Os quatro principais bancos comerciais brasileiros - Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Caixa Econômica Federal - tinham uma exposição de R$ 31,2 bilhões em crédito direto para a Petrobras em setembro, conforme levantamento feito pelo Valor.

Os bancos públicos são responsáveis pela maior parte do volume, sendo que a Caixa tinha empréstimos de R$ 11,5 bilhões, e o BB havia repassado R$ 9,4 bilhões. Já o Bradesco aparecia com R$ 6,5 bilhões - cifra que chegou a R$ 6,8 bilhões em dezembro -, enquanto o Itaú tinha a menor exposição, de R$ 3,8 bilhões.

As instituições financeiras não podem revelar quanto emprestam para cada empresa, mas o gigantismo da Petrobras e o fato de ela ser estatal permitem que se identifique esses valores nos balanços das instituições.

O total de crédito da Petrobras com o BNDES é o mais difícil de identificar, mas é possível estimá-lo, a partir do cruzamento de dados disponíveis nos balanços da estatal e dos demais bancos públicos, em pouco menos de R$ 50 bilhões, sendo que R$ 25 bilhões foram repassados em uma única tranche, em meados de 2009, quando faltava dinheiro no mercado por causa da crise financeira.

Ainda que todos os credores e analistas considerem que, numa situação extrema, o governo salvaria a Petrobras, a avaliação de crédito específica da companhia começa a ser colocada em questão, diante da dificuldade que a estatal tem tido para apresentar um balanço auditado, já livre das correções por corrupção.

Ainda que a agência Fitch tenha dito que a não realização das baixas contábeis por enquanto não a levaria a mudar a nota de crédito da estatal, a Moody"s tomou decisão diferente e cortou mais uma vez o rating da companhia, citando "pressões de liquidez" que a empresa deve enfrentar pela falta de um balanço auditado.

Em APRESENTAÇÃO a investidores na semana passada, a Petrobras informou que inicia este ano com caixa próximo de US$ 25 bilhões, mas que ele deve encerrar 2015 numa faixa entre US$ 12 bilhões e US$ 8 bilhões, sendo que o piso desse intervalo seria o mínimo que a empresa precisa para se manter.

Ainda que o fluxo de caixa apresentado pela empresa resolva sua situação neste ano, alguns investidores ficaram preocupados sobre a flexibilidade que a Petrobras teria em 2016, se essa projeção se confirmar.

Na sexta-feira, os analistas que acompanharam a teleconferência de resultados do Bradesco demonstraram preocupação com o possível crescimento da inadimplência em decorrência da Operação Lava-Jato. Um deles questionou, por exemplo, se o Banco Central poderia exigir provisionamento adicional das instituições. "A decisão não é nossa. Não temos maiores comentários em relação à Petrobras", limitou-se a dizer o diretor de relações com investidores do Bradesco, Luiz Carlos Angelotti.

Angelotti preferiu se manter cauteloso nos comentários que fez durante a teleconferência para discutir o balanço do quarto trimestre, mas disse que os bancos e o Bradesco estão preparados para enfrentar os riscos e que a equipe de análise da instituição está sempre próxima aos clientes e pronta para fazer os ajustes de risco necessários. "A área de crédito faz uma análise futura do risco e o banco se provisiona", disse.

Na véspera, ao falar com jornalistas, o presidente do Bradesco, Luis Carlos Trabuco, afirmou que existe um momento de desconforto em relação à Petrobras, mas evitou falar sobre como os bancos estão se preparando para enfrentar os riscos deste cenário. Disse apenas que o setor financeiro está preparado e provisionado e que não visualiza um risco de contágio para os bancos.

Mas, para além da Petrobras, que tem como problema principal a falta de um balanço auditado, os investidores temem principalmente o potencial crescimento da inadimplência nos empréstimos concedidos aos fornecedores da empresa, uma vez que a estatal está mais rigorosa do que nunca nos pagamentos e já cancelou diversos contratos.

Uma das maiores prestadoras de serviço, que é a OAS, já entrou em default seletivo e tinha, no fim de 2013, crédito bancário no valor de R$ 2,02 bilhões, além de R$ 2,65 bilhões em títulos de dívida emitidos no mercado local, e que podem estar parcialmente encarteirados nos balanços dos bancos do país.

Outras empreiteiras que possuem contratos com a Petrobras também tiveram notas de crédito reduzidas ou colocadas em observação negativa pelas agências de risco recentemente, como Mendes Júnior, Galvão Engenharia, Construtora Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Construtora Andrade Gutierrez e até mesmo da Construtora Norberto Odebrecht (CNO), a maior delas.

Em um levantamento sobre os bancos que mais emprestaram a setores abalados pela Operação Lava-Jato, a Brasil Plural concluiu que o Banco do Brasil é, proporcionalmente, a instituição com maior exposição. Fazer esse tipo de levantamento não é algo fácil, já que cada banco abre seus dados de uma forma. Além disso, BB e Itaú não incluem em seus cálculos títulos privados como debêntures e certificados de recebíveis imobiliários emitidos por companhias e comprados pelos bancos. Na prática, esses papéis configuram uma modalidade de crédito.

A saída encontrada pela Brasil Plural foi buscar macrossetores que pudessem englobar de alguma forma as indústrias de petróleo e gás, petroquímica, construção, incorporação e açúcar e etanol, segmentos considerados como os mais afetados pelas investigações da Polícia Federal.

O Banco do Brasil tem R$ 73,6 bilhões em créditos dados para esses segmentos, o que equivale a 11,1% do estoque de empréstimos do banco controlado pelo governo. Mais de metade disso, ou R$ 41 bilhões, está com a indústria do petróleo.

O Bradesco seria dono da segunda maior exposição, com 8,2% da sua carteira voltada para empresas de petróleo, etanol, petroquímicas, químicas e construção, num total de R$ 36,3 bilhões. Em terceiro lugar vem o Itaú Unibanco, com uma exposição de 6,2%, ou R$ 31,3 bilhões.