Apenas 11,3% da indústria nacional está crescendo e isso se deve à exploração de petróleo, gás natural e minério de ferro, e às safras de soja, milho e cana¬de-açúcar, que sustentam o crescimento industrial dos únicos cinco Estados do país que apresentam alta nesse setor.

Como a perspectiva é de aumento na produção desses bens, é provável que Pará, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás e Pernambuco continuem crescendo em 2015, enquanto o restante da indústria do país, mais diversificada e sofisticada, permaneça em baixa, dizem analistas ouvidos pelo Valor.

O segredo do crescimento desses Estados está na dependência de setores que produzem bens de baixo valor agregado, mas que estão com grande demanda, afirma o economista Silvio Sales, consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IbreFGV).

"As indústrias ligadas ao agronegócio, à exploração de minério de ferro e ao petróleo devem continuar crescendo, porque o dólar valorizado é um impulso para a exportação e para o aumento na produção", afirma ele. Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, concorda e diz que a produção de minério de ferro e de petróleo vai continuar em alta.

A produção industrial do Espírito Santo cresceu 5% no acumulado de janeiro a novembro, baseada na atividade extrativa, sobretudo, minério de ferro. O setor extrativo chega a representar pouco mais de 60% da indústria capixaba. Houve, também, aumento na produção de gás natural e petróleo.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra, disse que, em 2015, o crescimento industrial capixaba pode até desacelerar, mas deve se manter por volta de 5%, graças à produção de minério de ferro e derivados. Ele diz que a indústria local vem tentando diversificar sua produção para não ser tão dependente de poucos setores. Guerra conta que, recentemente, a Marcopolo instalou uma fábrica de micro-ônibus da marca Volare no Estado.

Outro local impulsionado pela atividade extrativista é o Pará. Cerca de 80% da indústria local depende desse segmento, no qual predomina o minério de ferro. A commodity contribuiu para o crescimento de 8,8% entre janeiro e novembro da indústria do Pará, o maior crescimento entre os 14 locais observados pela pesquisa industrial do IBGE.

A média da indústria brasileira foi de queda de 3,2% no mesmo período. Somente no Pará, a indústria extrativa teve alta de 11,7% entre janeiro e novembro, enquanto o crescimento médio nacional foi de 5,4%.

O crescimento da indústria do Pará passa também por investimentos e desenvolvimento de longo prazo. Segundo a Fiepa, federação das indústrias do Estado, os investimentos já planejados, ou em andamento, devem somar R$ 160 bilhões até 2020.

"Os investimentos vêm aumentando principalmente por conta da implantação de novos projetos", diz Marcel Souza, diretor executivo das Redes, programa para inovação e sustentabilidade econômica da Fiepa. "São investimentos grandes, que implicam cadeias grandes", diz, citando a construção de Belo Monte, e ampliações em curso por Vale e Sinobras, a siderúrgica local. Com a costa mais próxima de mercados como Estados Unidos, Europa e Panamá, cujo canal de acesso ao Pacífico está sendo ampliado, o Pará se mexe para ser um corredor logístico para os grãos do Centro¬Oeste, hoje escoados em boa parte pelos portos de Santos e Paranaguá.

"O minério chegou ao pico de US$ 185 a tonelada em 2009, e hoje está entre US$ 60 e US$ 70, mas, mesmo com o preço caindo, nossa produção sobe e continua sendo lucrativa", diz Maria Amélia Enriquez, ex¬secretária de Indústria, Comércio e Mineração do Estado Ela diz que a concentração de minério nas rochas paraenses é muito alta, o que torna o custo de extração competitivo.

Dos cinco locais com crescimento industrial, apenas Goiás, com alta de 2,3% entre janeiro e novembro, se beneficiou de um setor de alto valor agregado, o de veículos automotores. O segmento vai bem, porque no Estado são produzidos modelos mais sofisticados, das marcas Mitsubishi, Hyundai e Suzuki. Em crise está o setor concentrado na produção de carros populares.

Mesmo assim, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Pedro de Oliveira, diz que, em 2015, a indústria de Goiás pode desacelerar e crescer só 2%, com a alta baseada em commodities agrícolas, como soja e milho. "O aumento de juros e de impostos vai afetar nossa produção de veículos", afirma.