A Alemanha negou, ontem, a solicitação da Grécia de um empréstimo-ponte que daria ao país três meses para negociar novas regras para seu pacote de socorro financeiro, insistindo para que o governo recém-eleito implemente as condições vinculadas ao programa já aprovado. "Nós concordamos em discordar", disse o ministro da Fazenda alemão, Wolfgang Schäuble, durante uma coletiva de imprensa realizada em conjunto com o ministro da Fazenda da Grécia, Yanis Varoufakis, depois que os dois se reuniram em Berlim, ontem de manhã. A postura inflexível do governo alemão no primeiro encontro entre um líder da principal economia da Europa e a nova liderança de esquerda da Grécia marcou o mais recente revés para Atenas. Na quarta-feira, o Banco Central Europeu informou que não aceitaria mais títulos do governo grego como garantia de empréstimos a bancos. Os mercados da Grécia despencaram com o receio de que a Grécia e seus credores tenham dificuldade de chegar a um acordo nas próximas semanas. O atual pacote de socorro ao país, de ? 240 bilhões, vence no fim do mês, e o novo governo grego se recusa a implementar as reformas estruturais e os cortes de orçamento vinculados ao pagamento da parcela final, de ? 7 bilhões. As autoridades da Grécia estão percorrendo os países da Europa e pedindo um tempo para que seja elaborado um novo plano que dependa menos de cortes orçamentários e busque termos mais favoráveis para o pagamento das dívidas. A turnê de Varoufakis terminou com um banho de água fria. Em Berlim, o plano da Grécia de mudar os termos do socorro financeiro enfrenta, agora, as políticas de poder que vêm desde 2010 moldando a resposta da zona do euro à crise de dívida, no que pode ser uma longa negociação sobre o futuro econômico da Grécia. Uma autoridade alemã disse que Varoufakis foi informado que o governo alemão pode concordar em ceder mais ajuda, seja na forma de um empréstimo-ponte ou de um socorro de prazo maior, mas isso exigiria que a Grécia levasse a cabo as reformas impopulares que o novo governo recusou. Além disso, qualquer nova ajuda precisará da aprovação do parlamento alemão. Depois da reunião, Varoufakis disse que um novo financiamento até o fim de maio permitiria que o BCE continuasse a emprestar aos bancos gregos enquanto o governo trabalharia na proposta para um pacote de socorro que acabaria com a incerteza que tem pesado sobre a Grécia desde 2010. "Precisamos de um reboot", disse ele. A proposta de empréstimo-ponte recebeu pouco apoio de Schäuble, que ressaltou que as promessas eleitorais do partido de esquerda Syriza "provavelmente não são tão realistas quando elas dependem de terceiros". Ele criticou algumas das medidas anunciadas pelo novo governo, dizendo que elas "não necessariamente seguem a direção certa". Muitas das promessas do Syriza foram para reverter medidas tomadas sob a tutela internacional, como cortes nos salários e nas aposentadorias, privatizações e demissões no setor público. Schäuble também reiterou a insistência de Berlim que a chamada troica de credores - a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional - é indispensável ao programa. Ao falar num outro evento de que participou com Varoufakis, o ministro da Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, disse que enquanto a economia grega não tiver condições de sobreviver sem assistência externa, "claro que é há incertezas sobre como será o programa; ninguém sabe se podemos concordar ou não". O impasse levanta a expectativa de um longo cabo de guerra entre a Grécia e seus parceiros da zona do euro sobre os parâmetros da ajuda futura. A Grécia continua praticamente alijada dos mercados de capitais para cobrir os gastos do governo, enquanto seus bancos dependem da liquidez do banco central para sobreviver. Negociações anteriores sobre programas de assistência entre membros endividados da zona do euro e seus vizinhos se arrastaram até o último minuto. Acredita-se que o governo grego tenha reservas suficientes para pagar a parcela da dívida que vende em março - ao contrário dos ? 7 bilhões em resgate de títulos que vencem em julho e agosto. Isso significa que as negociações podem se estender além do término oficial do atual programa grego, em 28 de fevereiro. Ainda assim, uma rápida deterioração da liquidez da Grécia não pode ser descartada, por exemplo, se a receita fiscal não conseguir atingir as previsões atuais. Do mesmo modo, outro aumento nos saques pode fazer com que os bancos gregos precisem de mais fundos do banco central do país. Ao rebater a crítica alemã de que a Grécia ainda precisa fornecer uma proposta concreta de reformulação do socorro financeiro, o novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, disse aos legisladores gregos que as propostas gregas foram apresentadas. "Esperamos com interesse as propostas da Alemanha. Infelizmente, até o momento, não ouvimos nada específico", disse ele. O governo grego minimizou o anúncio do BCE na quarta. O Ministério da Fazenda disse, num comunicado, que a medida não terá impacto no sistema bancário da Grécia, que permanece "bem capitalizado e completamente protegido", com os bancos permanecendo sob o guarda-chuva do programa de liquidez emergencial do Banco da Grécia. O anúncio do BCE marcou a primeira vez desde 2012 - quando Atenas foi presa em outra rodada de negociações acrimoniosas com seus credores - que o banco central suspendeu sua garantia para os títulos de alto risco da Grécia, conhecido como "junk bonds". Entretanto, o BCE também aprovou um empréstimo de ? 60 bilhões para os bancos gregos se necessário, através de um programa de empréstimo de emergência do banco central grego, segundo uma pessoa a par do assunto informou ontem. Isso sugere que os bancos gregos terão fontes significativas de recursos mesmo depois que perderem a capacidade de usar os títulos do governo do país como garantia para empréstimos padrão do BCE. As bolsas gregas despencaram ontem no início do pregão, mas recuperaram parte das perdas mais tarde, com o Índice Geral de Ações de Atenas fechando em queda de 3,4% a 819,5 pontos. O setor bancário caiu 10%.