Adesaceleração da economia teve reflexos sérios na geração de empregos no país. Em janeiro, 81.774 vagas formais de trabalho foram fechadas, o pior resultado para o mês desde 2009, quando o saldo negativo foi de 101,7 milhões, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O comércio foi o principal responsável pela demissão de 97,8 mil pessoas com carteira assinada. A área de serviços dispensou 7.141 empregados. Em contrapartida, a indústria de transformação voltou a contratar, após oito meses consecutivos de cortes, com 27.417 postos de trabalho criados. E a agricultura gerou 9.428 vagas. Apesar de todos os dados já divulgados sobre a atividade econômica e contrariando a expectativa de analistas, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, afirmou que o Brasil mantém o nível de crescimento e vai haver melhoras no emprego ao longo do ano. “A construção civil vai receber investimentos da ordem de R$ 64 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o Programa Minha Casa, Minha Vida; e a indústria naval também receberá em torno de R$ 18 bilhões. Isso significa geração de emprego. Estou otimista”, enfatizou. Na opinião dele, as medidas do governo, que preveem corte de gastos de R$ 75,155 bilhões até abril, vão ajudar na oferta de vagas. “O ajuste fiscal é justamente para isso. Vai restabelecer a dinâmica da economia e a confiança no país. Com isso, haverá expansão do emprego. Não vejo dificuldades”, assinalou Dias.

Outras lentes

Os analistas do mercado enxergam a situação do emprego este ano com outras lentes. O quadro não é nada animador. Para o economista Alex Agostini, da Agência Austin Rating, o rompimento do ciclo de alta empregabilidade vem sendo anunciado há tempos e o resultado negativo de janeiro era esperado. “Diante das perspectivas ruins para a economia em 2015, com a queda do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país), efeito dos juros altos e do acerto monetário dos Estados Unidos, as expectativas são bastante negativas. Muita gente poderá perder o emprego”, alertou. Agostini ressaltou que, apesar abertura de novos postos de trabalho nas fábricas, o setor vem sofrendo com a concorrência externa e com a falta de incentivos. “Hoje, a indústria sofreu mais um golpe, com o retorno da alíquota sobre a folha de pagamento” — previsto na Medida Provisória nº 669, publicada ontem no Diário Oficial da União (DOU). O mais grave, na opinião dele, no entanto, é que o setor de serviços começou a cortar emprego, pelo encarecimento dos preços. E o comércio varejista também. “O desemprego contaminou todos os segmentos”, analisou. O economista- chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, compartilha da mesma opinião. Ele chamou a atenção para o fato de a queda no emprego já não estar mais concentrada na indústria e afetar setores antes protegidos. “Houve queda no consumo das famílias e os resultados do Caged que estavam descolados dos apresentados pela Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, agora vão começar a convergir”, sinalizou. Como algumas pessoas na família poderão perder a vaga e a renda, as que estavam estudando vão começar a demandar emprego. “A população economicamente ativa (PEA) tende a aumentar. A redução do número de vagas vai também repercutir nas negociações salariais. Os reajustes tendem a ser menores”, disseVelho. Em 2014, o Brasil gerou 396.933 novos empregos com carteira assinada, um recuo de 64,4% em relação às 1.117.717 vagas de 2013 — o pior resultado desde 1998, quando foram criadas 387.207 vagas. Segundo Manoel Dias, há questões sazonais que explicam a redução de vagas em janeiro — no mês, foram admitidos 1.600.094 e desligados 1.681.868 trabalhadores. “Os setores que tradicionalmente demitem , por questões como o fim do período de férias, foram os que mais perderam vagas”, explicou. Dias ressaltou ainda que, nos últimos 12 meses,houveaumentode245.996 postos, alta de 0,6%. Apenas duas regiões expandiram o nível de emprego, no mês: a Sul, com 29.688 postos, alta de 0,40%, e a Centro-Oeste, com 1.208 (+0,04%). Tiveram desempenhos negativos o Sudeste, que cortou 69.911 vagas (-0,32%); o Nordeste, 32.011 (-0,47%); e o Norte, 10.748 (-0,55%). Entre os estados, quatro elevaram o nível de emprego: Santa Catarina (114.637 postos, +0,72%), Rio Grande do Sul (8.338 , +0,31%), Paraná ( 6.713, +0,25%), e Mato Grosso (6.316 postos, +0.95%). O Rio de Janeiro, com a dispensa de 40.658 empregados (-1,04%), foi o estado com maior redução de vagas, devido particularmente à queda expressiva nos setores de comércio e serviços.