Título: Pagot se mantém fiel ao script
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 13/07/2011, Política, p. 3

O diretor afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot, desmontou, em cinco horas de depoimento, todas as versões veiculadas por seu partido ¿ atribuídas a ele mesmo ¿ de que envolveriam o ministro das Comunicações, ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nas negociações de aditivos contratuais nas obras em rodovias federais.

Também negou que esses aditivos tenham sido utilizados para financiar caixa de campanha do PR ou da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010.

Afirmou que todas as ações do Dnit foram acompanhadas pela Controladoria-Geral da União e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Estou perplexo", resumiu o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Pagot confirmou encontros com Paulo Bernardo durante as reuniões do Comitê Gestor do PAC. "O ministro nunca me exigiu ou pediu qualquer coisa relativa a alguma obra tocada pelo Dnit. Nunca", afirmou. Segundo Pagot, ele jamais insinuou isso ao longo dos últimos dias. "Tudo não passa de invencionices e factoides. Eu tive a oportunidade de trabalhar com o ministro do Planejamento e sei da sua correção", afirmou.

Em relação à presidente Dilma Rousseff, Pagot foi escorregadio ao confirmar a reunião na qual a presidente disse que a "cúpula do Ministério dos Transportes tornava seu governo insustentável e que a pasta teria, daqui para frente, três babás: ela própria, a chefe da Casa Civil, ministra Gleisi Hoffmann, e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti". Pagot preferiu escapar pelo estilo Dilma de gerenciar. "A presidente costuma ser enérgica e veemente na hora de cobrar resultados."

A pessoas próximas, o diretor afastado do Dnit declara que "foi a pior reunião que teve com a presidente" e reclama que a maior parte das queixas foi direcionada à Valec ¿ estatal do setor ferroviário ¿ não ao Dnit. Ao término do depoimento de ontem, Pagot disse que não poderia responder sobre eventuais acusações de desvios na Valec. "Eu posso falar sobre o Dnit. Quanto à Valec, espero que o Congresso chame o Juquinha (José Francisco das Neves) para apresentar sua versão", disse.

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), alertou que Pagot estava diante de uma boa oportunidade para defender-se das acusações de corrupção em que se via envolvido. Lembrou que o momento atual é ruim para o PT e para o governo, após a demissão do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, a retomada do escândalo dos aloprados e a denúncia ao Supremo Tribunal Federal, pelo procurador-geral da República, dos 36 réus do mensalão. Ele questionou se Pagot de fato encontrava-se com lobistas em um hotel de Brasília. "Não. No hotel eu recebia amigos, amigas, não lobistas." Ele disse que já havia mudado de hotel uma vez quando soube que seu endereço anterior era frequentado por representantes de empreiteiras.

Silêncio O parlamentar demista mostrou ceticismo. "Para mim, está muito claro. O governo negociou com Pagot para ele ficar calado. Assim, garante que as investigações contra ele não chegarão a lugar nenhum", lamentou Maia. Ele não acredita, contudo, na possibilidade de criação de uma CPI para investigar atos de corrupção no Dnit. "Não temos número para isso. Mesmo que consigamos 30 assinaturas (são necessárias 27), o Planalto vai colocar seu rolo compressor para que os senadores retirem as assinaturas", completou.

Pagot foi enfático ao atacar o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, que afirmou no início da semana que o Dnit tem o DNA da corrupção. "O Dnit tem o DNA do bem, é composto por trabalhadores abnegados que, quando estão no limite, trincam os dentes e continuam trabalhando." Sobre seu futuro, o ex-diretor do Dnit preferiu ser cauteloso. "Eu não sei se fico no governo ou não. Trabalho desesperadamente para que a gestão Dilma dê certo. Mas se voltar para a iniciativa privada, levarei comigo a minha capacidade para o trabalho", resumiu.