Brasília - Numa ação combinada para mostrar unidade do governo e isolar a senadora Marta Suplicy (PT-SP), 11 ministros compareceram ontem à posse do novo titular da Cultura, Juca Ferreira. A ordem para prestigiar Juca e ignorar publicamente as críticas de Marta partiu da presidente Dilma Rousseff. Coube apenas ao novo ministro desqualificar os ataques da antecessora, porque, na avaliação de Dilma, tratava-se de ofensa contra a honra, que precisava ser respondida.

 

"Eu sou um alvo eventual. Marta quis atirar em Deus e acabou acertando no padre de uma paróquia", disse Juca. "O problema dela é com o PT, com a presidente da República e com o desejo já de algum tempo de ser candidata. Ela está manifestando um mau humor."

Em entrevista publicada pelo Estado no domingo, Marta criticou Dilma, apontou "desmandos e irregularidades" na gestão de Juca quando ele foi ministro do governo Lula (2008 a 2010), chamou o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de "inimigo" e disse que o presidente do PT, Rui Falcão, "traiu o partido". Na avaliação de Marta, "ou o PT muda ou acaba".

 

Dilma ficou indignada com a ex-ministra, que quer ser candidata à Prefeitura de São Paulo em 2016 e sabe que não terá espaço no PT. Motivo: o partido já definiu que o prefeito Fernando Haddad disputará a reeleição.

 

Para dirigentes petistas, a sucessão de ataques de Marta indica que o desejo dela é criar um fato consumado para deixar o PT e ser candidata por outro partido.

 

Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos ontem pelo Estado disseram que dificilmente a Corte teria o entendimento de que a mudança de legenda levaria um ocupante de cargo majoritário, como a senadora, à perda de mandato por infidelidade partidária.

 

No fim de semana, após ler a entrevista, Dilma conversou com Mercadante, que também falou com Falcão. O presidente do PT esteve ontem no Palácio do Planalto e se encontrou com o chefe da Casa Civil. Lula ainda está em férias, mas petistas o acionaram por telefone.

 

A estratégia é não dar holofotes para Marta. No diagnóstico de ministros da coordenação de governo, o "diz-que-diz-que" só serve para expor fraturas no PT e no Planalto, alimentar intrigas sobre o relacionamento entre Dilma e Lula e desgastar Haddad.

 

"Se ela (Marta) quer ir embora, que vá com Deus", disse a presidente, segundo relato obtido pela reportagem. Depois da posse de Juca, Mercadante se recusou a comentar a ofensiva de Marta. "O discurso do Juca fala tudo. Ele fez um belíssimo pronunciamento", esquivou-se.

 

‘Volta, Lula’. Ao Estado, Marta contou que articulou o movimento "Volta, Lula" com o aval do ex-presidente. De acordo com a senadora, Lula dizia que Dilma não ouvia ninguém e desejava ser candidato, mas preferiu não enfrentar a sucessora.

 

Para ela, Mercadante "mente" ao afirmar não ter intenção de disputar a Presidência, em 2018, porque "Lula é o candidato do coração da militância", como o ministro disse ao Estado em outubro e em dezembro.

 

A senadora também revelou ter enviado à Controladoria-Geral da União (CGU) documentos sobre irregularidades em parcerias de R$ 105 milhões, firmadas pelo Ministério da Cultura na primeira gestão de Juca. O ministro rebateu a acusação.

 

"Eu me senti agredido pela irresponsabilidade com que ela tratou uma pessoa honesta, com quase 50 anos de vida pública", respondeu Juca, que confessou ter sido admirador de Marta nos anos 1980. "Quando eu voltei do exílio, ela tinha um programa de TV e fiquei fã dela por sua coragem em defender a sexualidade feminina e o direito ao orgasmo, coisa que era um tabu", contou. "Depois, minha admiração cresceu quando ela foi prefeita. Mas ela não foi tão boa ministra."

 

No Planalto, ministros observaram que Marta nunca falou para Dilma o que disse na entrevista nem discutiu esse assunto internamente no PT.

 

Para Marco Aurélio Carvalho, amigo de Marta e coordenador do Setorial Jurídico do PT, as críticas da senadora não devem ser superdimensionadas. "O PT cresceu com as divergências e a história de Marta e do partido se confundem. Ela é um grande quadro, que merece nosso reconhecimento. Espero que tudo fique no campo do debate político."

 

A direção do PT vai buscar pontes de diálogo com Marta. Um dos cotados para a tarefa é o presidente do diretório paulista, Emidio Souza, que está em férias. Emidio deve conversar com a senadora e, caso seja confirmada a intenção dela de deixar o PT, pode ajudar a construir uma saída amigável - de preferência, para um partido aliado.

 

rasília - Com a provável saída da senadora Marta Suplicy (SP) do PT, partidos aliados da presidente Dilma Rousseff, como PMDB e PDT, e também da oposição, caso do PSB e do Solidariedade, disputam sua filiação. 

 

O objetivo é lançá-la candidata a Prefeitura de São Paulo em 2016. Em uma ação para tentar diminuir a influência do presidente do PMDB e vice-presidente, Michel Temer, a bancada peemedebista do Senado já fez um convite informal à petista. 

 

A oferta de filiação foi feita durante um jantar em dezembro na casa do presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), com seu grupo político. Feito o convite, Marta respondeu que estava avaliando a conjuntura política e que, àquela altura, não tinha conversado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seu futuro. Afirmou ainda estar “magoada” com o tratamento que tem recebido do PT. Mas ficou de dar um posicionamento aos presentes quando tomasse uma decisão. 

 

Uma eventual ida de Marta para o partido diminuiria o poder de Temer em São Paulo, seu berço político. A avaliação dos senadores peemedebistas é que o vice-presidente saiu fortalecido na reforma ministerial em detrimento das bancadas do Senado e da Câmara. Também creditam a Temer parte do fracasso por resultados eleitorais em outubro, como em disputas a governos estaduais. Articulam ainda um nome para suceder-lhe no comando do partido em março do próximo ano. 

 

Contudo, a ação dos peemedebistas do Senado esbarra em acertos locais. O PMDB paulistano já fechou apoio à reeleição do prefeito Fernando Haddad. O deputado federal e presidente do PMDB na capital, Gabriel Chalita, assumiu recentemente a Secretaria Municipal de Educação e deverá ser o vice de Haddad. Marta também conversou em dezembro com outro partido aliado, o PDT. 

 

Segundo relato do presidente da legenda, Carlos Lupi, ela demonstrou desconforto com o espaço limitado que tinha no PT e os dois ficaram de retomar o diálogo neste mês. A vantagem seria oferecer a ela uma plataforma mais à esquerda. Mas uma possível filiação passaria pela postura a ser adotada por Marta no Senado até o pleito. Como o PDT é da base de apoio da presidente Dilma Rousseff, ela não poderia atuar como oposição. No máximo, independência. 

 

 

Fora da base aliada, uma possibilidade para Marta seria o bloco PSB, Solidariedade e PPS. Na conversa com o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, ela ouviu que o bloco deve atuar junto nas eleições de 2016, o que lhe garantiria um bom tempo de televisão. No caso do PSB, a sondagem também já ocorreu, conforme relatos.