Em três dias no cargo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já imprimiu um novo ritmo e estilo aos trabalhos da Casa, que estava acostumada com o método mais suave do ex-presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e com o compasso mais vagaroso adotado no ano passado, com Copa do Mundo e eleições. O pemedebista já conseguiu aprovar numerosas iniciativas que desagradaram ao governo, e hoje terá sua primeira audiência com a presidente Dilma Rousseff. Cunha tem mostrado disposição para apressar as votações. Ontem, ao analisar a Medida Provisória (MP) 658/2014, rejeitou os pedidos para adiar e forçou uma negociação em plenário. Os deputados aceitaram o texto original da proposta, sem as mudanças feitas pela comissão mista. A PEC do Orçamento impositivo aguarda apenas o prazo de cinco sessões para ir a plenário, mesmo sem acordo. O pemedebista recebeu ontem um grupo de índios que queria a paralisação da PEC 215, que transfere a demarcação de terras indígenas para o Congresso. Cunha rebateu que vai instalar a comissão e que o grupo de deputados a favor dos índios deve se mobilizar para conquistar a maioria. Sob seu comando, as divergências serão decididas no voto, já alertava Cunha na época da campanha para o cargo. O ponto mais forte desse novo estilo foi a decisão de avocar para o plenário a decisão sobre a admissibilidade da PEC 352/13, da reforma política. O PT obstruía a votação na Comissão de Constituição e Justiça e o presidente decidiu usar o regimento para que o parecer fosse votado direto em plenário, para permitir a criação da comissão especial. Cunha decidiu que as negociações não serão intermináveis e as divergências serão resolvidas no voto. Acabou com as "missões partidárias" como justificativa para não comparecimento às sessões ordinárias. O novo presidente só aceitará como justificativa para abonar as faltas o que está previsto em lei: a licença médica ou ausência para cumprir missões da Câmara, como viagens de relacionamento com outros parlamentos. Cunha também avisou aos deputados que as sessões de quinta-feira serão à tarde, com registro de presença e "pauta intensa". Tradicionalmente as sessões de quinta-feira têm ocorrido de manhã, com projetos pouco polêmicos para que os deputados marquem presença e voltem para seus Estados antes do horário de almoço. O pemedebista agendou ainda uma sessão para a noite de segunda-feira, dia 9, para compensar o cancelamento de uma sessão na quinta-feira por conta do feriado do Carnaval. As faltas representam perda de salário e até do mandato. Só há dois casos de parlamentares cassados por não comparecimento às sessões: Mário Bouchardet e Felipe Cheidde, em 1989. No plenário, Cunha já imprimiu também seu estilo, diferente de Henrique Alves, que deixava os deputados falarem à vontade e dificilmente cortava a palavra durante discursos. O novo presidente tem apressado as discussões e, em apenas duas sessões, já bateu boca duas ou três vezes com os parlamentares. Um dos deputados que mais entende o regimento da Câmara, Cunha tem cobrado de quem pede uma questão de ordem que cite o artigo que embasa seu pedido. A exigência tem desconcertado tanto os novos deputados quanto os mais antigos.