A campanha anticorrupção lançada pelo presidente chinês, Xi Jinping, há dois anos está sendo ampliada. Agora, não mais apenas militares, dirigentes de estatais e membros do governo e do Partido Comunista estão sendo alvos de investigações e prisões, mas também dirigentes de empresas do setor privado.

O Bank of Beijing informou anteontem que o diretor do seu conselho, Lu Haijun, está sob investigação por graves violações disciplinares, eufemismo das autoridades chinesas para corrupção.

No sábado, o presidente da China Minsheng Banking, Mao Xiaofeng, havia pedido demissão, alegando "motivos pessoais", após a imprensa do país ter revelado que ele estava sendo investido pela agência anticorrupção.

No mês passado, a Founder Securities, uma das maiores corretoras da China, disse ter perdido contato com o seu presidente, Lei Jie. Dias antes, o presidente e três executivos da controladora da Founder haviam perdido seus cargos e recebido ordens para colaborar em uma investigação. Esses incidentes teriam conexão com as quedas de Ling Jihua - importante assessor do ex-presidente Hu Jintao, antecessor de Xi - e de Ma Jian, ex-vice-ministro da Segurança do Estado. Ling e Ma são dois dos mais altos graduados na hierarquia chinesa a terem sido abatidos na campanha anticorrupção.

A atual onda investigatória também já atingiu funcionários de joint ventures no país de empresas japonesas. Em outubro do ano passado, o chinês Pan Shengshen foi afastado de seus cargos tanto na filial chinesa da Hitachi no país quanto da Guangzhou Guangri, estatal que é parceira da empresa japonesa em uma joint venture. No início deste ano, a comissão disciplinar do Partido Comunista anunciou que Pan estava sob investigação. Logo depois, ele desapareceu dos meios empresariais.

Outro executivo chinês preso é Ren Yong, que era vice-gerente-geral da Dongfeng Nissan, joint venture na China da Nissan.

O Partido Comunista anunciou em dezembro que Ren iria perder todos os seus cargos por ter se tornado alvo de investigação da comissão disciplinar da organização. O partido não deu detalhes sobre a investigação.

Tanto Pan como Ren mantinham uma ampla rede de contatos políticos e empresariais no país. Muitas empresas japonesas e ocidentais têm o costume de contratar chineses com livre trânsito entre as autoridades de Pequim para garantir o bom funcionamento e a expansão de suas operações na China. Geralmente, essas pessoas são filhos de membros graduados do partido e ocupantes de cargos governamentais.

Executivos de empresas americanas em Shanghai estão revisando os processos de recrutamento e contração para se assegurar de que não possam vir a ter problemas com as autoridades chinesas.

Takashi Nomura, advogado em Shanghai da firma de advocacia Nishimura & Asahi, tem passado boa parte de seu tempo dando palestras a empregados de empresas japonesas que operam na China. Entre os temas abordados por Nomura está como recusar presentes de luxo recebidos de representantes de vendas sem comprometer com o gesto os interesses da empresa.

"Recebo vários pedidos de palestras sobre corrupção todos os meses", diz Nomura. "De uns tempos para cá, venho falando também para executivos chineses."

A campanha anticorrupção de Xi tem sido descrita pela mídia chinesa como a mais rigorosa desde a instalação do regime comunista, em 1949. Xi já disse que o problema da corrupção entre autoridades é grave o bastante para ameaçar a legitimidade do Partido Comunista. Além de Ling e Ma, entre os nomes mais importantes a terem caído na campanha está o de Zhou Yongkang, ex-membro do Comitê Permanente do Politburo.

A mídia chinesa disse, sem dar maiores detalhes, que a demissão de Mao da China Minsheng Banking está ligada à investigação sobre Ling.