O Banco Central da China injetou recursos no sistema financeiro durante praticamente todas as semanas de 2015 até agora, reduziu compulsórios bancários e fez agora o segundo corte de taxas de juros em três meses. Esse ativismo é sinal de que, deixada ao sabor da inércia, a economia do país vai se desacelerar mais do que anseiam os dirigentes do Partido Comunista no poder. Após encerrar 2014 com expansão de 7,4%, a menor desde 1990, a China deverá crescer 6,8% em 2015, segundo estimativas de analistas privados e organismos multilaterais. Sem uma dose de estímulos, a contração pode ultrapassar esses limites.

O BC tentou um aperto nas condições de crédito no ano passado, para inibir o temível desenvolvimento do sistema bancário paralelo e desestimular investimentos improdutivos em um sistema imobiliário já com excesso de oferta. Mas voltou atrás aos primeiros sinais de que a reação da economia poderia ser mais adversa do que o esperado, com possíveis quebras em série. Em 2015, mudou a mão de sua política. Dessa forma, em janeiro, a concessão de crédito aumentou 17,7% em relação a dezembro, passando a 2,05 trilhões de yuans (US$ 327,5 bilhões).

O recuo no aperto monetário é uma tentativa de o BC se equilibrar entre pressões contraditórias na economia. O alívio no crédito acaba de alguma forma alimentando bolhas de ativos e, no caso chinês, ela é demasiadamente concentrada no setor imobiliário e agregados, que hoje têm participação de 25% no PIB. Da mesma forma, o dinheiro acaba sendo dirigido pelos grandes bancos estatais aos governos estaduais e municipais, que foram os principais canais do boom imobiliário e do endividamento excessivo que agora preocupa o governo. As dívidas aumentaram 100 pontos percentuais desde 2007, ano anterior à crise financeira, e encerraram 2014 em 242% do PIB, ou cerca de US$ 36,5 trilhões.

Ao fornecer liquidez suficiente à economia, o governo prolonga artificialmente as condições que sustentaram o boom imobiliário. O objetivo não declarado é evitar o estouro da bolha no setor, que até agora não ocorreu. Os preços dos imóveis caíram pouco mais de 4% em dezembro em relação ao mesmo mês de 2013, enquanto que os estoques de unidades não vendidas continuava crescendo em janeiro. Os investimentos em geral, porém, estão desabando, dado à superoferta em grande parte dos setores da economia. A taxa de lucro das indústrias recuou de 12,2% a 3,3% de 2013 para 2014 e a produção está em contração.

A equação monetária tem agora de combater o grave risco de deflação. Em fevereiro, a inflação ao consumidor cresceu 0,8% em doze meses. Os preços dos produtos industriais, que caíram 4,3% em janeiro, amargam 36 meses consecutivos de queda. Com o alto nível de endividamento, a deflação elevou os juros pagos que, deflacionados pelo índice de atacado, ultrapassaram os 10% em janeiro, segundo o Credit Suisse. Foi para arrefecer esta alta que o BC reduziu em mais 0,25 ponto percentual a taxa de juros de um mês, para 5,35%.

O grande temor quanto à evolução da economia chinesa continua a ser uma desaceleração mais rápida do que a prevista. O governo sabe o que não deve fazer – outro megapacote de estímulos, semelhante ao que evitou um mergulho com a crise de 2008. Mas ele está envolto em uma mudança de modelo de crescimento – das exportações e dos investimentos para o consumo doméstico. Acostumado a investir o equivalente a 50% do PIB, uma retração acentuada dos investimentos poderá não ser acompanhada simultaneamente de salto compensatório no consumo. A transição certamente será dará com taxas mais baixas de expansão mas, para os objetivos do PC, elas não poderão ser muito baixas, o que em termos chineses seriam algo como 5% ou menos.

A guinada na economia terá pelo visto de esperar mais um pouco. O governo chinês têm armas para evitar o pior. Até agora, o déficit fiscal diminuiu e chegou a 1,78% do PIB em 2014, quando a intenção oficial era mantê-lo em 2%. Há espaço para elevar o déficit, embora a arrecadação tenha pela primeira vez em muitos anos crescido abaixo dos dois dígitos no ano passado. O endividamento dos governos não é alto (cerca de 45% do PIB). Mas com o viés de baixa na segunda maior economia do mundo, ações erradas ou tardias do governo chinês poderão abalar a lenta recuperação global.