O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi designado pela presidente Dilma Rousseff para encontrar uma forma de desatar o "nó sem ponta" em que se encontra o balanço da Petrobras, antes que a empresa perca o grau de investimento. Tão logo o balanço esteja solucionado e assinado pela atual diretoria da empresa, a presidente Graça Foster, será substituída, assim como os demais dirigentes, conforme antecipado pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, na segunda-feira.

Também serão trocados os membros do conselho de administração - que deixará de ser uma instância política, presidida por um ministro de Estado, para ser estritamente profissional, segundo recente decisão da presidente Dilma Rousseff.

Ontem Graça esteve por mais de duas horas com a presidente, para decidir sobre o seu destino. Saiu sem dar informações, mas fontes do Palácio do Planalto indicaram o cronograma de saída: todo esse processo pode durar até fim deste mês. A atribuição para demitir a presidente da Petrobras é do Conselho de Administração, que reune-se no próximo dia 6, mas a ligação de lealdade é com Dilma, que a indicou para o comando da companhia.

Nos dois últimos dias a Petrobras teve dois rebaixamentos, uma das agências de rating Moody's e o outro da Fitch, estando, agora, a um passo de perder o selo de bom pagador.

Divulgado na semana passada, o balanço não auditado, relativo ao terceiro trimestre de 2014, trouxe mais problemas do que soluções. Pior: a estimativa de supervalorização de ativos da companhia de R$ 88,6 bilhões, na visão do Palácio do Planalto, foi produto de cálculos "amadores" feitos sem os devidos cuidados e que misturariam desde impactos cambiais e de congelamento de preços da gasolina aos atos de corrupção que subtraíram recursos da empresa.

A divulgação desse número em comunicado da Petrobras, na última reunião do Conselho de Administração, dia 27, irritou a presidente da República e definiu o futuro de Graça Foster. Até então, ela já havia pedido para sair por várias vezes e só ficou atendendo a apelos de Dilma.

Além de estar com a incumbência de se entender com os órgãos de fiscalização do mercado de capitais (CVM aqui e a SEC nos Estados Unidos) para tratar do balanço, Levy também está ajudando o governo a encontrar substituto para Graça Foster.

"A presidente pediu para o Joaquim [Levy] entrar no jogo e acertar essa novela do balanço", informou um parlamentar da base aliada.

Esse é o problema mais urgente - dar um arremate tecnicamente correto ao balanço da empresa antes que ela sofra rebaixamento. Se a Petrobras perder o grau de investimento isso trará para o Brasil as mesmas consequências danosas de um rebaixamento da dívida soberana.

Há uma lista de nomes citados por colaboradores da presidente que poderiam vir a presidir a Petrobras. Esta vai do ex-executivo da Perdigão, Nildemar Secches, ao presidente da Vale, Murilo Ferreira. Inclui, ainda, outros nomes já cogitados desde que eclodiu a crise na Petrobras, como os do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Rodolfo Landim, ex-funcionário da companhia e hoje da Ouro Preto Petróleo e Gás e Roger Agnelli, que presidiu a Vale. Ontem, uma nova possibilidade foi cogitada: Eduarda La Rocque, ex-secretária da Fazenda do município do Rio, próxima a Levy.

Graça está muito "abalada", segundo interlocutores que estiveram com a presidente da Petrobras nos últimos dias. Amigos e familiares já a haviam aconselhado a deixar a empresa, mas ela resistia. Alegava que Dilma Rousseff lhe pedira para ficar e ela não tinha como não atender a uma amiga.

O primeiro atrito entre a presidente da Petrobras e o Palácio do Planalto ocorreu quando a companhia declarou inidôneas as empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, uma solução que o governo quer evitar. Dilma quer um modelo que puna as pessoas que se envolveram na corrupção mas preserve as empresas e seus ativos. Algo na linha do que o Banco Central fez com o sistema bancário nos anos 1990.

Assistindo ao definhamento diário da petroleira, a bancada parlamentar do PT esteve ontem com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e pediu a substituição de toda a diretoria da Petrobras.

 

Em meio a especulações, Graça cancela reunião com empresários

 

Graça chega ao aeroporto de Brasília, depois de reunião com presidente Dilma Em outro sintoma da crise na cúpula da Petrobras, a presidente da estatal Graça Foster cancelou uma reunião marcada para hoje na Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), no Rio de Janeiro. A entidade havia pedido o encontro para discutir alternativas para lidar com atrasos de repasses das empresas que concentram contratos com a Petrobras, para fornecedores de bens de capital. Segundo o presidente executivo da Abimaq, José Velloso, eles receberam um e-mail da presidente da estatal ontem à noite, cancelando o encontro "por motivos de força maior". Ela teria dito, ainda, que "oportunamente" voltaria a convocar a associação para uma reunião. A pressão sobre a Petrobras começou a ganhar novo ímpeto no Congresso. Ontem à noite, a oposição protocolou o pedido de instalação de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. No meio da tarde, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), contabilizava 137 assinaturas para a CPI, mas às 22h30, o número de signatários superava 180. São necessários 171 deputados para instalar a comissão. A Secretaria de Comunicação da Presidência desmentiu ontem formalmente a saída de Graça, em um comunicado que foi reforçado pelo ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), em visita a Vitória (ES). "O que eu vi foi o Palácio do Planalto desmentindo essa informação que foi colocada nas redes sociais", disse Braga. Ao ser perguntado se Graça continua no cargo apesar da repercussão negativa da Operação Lava-Jato sobre a companhia, Braga disse: "Continua, continua". Na realidade, a informação sobre a possível saída da executiva da Petrobras foi publicada na edição de ontem do Valor e não teve por base rumores nas redes da internet. Apesar do desmentido do Palácio do Planalto, fontes do governo confirmaram nesta tarde ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, que a presidente da Petrobras, Graça Foster, está de saída da estatal. Formalmente, a Petrobras está subordinada ao ministério comandado por Braga.

 

Mangabeira Unger volta a ocupar Secretaria de Assuntos Estratégicos

 

A presidente Dilma Rousseff convidou o filósofo e professor Mangabeira Unger para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) em substituição ao ministro Marcelo Neri. Unger assume o cargo na quinta-feira, em solenidade agendada para as dez horas. A nomeação do filósofo não tem relação com a vitória do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados, apesar de sua última filiação partidária ser o PMDB. A presidente em nenhum momento tratou com o partido ou com seu vice, Michel Temer, sobre a volta do filósofo ao governo. Antes do PMDB, Mangabeira Unger esteve filiado ao PRB. Ainda ontem, a presidente fez outra mudança importante no primeiro escalão do governo: Paulo Rogério Caffarelli, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e atualmente secretário-adjunto, foi exonerado a pedido. Ele retorna à sua casa de origem, o Banco do Brasil, e começa um período sabático para decidir o que fará de agora em diante. Caffareli tanto pode continuar no banco quanto ir para o setor privado. Estava entre ele e o vice-presidente do BB, Alexandre Abreu, a indicação para a presidência do banco. A escolha recaiu sobre Abreu. Os nomes para ocupar a presidência do BNDES e da Caixa, embora escolhidos pela presidente da República, enfrentam resistências nos partidos da base aliada que desejariam ocupar esses postos. Mas, no momento, as indicações são de Aldemir Bendini, que deixa a presidência do BB para assumir a do BNDES, e Miriam Belchior para a Caixa. Os partidos aliados, especialmente o PMDB, estranham a indicação de Miriam, no momento em que se fala na abertura do capital da caixa. Unger exerceu o comando da pasta entre 2007 e 2009, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Filiado ao PMDB, Unger estava lotado como assessor especial da Secretaria Especial de Aviação Civil. Em nota oficial, a presidente agradeceu a "competência, dedicação e a lealdade do ministro Marcelo Neri.

 

Incerteza sobre possível substituto deixa analistas de mercado "atônitos"

 

A notícia sobre a intenção da presidente Dilma Rousseff de mudar a alta administração da Petrobras, substituindo a presidente da estatal, Graça Foster e o diretor financeiro, Almir Barbassa, além de membros do conselho de administração, deixa o mercado o mercado atônito. Claramente a notícia é vista como positiva pela subida dos papéis na bolsa, mas indo um pouco além, as dúvidas são gigantes. É difícil especular sobre nomes de fora que estariam dispostos a correr o risco de assinar qualquer balanço da empresa nesse momento. Há risco de implicação criminal e perspectiva de comprometimento do patrimônio dessas pessoas, afirmaram alguns analistas de grandes bancos ouvidos com o compromisso de não terem seus nomes identificados. Um analista acredita que, "para o pessoal da dívida", ou seja, os credores, é importante que Graça e outros diretores saiam agora porque isso pode facilitar que a investigação interna independente ateste que não há ninguém da alta administração envolvida com atos de corrupção. "Se não é possível atestar isso agora, ou se não se tiver uma conclusão a respeito, toda a dívida pode ter que ser antecipada para pagamentono curto prazo. Então, sob essa ótica, é importante não ter ninguém envolvido com o passado", afirma o especialista. O mesmo raciocínio valeria para o conselho de administração, que tem os ex-ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Mirian Belchior, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho entre os ocupantes de cargos públicos nomeados pelo governo que estão no conselho. "Omissão é crime, e se a investigação [interna] entrar por essa seara há uma possibilidade real de o conselho estar implicado", afirma. O mandato dos atuais conselheiros expira em abril. Na opinião d economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a saída de Graça Foster ela terá sido demitida pelos motivos errados, ligados à política. "Ela não entregou várias coisas, mas vai perder a cadeira pelos motivos errados, ou seja, pela decisão de suspender as refinarias do Maranhão e Ceará, parar o segundo trem da Rnest e por ter reduzido os investimentos em 30%. Ou seja, a prioridade da Dilma agora é o Congresso, e não a SEC", avalia Pires, se referindo à Securities and Exchange Commission, órgão regulador do mercado americano. Graça Foster teria desagradado Dilma Rousseff ao informar que foram calculadas perdas de R$ 4 bilhões - quando deduzida propina de 3% sobre os ativos relacionados a empresas investigadas na Operação Lava-Jato - ou R$ 88,6 bilhões quando considerado o critério de valor justo. Não houve decisão sobre qual número será considerado válido pelas autoridades americanas e os valores foram divulgados sem que fosse feita a baixa nos ativos da companhia no balanço do terceiro trimestre. Como o Valor publicou na semana passada, a divulgação dos números, que são um fato relevante, foi exigência dos representantes dos acionistas minoritários do conselho da Petrobras e do representante dos empregados. Juntos, Mauro Cunha, José Monforte e Silvio Sinedino (que representa os funcionários) ameaçaram entrar com denúncia na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e com pedido de demissão, e o conselho acabou acatando a decisão. Portanto, a divulgação não foi uma decisão de Graça, o que não estaria sendo considerado por Dilma Rousseff nesse momento.