Título: A cada hora, um carro some
Autor: Araújo, Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 12/07/2011, Cidades, p. 26

Diariamente, a história se repete no Distrito Federal. O motorista deixa o veículo em um estacionamento público e, ao retornar, se depara com a vaga vazia. Nos casos mais graves, é surpreendido por bandidos que, mediante violência, levam o carro. Na capital do país, pelo menos 23 automóveis, motos, ônibus e caminhões são roubados ou furtados todos os dias, média de quase um caso a cada hora. Somente no primeiro semestre do ano, 4.143 proprietários se viram alvo de criminosos especializados nesse tipo de crime, número inferior ao registrado no mesmo período de 2010, que foi de 5.115, configurando uma redução de 19%. No entanto, quando a comparação é apenas entre os dois primeiros trimestres de 2011, nota-se um aumento de 9%, segundo dados da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (DRFV) (veja arte ao lado).

Mesmo com a queda nos números nos seis primeiros meses, a população continua insegura. Quem trabalha ou precisa resolver problemas na área central de Brasília deve redobrar a atenção. Regiões como o Setor Comercial Sul, o Setor Bancário Norte, o Setor de Autarquias e o Setor de Diversões Sul (Conic) são as preferidas dos ladrões que furtam. Já Taguatinga é a campeã em ocorrências de roubo. As áreas residenciais da cidade aparecem como as mais visadas pelas quadrilhas, principalmente entre as 18h e as 23h, horário em que a maioria dos trabalhadores e estudantes retorna para casa.

Chama a atenção que abril, maio e junho de 2010 e de 2011 revelam números superiores a janeiro, fevereiro e março. No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, as delegacias brasilienses receberam 1.982 queixas, contra 2.161 nos meses seguintes. O titular da DRFV, Moisés Martins, explica que o incremento de casos nesta época do ano é normal. De acordo com ele, o início de cada ano sempre é marcado pela menor quantidade de ocorrências, pois muitos moradores estão em férias. "É sazonal. Nesse período, os estacionamentos estão mais vazios porque tem muita gente fora da cidade. É natural que haja uma redução", explicou o delegado.

Mesmo assim, os dados reforçam a exposição do brasiliense à criminalidade. Quanto aos roubos, por exemplo, em que há a ameaça de um bandido armado, ocorreram sete casos diários no primeiro semestre do ano, uma média de um a cada três horas e meia. Houve ainda 16 furtos por dia, média de uma ocorrência a cada uma hora e meia.

Recuperados A boa notícia é que quase 70% dos carros furtados ou roubados são recuperados pela polícia, o que coloca o DF como a unidade da Federação que mais consegue solucionar esse tipo de crime no país. O estudante de artes plásticas David Almeida Rodrigues, 21 anos, no entanto, não faz parte da maioria que tem a sorte de reaver o bem levado por bandidos. Em 26 de janeiro, ele levou um susto ao chegar ao estacionamento da Biblioteca da Universidade de Brasília (UnB), no fim da Asa Norte, e não encontrar o Uno na vaga.

Até hoje, David não teve notícias do carro. "Eu parei na vaga por volta das 20h e retornei lá pelas 20h40. Nesse tempo, levaram o veículo. E o pior é que nem tinha seguro", lamenta o universitário, que criticou a falta de policiamento na instituição federal. "Eu, sinceramente, não me sinto seguro na UnB, principalmente à noite. Nunca vejo policiais rondando", reclamou o jovem, que até hoje não conseguiu comprar outro automóvel.

Operações O delegado Moisés Martins lembrou que a queda nos números de roubos e de furtos no semestre é consequência das rotineiras operações de combate às quadrilhas especializadas nessa modalidade de delito. "De junho até setembro do ano passado, deflagramos seis operações e prendemos 81 pessoas. Neste ano, já foram quatro grandes ações, que resultaram na prisão de 45 pessoas. Estamos fazendo o nosso trabalho, que é identificar as quadrilhas e colocá-las na cadeia. No entanto, o combate a esse tipo de crime tem de ser entendido como uma política de segurança pública. Todos os órgãos têm de cumprir o seu papel", observou.

Para combater a atuação dos criminosos, a DRFV deflagrou, por exemplo, a Operação Carcará. Iniciada em janeiro, deteve sete integrantes de um grupo especialista em roubo e clonagem de automóveis. O bando adulterava os chassis e as placas. Depois, falsificavam todos os documentos e revendiam os veículos em outros estados.

Em fevereiro, a Operação Dublê desarticulou uma organização criminosa responsável por furto de carros em Taguatinga e no Gama. Os bandidos levavam os carros para um desmanche localizado em uma chácara, no Novo Gama (GO), e, em seguida, os revendiam em municípios de Tocantins, de Minas Gerais e da Bahia.

No mesmo mês, a Operação Piloto tirou de circulação um grupo que atuava de forma parecida. Oito mandados de prisão e 16 de busca e apreensão foram cumpridos. Durante a ação, a polícia encontrou 25 carros roubados no DF, além de documentos falsos, aparelhos celulares, equipamentos de som automotivo, ferramentas e outros objetos.

A última grande ação da polícia foi a Operação Arraias, realizada em junho, que colocou na cadeia nove pessoas acusadas de roubar dezenas de veículos em Taguatinga, no Gama, no Plano Piloto e na Estrutural. Carros, motos, ônibus e caminhões eram levados para o Entorno, onde acabavam desmanchados. As peças eram vendidas em oficinas e ferros-velhos clandestinos.

Rodas Não são apenas os furtos e roubos que tiram o sono dos motoristas do DF. Em março, o Correio mostrou que, a cada 10 dias, pelo menos uma pessoa registra queixa sobre furto de rodas. Dados da 5ª Delegacia de Polícia, no Setor Bancário Norte, levantados a partir de investigações policiais, revelaram que os ataques ocorrem geralmente durante o dia e em várias cidades. Só na Esplanada dos Ministérios foram registradas sete ocorrências em pouco mais de dois meses. Mas a quantidade é ainda maior, pois muitas vítimas não comunicam o crime à polícia.