contrariará fortes interesses, mas sem o qual a companhia não se reerguerá.