A economia paulista deve atravessar uma recessão mais profunda do que a média do país neste ano, na avaliação da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), do governo do Estado de São Paulo. O cenário adverso projetado pelo grupo de economia da fundação, com probabilidade estimada de 60%, conta com queda de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado em 2015, mais forte do que a retração de 0,5% prevista para a atividade econômica no Brasil.

O cenário básico, que tem menor possibilidade de se concretizar (40%), é de aumento de 0,6% do PIB nacional e estabilidade em São Paulo. As projeções estão na edição de janeiro do Boletim de Economia da Fundap e não incluem um racionamento de água ou energia elétrica. O aumento dos riscos de uma restrição do consumo desses insumos, no entanto, já está afetando a atividade, porque os investimentos não acontecem, diz Luis Fernando Novais, coordenador do grupo de economia da entidade.

Em dezembro, os cenários básico e adverso tinham 50% de probabilidade cada, mas a deterioração ocorrida na virada do ano levou os economistas da Fundap a darem maior peso às previsões mais pessimistas.

Segundo Novais, uma série de fatores elevou as chances de recessão: atingir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB ficou mais difícil depois do déficit nas contas públicas registrado em 2014, os riscos de restrição energética e hídrica subiram, a herança estatística deixada pelo crescimento do ano passado é pior do que o previsto anteriormente e, por fim, a Operação Lava-Jato deve ter impactos negativos diretos e indiretos sobre a economia.

Todos esses problemas dificultam a retomada da confiança dos empresários ainda em 2015, afirma o economista da Fundap, o que torna menos provável uma reação da atividade industrial no segundo semestre, hipótese contemplada no cenário básico. Como São Paulo detém mais de 40% da indústria de transformação nacional, é natural que a economia do Estado sofra mais com a crise do setor, como já vem sendo observado no período recente.

Com base em dados de outra fundação do governo paulista, a Seade, o grupo de economia da Fundap nota que a tendência pró-cíclica da atividade em São Paulo não se manifestou no pós-crise, quando o PIB brasileiro se recuperou, mas voltou a ocorrer no biênio 2013-2014, ainda que somente na fase de desaceleração. Na passagem de 2012 para 2013, por exemplo, enquanto o PIB nacional avançou de 1% para 2,5%, a aceleração no Estado foi mais fraca, de 1,5% para 2%. Já em 2014, a Fundap estima que o PIB brasileiro teve alta de 0,1%, ao passo que a economia paulista deve ter encolhido 1,5%.

As previsões estão em linha com o desempenho mais recente do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que tenta antecipar o comportamento mensal do PIB, e seu equivalente de São Paulo calculado pela Seade. Nos 12 meses até novembro, o PIB mensal paulista encolheu 1,7%, enquanto o indicador do BC teve redução de 0,1%.

Para Novais, a fraqueza maior da atividade paulista é reflexo da estrutura produtiva mais diversificada do Estado, que também atrai uma presença maior de serviços mais modernos relacionados à atividade industrial, como os de logística, design e marketing. "Toda a perda de competitividade e o período de câmbio valorizado afetaram muito a indústria paulista, e essa queda também afeta os serviços modernos", disse. Nos 12 meses encerrados no terceiro trimestre de 2014, a atividade dos serviços subiu 1,2% em nível nacional e ficou estagnada em São Paulo.