Cotado até para assumir a presidência da Petrobrás, o economista Luciano Coutinho continuará no comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O convite foi feito pela presidente Dilma Rousseff antes do carnaval, mas somente nesta quinta-feira ele foi confirmado no cargo. O anúncio era aguardado desde que Dilma deslocou Aldemir Bendine do Banco do Brasil para a Petrobrás.

Em comunicado interno distribuído aos funcionários do BNDES nesta quinta-feira, Coutinho definiu o convite para permanecer no cargo como uma “demonstração de confiança”. “Tenho certeza de que, juntos, seremos capazes de ultrapassar com qualidade e eficiência os novos desafios que temos pela frente”, afirmou Coutinho, no comunicado a que o Estado teve acesso.

Com a confirmação no cargo, Coutinho completará, em maio oito anos à frente do BNDES. Caminha, assim, para tornar-se o mais longevo no cargo - está atrás apenas de Marcos Vianna, falecido em 2012, que ocupou a presidência por oito anos e sete meses, de 1970 a 1979.

A saída de Coutinho foi desenhada após as eleições, quando Dilma anunciou mudanças na equipe econômica. O perfil de BNDES até então adotado não se adequava às novas regras propostas pela dupla Joaquim Levy e Nelson Barbosa, que passaria a comandar a economia do País, com ideia em corte de gastos e fechamento das torneiras de financiamento público com juros subsidiados.

 

 

Presidente do BNDES desde 2007, Luciano Coutinho aceitou o convite para continuar no cargo. Oficialmente, ele não é vinculado a nenhum partido, mas já foi pemedebista e filiado ao PSB.

Presidente do BNDES desde 2007, Luciano Coutinho aceitou o convite para continuar no cargo. Oficialmente, ele não é vinculado a nenhum partido, mas já foi pemedebista e filiado ao PSB.

 

 

Desconforto. Apesar de Coutinho defender mudança de perfil no banco, com menos aporte de recursos do Tesouro à instituição, havia uma certa resistência de Dilma à ideia e, por isso mesmo, os dois já haviam divergido, de acordo com interlocutores da presidente. Coutinho já havia manifestado esse desconforto a Dilma.

Apesar da contenção de gastos proposta por Levy, Dilma queria que o BNDES continuasse a ser uma das molas propulsoras da economia, com oferta de financiamento a grandes empresas, como foi feito nos último anos.

Dentro desse cenário, a ideia era colocar Bendine no comando do BNDES. Só que a crise da Petrobrás atropelou Dilma, que preferiu deslocar o ex-presidente do BB, mais afinado com suas ideias, para a estatal de petróleo. A partir daí, a permanência de Coutinho, que ficaria no banco, a princípio apenas para conduzir a transição de comando e de perfil da instituição, começou a ser cristalizada.

O distanciamento entre Dilma e Coutinho começou em meados de 2013, quando Dilma destituiu seu braço direito do BNDES, João Carlos Ferraz, para substituí-lo por Wagner Bittencourt, ex-ministro da Aviação Civil e homem de sua confiança. O desconforto prosseguiu quando houve o leilão das ferrovias e Coutinho não foi consultado sobre os juros fixados para a concorrência.

Depois, a queixa continuou com o fato de Coutinho ter de prosseguir no cumprimento da orientação do governo federal de ampliar a concessão de empréstimos subsidiados, na tentativa de estimular a economia. Mas, apesar de todos esses desentendimentos, Coutinho acabou sendo mantido no cargo.

 

Mercado apostava saída. Uma eventual saída de Luciano Coutinho da presidência do BNDES era especulada há tempos, mas o executivo não chegou a receber indicações formais, por parte do Planalto, de que deixaria o cargo. Segundo uma fonte próxima à cúpula do banco, nos últimos meses, mesmo com as especulações, Coutinho seguia recebendo demandas de Dilma.

 

Para o mercado, a saída de Coutinho fazia sentido com a chegada de Joaquim Levy ao Ministério da Fazenda. Ligado a um dos principais centros acadêmicos da economia desenvolvimentista do País, a Unicamp, muitas ideias do presidente do BNDES são opostas às de Levy, doutor pela Universidade de Chicago (EUA), de tendência liberal. 

 

Na primeira entrevista após ter ser oficializado, no fim de novembro, Levy sinalizou o fim, ou pelo menos a moderação, dos aportes nos bancos públicos.

Dias depois, Coutinho deu entrevista às pressas para comentar mais um aporte do Tesouro no banco, de R$ 30 bilhões. Na ocasião, o presidente do BNDES anunciou o aumento de taxas e a moderação nos empréstimos - que seriam detalhadas por ele mesmo, dias antes do Natal.