Os três executivos da Camargo Corrêa presos na Operação Lava-Jato estão perto de fechar acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

Um dos principais entraves aos acordos já foi superado, segundo fontes diretamente ligadas à investigação e às ações da Lava-Jato.

Trata-se do total de propinas pagas pela empreiteira a políticos e funcionários da Petrobras no esquema de cartel revelado pela investigação federal.

Os acusadores insistiam para que os dirigentes da Camargo Corrêa assumissem a prática de corrupção com percentual de 5% sobre os contratos celebrados pela Petrobras com a empreiteira, no período de 2004 a 2014.

Mas os executivos estavam dispostos a confessar a culpa até o máximo de 2% dos contratos. Discordavam também do período de tempo em que as irregularidades aconteceram. Alegavam ainda que os ilícitos ocorreram principalmente no âmbito da diretoria de Abastecimento, como nas obras das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco e Repar, no Paraná.

As negociações evoluíram quando as duas partes cederam: os empreiteiros se dispuseram a confessar pagamento de propinas de até 3% nos contratos firmados com a estatal. O MPF teria concordado.

Outro ponto de discordância para concluir o acordo com o MPF é o valor a ser ressarcido.

Não existe imperativo legal que regulamente a situação sobre a multa, mas, na prática, ela virá tanto das pessoas físicas como da jurídica. Os investigadores levam em conta o patrimônio da empresa. A Camargo Corrêa Construções e Comércio teve receita líquida de vendas e /ou serviços de R$ 4,5 bilhões e lucro de R$ 412,4 milhões em 2013, segundo o balanço.

Um advogado que participou de reuniões com a Polícia Federal afirmou que ainda há entraves pendentes para o acordo. De acordo com este defensor, que falou sob condição de anonimato, a negociação avançou depois da prisão do ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. O ex-dirigente está preso sob acusação de corrupção e lavagem.

Segundo a fonte, a delação dos empreiteiros da Camargo Corrêa não será supervisionada pela especialista Beatriz Catta Preta, que atuou nas colaborações de Paulo Roberto Costa, do executivo do Grupo Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e do consultor Julio Gerin de Almeida Camargo. Neste caso, o processo teria a atuação de vários advogados.

O investigador responsável por negociar as delações com os representantes dos réus nega que a colaboração dos acusados da Camargo Corrêa esteja adiantada: "Não tem nada disso. Não tem nada encaminhado, nem 'apalavrado' nesse sentido", afirmou ao Valor o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa do MPF na Operação Lava-Jato.

Entretanto, Lima admite que conversas sobre uma eventual delação premiada com executivos vem ocorrendo. "Gostaríamos muito [que os acordos fossem firmados], mas de fato ainda não aconteceu".

Dalton dos Santos Avancini, presidente da construtora Camargo Corrêa, João Ricardo Auler, membro do conselho de administração da construtora e Eduardo Hermelino Leite, vice-presidente comercial da Camargo Corrêa, estão em prisão preventiva desde 15 de novembro do ano passado.

Segundo a acusação formal do MPF, a propina nas obras da Petrobras chegaria a 5%, sendo 3% na área da Abastecimento - divididos entre PT, PMDB e PP, partido responsável por indicar Paulo Roberto Costa à diretoria de Abastecimento em 2004, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). PT e PMDB receberiam mais 1 % cada, sobre contratos firmados com as diretorias de Serviços e de Internacional, respectivamente, durante as gestões de Renato Duque, suspeito de corrupção e do réu Nestor Cerveró

O presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, começou a negociar os termos da sua delação premiada na semana passada, dizem fontes ligadas à operação.

Alberto Toron, que o defende, diz que as conversas estão "em estágio inicial" e sendo conduzidas por Antonio Figueiredo Basto, que defende Youssef. De acordo com Toron, não houve discussão em torno do percentual da multa a ser paga por Pessoa.

Acusado de ser o coordenador de um "Clube Vip" de empreiteiras que teria se apoderado dos contratos com a Petrobras, Pessoa começou a aceitar a possibilidade de se auto acusar ainda no ano passado.

Empreiteiros da Camargo Corrêa e da UTC figuram como réus na mesma ação penal que tramita na 13ª vara criminal da Justiça Federal de Curitiba.