Título: Negócios nebulosos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 13/07/2011, Política, p. 3

A Engeponte Construções LTDA., empresa citada como exemplo de negócio nebuloso com o governo pelo senador José Agripino (DEM-RN) durante o depoimento de Luiz Pagot no Senado, aumentou 51 vezes o valor dos seus contratos com o governo federal. Em 2008, ano do primeiro registro de pagamentos no Siafi, a empresa recebeu R$ 106 mil da Fundação Nacional do Índio. Em 2010, foram R$ 5,5 milhões só do Dnit. Os recursos foram destinados à construção de trechos do vetor logístico Centro/Norte e rodovias da região. Este ano, a Engeponte já faturou R$ 2,9 milhões.

O senador do Democratas ressaltou os "laços de família" entre a Engeponte e o chefe do Dnit em Mato Grosso, Nilton de Brito. De acordo com a Junta Comercial de Mato Grosso, a Engeponte foi constituída em 17 de julho de 2002 e hoje tem como sócio-proprietários Milton de Brito (95%), irmão de Nilton, e Luiz Flávio Alves de Brito. A alteração mais recente no quadro societário foi feita no ano passado. O capital social da empresa é de R$ 6,5 milhões.

Pagot defendeu Nilton e destacou que ele é um funcionário de carreira. O superintendente do Dnit em Mato Grosso é lotado na antiga Secretaria de Transportes e Pavimentação do governo estadual, pasta chefiada por Pagot durante o governo Blairo Maggi. Assim que assumiu o Dnit, Pagot nomeou Nilton para a coordenação de projetos e, em seguida, para a superintendência do órgão.

Sobrepreço Auditoria recente do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta irregularidades graves nas obras de construção da BR-158, divisa do Pará com Mato Grosso, tocada pela Engeponte. A empresa é responsável pela pavimentação. Os técnicos afirmam que houve sobrepreço de 41% na compra de aço. "Ocorre que, segundo levantamento realizado pela equipe de auditoria, 71,5% do quantitativo de aço CA-50 utilizado nas armaduras do Contrato nº 874/2009 tem bitola superior a 10mm. Tal fato faz com que o custo real do serviço seja significativamente inferior ao custo da composição padrão do Sicro, uma vez que, em geral, quanto menor a bitola do aço, maior seu custo", indica documento da auditoria.

O relatório também mostra que foram feitas modificações na obra sem a aprovação da Coordenação-Geral do Dnit e em desacordo com o projeto. "A alteração causa aumento no quantitativo de insumos e serviços, aumentando o valor contratado," afirmam os auditores. A reportagem não conseguiu localizar Nilton nem Milton.